Troca de Olhares - Ferran Torres

Capítulo 2

Ferran Torres

Todos os términos eram difíceis só que eu me sentia a pior pessoa do universo depois que fiquei sozinho, e o pior de ficar sozinho é se sentir sozinho e um tanto abandonado. Parece que toda a minha vida agora não faz sentido, todos os planos, tudo que eu idealizei para o meu futuro foi por água abaixo depois que ela me deu um pé na bunda do nada e eu só pude engolir essa história e seguir em frente

Estou só, bom, não literalmente já que está um fervo de pessoas ao meu redor desde que o Pedri insistiu não sei quantas vezes para que eu viesse com ele a um dos eventos da liga espanhola, não é algo obrigatório, mas de acordo com o Pedri isso faria com que eu me distraísse e com sorte, esquecesse um pouco da vida merda que estou levando

Eu não sei quantas horas já se passaram, mas percebo que o local está mais vazio. A monotonia me pegou com força, não consigo focar em nada, parece que tudo ao meu redor é em câmera lenta e sem gosto, como se eu estivesse fazendo um esforço para viver, acho que estou ficando um pouco depressivo. A única coisa que me tirou do meu transe foi um par de olhos castanhos esverdeados, por uma mínima fração de segundos eu consegui enxergar tão claramente a cor do mesmo como se tudo tivesse congelado ao meu redor e a única coisa que fosse visível era aquela cor, aqueles olhos

Me sinto um pouco impaciente com a situação, estamos em uma roda conversando, bom, na verdade eu apenas tento acompanhar os rapazes no tanto que conversam que mais parecem duas maritacas, Pablo Gavi e Pedri González não calaram a boca desde o momento em que chegarem e tentaram me incluir em todo e qualquer assunto que falam, e é claro, eu não consegui me encaixar em nenhum então só fiquei observando as besteiras ditas por eles

— Preciso de uma água

Dou uma forçada e sorrio amarelo para eles, me levanto e vou até o bartender, vejo que duas moças estão conversando e até me sinto culpado em atrapalhar o assunto, elas pareciam felizes pelo menos, diferente de mim. Peço uma água sendo o mais simples possível, quando eu já estou com a garrafa gelada em minhas mãos eu levanto meu olhar até a moça e uma onda de eletricidade corrói pelo meu corpo

Tive que me segurar para não suspirar quando os olhos castanhos esverdeados pareciam querer me engolir, ou melhor, me ler. Parecia que eles estavam vendo o meu eu mais profundo, algo como se existisse um núcleo dentro da minha alma e isso me fez ficar atordoado demais pro meu gosto. Ela era bonita, seus cabelos estavam amarrados em um rabo de cavalo e eu conseguia notar os cachos nas pontas de seus fios e eu me perguntava como eles ficariam enrolados e emaranhados em um das minhas mãos enquanto.....

— Obrigado

Digo o mais rápido possível quando vejo seus lábios se abrirem e fico com medo de ouvir sua voz, tenho medo dos outros efeitos dela sobre mim. Tudo isso me pegou desprevenido, sinto minhas mãos suando, deve ser apenas tesão enrustido, nunca mais transei desde o meu término, com certeza é apenas isso, vontade de fazer sexo

Volto para onde os meninos estão e tento parecer o mais tranquilo possível, bebo a garrafinha inteira de água sem perceber e posso sentir o contraste do gelado da água se rasgar por dentro do meu corpo quente, pouco segundos olhando aquela garota me fizeram tantas coisas, devo estar ficando louco

— O que foi, Ferran? — Pedri pergunta

— Nada

— Então porque você parece estar assustado? — Pedri me questiona

— Viu a Sira? — A voz do Gavi mencionando aquele nome faz com que eu caia por terra, como se eu acordasse desse delírio que eu estava tendo

