Renascido

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Com dificuldade abri os olhos, pareciam estar pesados, como se eu houvesse dormido por dias, passei a língua entre os dentes, senti um gosto amargo, de ferrugem, a garganta seca e o peito pesado, mal conseguia respirar. O ar parecia entrar com dificuldades no meu sistema respiratório, meus braços e pernas estavam imóveis, deitado de bruços sobre uma superfície dura e aparentemente molhada. Fazia frio, eu tremia incessantemente, mesmo suando muito, sentia que estava paralisado, sem forças para me mover. Consegui deslocar alguns centímetros o meu pescoço, e mesmo com a visão turva, pude notar que o local se tratava de um corredor, com instalações elétricas, encanamentos, dutos de ar e alguns móveis jogados. Tudo aparentemente abandonado, esquecido no tempo, como se tivesse ali a anos sem qualquer alteração. Ouvi barulhos de goteiras, ecoando atrás de mim, de aparelhos elétricos ou algum tipo de gerador, que parecia não estar funcionando corretamente, pois a luz no corredor estava piscando, as vezes demorava alguns segundos para voltar, e isso dificultava que eu visse muita coisa além.
Estava quase certo que se tratava de um hospital abandonado. A cor das paredes, o teto, as placas nas portas que seguiam uma numeração. A mais próxima de onde eu estava, "21", do lado esquerdo, um pouco mais a frente estava a "22", do lado direito, e ainda sucessivamente.
Com muito esforço, me virei de costas para o chão, arrastei-me até a parede e escorei as costas nela. Notei que minhas pernas estavam formigando, como se o sangue não circulasse como deveria. Dobrei os joelhos, e senti uma dor imensa, como se os nervos e ossos estivessem sido descolados. Eu pude notar que estava vestido com camisola de hospital, meus braços estavam arranhados e com marcas de injeção, roxos e repletos de hematomas. Os pés e mãos ressecados, com as unhas enormes, senti a barba coçar no pescoço, os cabelos caíam sobre os olhos, me senti sujo, fraco, a cabeça estava girando, doía como se estivesse sendo martelada.
Em meio a tanta dor, dúvidas e um sentimento de medo misturado com insegurança, consegui me mover lentamente até uma cadeira de rodas que estava há alguns metros a frente, e quando fui me segurar nela para subir, notei que havia uma identificação no meu pulso, uma pulseira branca contendo informações.

Dizia:

Paciente: Ezequiel
Idade: 23
Natureza: Híbrido

Andei pelos corredores, e vi que tudo foi deixado para trás, como se houvesse sido evacuado às pressas, sem nada importar. Passei pelas portas de emergência, cheguei no que parecia uma recepção, abri alguns armários e gavetas a procura de algo para comer e beber, não havia nada naquele lugar, e eu precisava comer senão iria desmaiar novamente, precisava de forças.
Encima de um balcão velho, ratos roíam o que restava da madeira, tentavam sobreviver assim como eu. Me aproximei, observei por alguns minutos, receoso. Levei o braço até o balcão, e agarrei firme um dos desgraçados, ele gritava, o que espantou o restante, e eu não tinha escolhas. Levei até a boca, senti o cheiro e vomitei imediatamente, o suco gástrico do meu estômago queimou minha garganta, então tomei coragem, novamente aproximei aquele bicho nojento da minha boca, e sem pensar muito desta vez, arranquei um pedaço e engoli sem mastigar. Depois, me abaixei até uma poça de água no chão, deixada pelas goteiras, e bebi.

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⏰ Última atualização: Sep 20, 2023 ⏰

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