Onde os mapas não alcançam

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Chuva calma, trovões reverberantes cobrem o vale a distancia, mas nada que impeça o rubro homem lenhador de cortar as árvores para aquecer suas crianças na noite fria que se aproxima. Sua barba e cabelos grisalhos entregam sua verdadeira idade apesar da boa forma e tamanha disposição, voltado a sua tarefa sem desviar os olhos de seus filhos a beira do rio ele segue com fortes estocadas de seu machado em um carvalho negro. Lobos uivam pela mata, a noite cairá em breve, coberto por uma Pele de urso o homem finalmente termina de cortar a pequena arvore que ao cair faz um estrondo com o impacto, separando as partes para fazer a lenha ele sorria e perguntava aos seus filhos que se aproximavam correndo após ouvirem os lobos.

— O que é isso, onde estão meus ferozes caçadores? Hahahaha.

— Nossa muito engraçado Pai, "hahaha".
respondia Dorian Kraven, o mais velho dos irmãos enquanto caminhava rumo ao Condado-Carmarção.

— Pai o senhor acha que um dia eu vou caçar lobos igual você? Lucio perguntava ao seu pai que zombava dele.

— Se você não ficar careta igual ao Dorian, e se dedicar muito, talvez vire carpinteiro no futuro o que acha hã? Damian Kraven, desconversava sobre ser caçador com seus filhos por mais que houvera sido no passado...

— Papai vamos voltar, ja ta ficando escuro. A mais nova dos três dizia puxando a pele de urso que cobre seu pai.

— Claro querida vem, vou colocar a mochila com a lenha e você sobe e segura no papai.

— Ta bom.
respondia a pequena Karoline Kraven.

Em destino ao Condado os 4 seguiam, Dorian o mais velho dos 3 era o primeiro, suas habilidades na arquearia eram risórias mesmo assim ele o empunhava com a convicção de um caçador nato, Lucio o do meio ficava logo atrás de seu irmão, não portava armas além de uma funda fabricada a mão por seu pai, com a bravura de mil homens ele recitava todas as noites os ensinamentos dos caçadores por mais que soubesse que seu pai nunca permitiria que ele se tornasse um, em ultimo e carregando a caçula Kraven consigo, Damian Kraven, um ex-caçador, lenhador e carpinteiro em Carmação, suas habilidades são notáveis e seu nome respeitado em muitos cantos, próximos ao Condado a garoa logo se tornou uma tempestade, chuvas fortes e ventos avassaladores cortavam o bosque, agora ainda mais escuro.

— Estamos perto andem logo, rápido, rápido!!
Apressando os 2 garotos Damian olhava em volta preocupado, a névoa rasteira se propaga lentamente pelo bosque.

— To muito cansado pai, não consigo mais andar minhas pernas tão doendo demais.
Reclama Lúcio encharcado e ensopado por escorregar a cada poça d'agua que aparece em seu caminho.

— Um caçador que não consegue caminhar pela floresta, é isso mesmo que você quer ser?! Seja homem Lúcio, use essas pernas, você consegue vamos.
Damian era um pai amoroso e um homem justo mas também muito rígido na criação de seus filhos.

Com os pés afundados em lama, Lúcio olha seu reflexo numa poça d'agua, enchendo seus pulmões e cerrando as sobrancelhas se levanta com toda convicção que ao peito cabe, caminhando firmemente com a chuva torrencial que caía sobre eles. De cabelos molhados, botas inundadas e roupas em charco, Dorian Kraven em meio a tempestade seguia a trilha que conhecia desde que tinha apenas 4 anos, se prestando a frente dos demais com um lampião em mãos, Dorian iluminava a trilha a noite, na distancia as luzes das casas perfurando floresta eram como uma penumbra. A beira de Carmação sob a velha ponte de pedra Dorian se põe como o ultimo em trilha, para iluminar as fendas nas rochas, o rio subiu muito seu nível, as águas antes calmas e claras agora severas e sujas, com força avassaladora arrastam morros abaixo, passando com arvores inteiras debaixo da ponte, o sopro do vento veloz e voraz, retorcia cedros e castanheiras tão facilmente quanto torcer um tecido molhado.
A densa névoa rastejante agora por toda parte empunha medo ao coração de Damian que temia por seus filhos, a familia Kraven corria o mais rápido possivel sob a ponte e Dorian vinha logo atrás.

— Vão andem logo, o lampião ja ta quase apagando, merda, merda, que porra é essa paaiii???!!!!

— DORIAN CUIDADO FILHO, NÃO...

Um grande Cedro descendo feito um ariete de batalha pelas águas turvas e violentas do rio atinge em cheio a lateral da ponte, que debilitada pelo tempo foi incapaz de aguentar o impacto e cedeu a pressão da enchente em meio a tempestade a ultima visão de Dorian antes de afundar em direção a morte certa, foi o despero nos olhos de seu pai, que nada pode fazer para ajuda-lo.

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