Meu Raio de Sol

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Ravi acaba de chegar ao café onde eu o espero para nosso encontro. Vamos comer alguma coisa, então iremos ao cinema e possivelmente jantar depois, em algum restaurante do shopping mesmo. Aproveitamos todas as oportunidades de fazer refeições juntos porque adoramos a companhia um do outro ao compartilharmos a mesa. Comer era apenas a desculpa perfeita. O meio utilizado para desfrutarmos de mais um momento juntos.

Ele não tem ideia de quanto gosto de observá-lo enquanto come. É muito espontâneo e natural, come com gosto e dá para notar que de fato está saboreando o alimento, não só matando a fome. É uma cena linda de ver. Seu sorriso, seus olhos brilhando é algo de outro mundo. Mesmo a comida mais simples na frente dele se transforma em um banquete. E entre uma garfada e outra, sempre lança um olhar tão profundo para mim e sorri de um jeito tão acolhedor que consigo sentir sua alma. Tudo que posso fazer é amá-lo ainda mais e sorrir de volta. Fico me perguntando como caberá em meu peito tanto amor depois de compartilharmos a refeição pela vida inteira. 

Eu ainda não pedi nada, esperando meu namorado. Não faz nem cinco minutos que me sentei à mesa no jardim de inverno. Vejo-o se aproximar, contornando graciosamente as mesas e abrindo caminho através do mar de clientes - não tinha sequer uma mesa vaga no salão naquela tarde, e o mezanino também estava praticamente todo ocupado. Já a nossa mesa - sempre que íamos ao café, a ocupávamos, então já considerávamos nossa - só não estaria livre se, de fato, o local estivesse com a lotação máxima. Por ser privada e mais distante do balcão e da cozinha, ela era evitada por muitos, porém era a melhor escolha para nós.

Ravi vem em minha direção todo sorridente, o sorriso mais lindo do universo todinho! Eu sinto meu coração acelerar observando-o através do vidro. É sempre assim, desde que começamos a namorar. Desde antes disso, na verdade. Eu me via buscando seu sorriso entre a multidão, esperando, ansiando por ele.

Acho que foi desde aquela vez em que ele apareceu do nada na empresa, há quase dois anos. Já me paquerava há alguns meses, mas não queria me envolver romanticamente com ninguém naquela época. Meu divórcio era recente, menos de seis meses antes eu ainda era casada com um homem que amei profundamente por mais de dez anos. Embora já não fosse um amor apaixonado nos últimos tempos da relação, o carinho ainda era grande. Contudo, após as sucessivas traições, eu já não suportava mais fingir ignorância nem aguentava a ideia de odiá-lo, o que acabaria acontecendo se permanecêssemos juntos. Então simplesmente pedi o divórcio.

Entretanto, alguns meses depois, um homem dez anos mais jovem que eu insistia em permanecer ao meu lado - mesmo eu sendo clara e decidida: não queria namorar ninguém naquele momento. E com certeza não queria namorar um cara tão mais novo. Mas quando ele chegou na empresa de surpresa para me convidar para ser sua parceira em um novo empreendimento, com aquele sorriso resplandecente que enchia o ambiente de luz, eu percebi que, na verdade, ele enchia de luz também o meu coração, e o aquecia ternamente.


Você é meu raio de sol, meu único raio de sol

Você me faz feliz quando o céu está nublado


Desde então, cada vez que o via, meu coração sentia uma onda de calor e saltava involuntariamente no peito, mas eu continha  toda a agitação e meus olhos não refletiam toda aquela inquietude. Nem quando finalmente me rendi a seus encantos e começamos a namorar, há um ano e meio, eu mostrava exteriormente o que se revolvia dentro de mim.

E aqui estou eu, nessa tarde de sábado, sentindo o mesmo pulsar, a mesma euforia e o mesmo tum-tum descompassado do coração, vendo-o já há menos de dez passos de distância de mim. Mas ele não vê, não sabe o que causa em mim - ao menos, espero que não. Escondo porque tenho medo. Medo de que se eu mostrar, se deixar que ele veja, possa perder o calor daquele sorriso e voltar a sentir frio. Acho que é a insegurança da qual não consigo me livrar. Talvez por causa do divórcio. Ou da minha idade. Às vezes me sinto velha demais. E tenho medo de colocar o medo em palavras.


Por favor, não leve meu raio de sol embora


Mas hoje... hoje está mais difícil, não sei o porquê. É o mesmo café de sempre, o mesmo programa de praticamente todos os sábados. Sim, há algumas variações, mas esse é nosso lugar favorito para começar um encontro: um belo jardim de inverno, privacidade para conversar, música ambiente, um café delicioso com comidinhas também deliciosas. Então, vejo aquela cena ao menos uma vez por semana: Ravi se aproximando de mim com um sorriso estonteante no rosto. Eu devia estar acostumada.

Ainda assim... sinto a urgência de que a curta distância vire uma distância inexistente em milésimos de segundo.  Sinto que o tum-tum está tão alto que dá para ouvir meu coração batendo fora de mim. Esboço um sorriso e percebo que, daquela vez, aquela onda de felicidade e emoção está, sem sombra de dúvida, irremediavelmente, refletida em meus olhos. Sei disso porque meu namorado sorri de maneira ainda mais esplendorosa e alcança a porta com uma passada só.  

Rapidamente ele me alcança e me levanto para abraçá-lo. Nossos abraços são sempre os melhores. Intensos, sem reservas, cálidos, aconchegantes, protetores, reconfortantes. Lembro-me de uma vez, ainda no começo do namoro, quando nos encontramos um dia por acaso no metrô, os dois tão ocupados que sequer tínhamos tempo um para o outro direito. Naquele dia, foi a primeira vez que percebi que um abraço poderia recarregar nossas energias e nos dar um ânimo totalmente renovado!

Eu o aperto mais forte entre meus braços, deixo minha cabeça descansar em seu ombro, fecho os olhos e solto levemente a respiração, sussurrando em seu ouvido: eu te amo. Mas ele nunca entenderá completamente, eu acho... o real significado e a intensidade dessas três palavras!


Você nunca saberá, querido, o quanto te amo

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