Capítulo Um

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VOCABULÁRIO DE ALTO VALIRIANO

Kepa - Pai



Quando sua consciência lhe retornou, a Princesa de Pedra do Dragão sentiu as costas descansando contra uma superfície macia e agradável. Mil visões _ memórias, lembranças, um vislumbre do futuro? _ espiralavam atrás de seus olhos fechados enquanto ela se esforçava para compreender seu estado presente.

_ Vamos, querida _ Uma voz de timbre grave e familiar sussurrou de algum lugar próximo dela. Soava rouca com aflição. _ Está na hora de acordar. Não continue preocupando seu velho kepa.

Kepa. Uma palavra que trazia tanto amor e carinho consigo, uma que ela costumava enunciar com frequência durante a infância. Ao ouvi-la, Rhaenyra sentiu-se nostálgica, e lembrou-se de suaves olhos violeta que costumavam observá-la com afeição cálida.

Fazia tanto tempo que ela não dizia aquela palavra_ desde que era uma menininha. Ela tentou mover os lábios, libertar a voz de sua garganta seca e dolorida. Apenas soube que havia dado certo quando a pessoa ao seu lado exclamou:

_ Oh, graças aos Sete! Veja, Alicent, ela está acordando!

O nome a fez abrir os olhos de súbito, e o alarme a consumiu.

_ O quê... _ ela balbuciou, a voz um tanto trêmula. Piscou contra a luz do ambiente, adaptando-se lentamente, até que enfim conseguiu identificar a figura que pairava ansiosamente sobre ela. _ Pai?

Viserys soltou um suspiro pesado, como se houvesse prendido a respiração por um longo tempo. Seu rosto gentil emoldurado por lisos cabelos pálidos e sua coroa dourada aproximaram-se do campo de visão da princesa, que vacilou ao tentar se sentar sobre a cama_ onde ela havia sido depositada, a superfície macia que ela sentira sob si.

_ Oh, minha querida _ ele disse, os olhos úmidos. _ Você nos assustou terrivelmente.

Franzindo o cenho em meio à própria confusão, ela tentou recordar-se de como havia parado naquela cama cheia de travesseiros de penas, dentro de uma tenda ampla decorada em tons de rubro e negro. As imagens que brilhavam no fundo de sua mente não pareciam relacionar-se de nenhuma maneira ao lugar em que havia ido parar. Consistiam em morte, dor, sangue e cinzas, e mesmo o cheiro de carne queimada ainda parecia permanecer em seu nariz.

Além de seu pai, havia apenas mais uma pessoa presente, vestida nas mesmas cores do ambiente, com uma barriga pesada e proeminente.

Alicent.

O rosto de sua madrasta e antiga amiga estava marcado por linhas de preocupação, as sobrancelhas unidas enquanto a estudava, hesitante.

_ Rhaenyra? _ ela chamou, incerta. Uma de suas mãos escorregou sobre seu meio, e ela sacudiu a cabeça uma vez, parecendo inquieta. _ Chamarei o Meistre.

Depois que ela saiu da tenda em um esvoaçar de saias, Rhaenyra voltou-se novamente para o pai.

_ O que aconteceu?

Ele apoiou uma mão_ sua mão inteira, saudável, que ainda possuía todos os dedos_ sobre seu ombro, e apertou-a levemente em conforto.

_ Você saiu com seu cavalo, depois... depois que conversamos. _ Sua voz mingou no final da frase. No entanto, naquele momento ela não conseguia compreender exatamente o porque. Ainda assim, pensou conseguir enxergar algo como arrependimento em seus olhos. _ Mas ele se agitou, por algum motivo, e acabou derrubando-a da sela. Você bateu a cabeça. Felizmente, você e Sor Criston ainda estavam próximos do acampamento, então a trouxemos para cá o mais rápido possível.

Dreams of Fire and AshesOnde histórias criam vida. Descubra agora