— Ela está aqui? — Me levanto e Pedri me puxa no segundo seguinte

— Senta aí que ela não veio, esqueceu que ela foi para Paris? E mesmo que estivesse aqui eu não ia deixar você ficar atrás dela como se fosse um cachorrinho

— Ela te deixou, Ferran. Você tem que seguir sua vida — Gavi me consola

— Não é tão fácil

— Sabemos que não, e também sabemos que você não facilita as coisas, parece que gosta de ficar afundado na merda e chorando pelos cantos

— Só estou vivendo minha fase ruim, mereço esse tempo

— Já fazem três meses, irmão. A melhor coisa a se fazer agora é apagar todas as lembranças e seguir sua vida, porque ela já seguiu a dela

Pedri sempre deixa claro que Sira não se importou com o término e que já está com outra pessoa, enquanto eu estou aqui em uma experiência sublime de como ser sozinho. Os garotos voltam a conversar do que eles mais gostam, mulheres, e eu que continuaria ali apenas entretido com qualquer merda dita sinto uma vontade grande de olhar ao meu redor, começo a buscar algo que nem sei o que é, e quando a encontro, a pele morena clara ficando vermelha e um semblante de raiva assumindo sua face a minha vontade é me levantar daqui e bater no filha da puta que ousa a tirar do sério

Pendo minha cabeça sobre minhas mãos e tento disfarçar a vontade insana de ir até ela, realmente estou enlouquecendo, a única cabeça que deve estar pensando em meu corpo é a de baixo, constando isso deixo meus amigos ali novamente e vou procurar um banheiro e acabo parando dentro de uma cozinha e o destino só deve estar de palhaçada comigo, ela estava ali, comendo alguma espécie de sanduíche e eu tento sair sorrateiramente mas esbarro em alguma merda de utensílio barulhento de cozinha e ela acaba girando o corpo me encontrando

— Olá — Seus grandes olhos castanhos esverdeados estão me fitando enquanto ela acaba seu lanche e bebe sua água

Sua voz é doce e entra em meus ouvidos como se fosse a mais bela melodia que eu já escutei

— Oi — Respondo tentando parecer firme, mas minhas pernas estavam mais parecendo duas geleias

— Está com fome?

Ela nem imagina o quão faminto estou..... PUTA MERDA FERRAN TORRES, você está parecendo a porra de um virgem

— Está tudo bem com você?

Seu semblante é de dúvida e claro que não está tudo bem, ela está se aproximando de mim e eu já conseguir sentir seu cheiro adocicado, parece que estou caindo em uma armadilha, devem ter me jogado alguma praga ou algo do tipo

— Nã-ao — Respondo nervoso e me corrijo de imediato — Na verdade sim, eu só precisa achar um banheiro

— Ah claro, se quiser eu te mostro aonde é — Ela sorri para mim, e caralho, é o ato que mais me iluminou nesses últimos dias, que belo sorriso ela tem

— Se não for incomodar

— De maneira alguma

Ela toma a minha frente e antes que possamos sair da cozinha ampla que antes parecia pequena demais para nós dois, ela escorrega em algum líquido e seus saltos sedem fazendo ela quase cair no chão, meu corpo corresponde no instante que a viu em “perigo”, agarrou sua cintura com uma força desproporcional e a trago para perto de mim, a forçando contra o meu peito, como se um tombo fosse tirar a sua vida

Continuo ali a segurando, como se a minha vida dependesse disso e nem percebo que estou a machucando quando ela começa a tossir e pede para que eu a solte

— Ah... me desculpe por isso — Estou desconcertado na frente da moça

— Eu acho que devo te agradecer, se não fosse por você com certeza eu teria algum roxo pelo meu corpo

Eu também queria deixar roxo pelo seu corpo, pensei e logo disfarcei esse sentimento quando ela me levou até a área dos banheiros e se despediu de mim, e eu só quero não esbarrar com ela novamente, seria demais pra esse coração quebrado

O que ela tem?

Eu também não sei