Faziam dois anos do ocorrido, os dias passavam lentamente, a lembrança do que aconteceu cada vez mais distante, o medo ainda permanecia e a ideia de que tudo aquilo poderia acontecer assolava meus pensamentos. Muri estava crescendo, e cada vez mais esperta, uma mini gênia da química, me lembrando de sua versão mais velha.
Em um dia nublado de outono, os ovos e bacon estourando na frigideira e notícias passavam na TV, uma reportagem ao vivo sobre uma onda de ataque misteriosos na Rússia, que assustava a população local, minha família e eu estávamos assistindo enquanto tomávamos nosso café da manhã, quando se deu conta do que se tratava, Emmy tirou Muri da cozinha com uma desculpa boba, e a levo para o quarto. Aquilo voltou, os Garras Brancas não morreram.
Um tempo depois, perto do horário de almoço James apareceu em minha porta, com um Rifle Winchester 44 em suas mãos, os olhos arregalados, a barba antes bem aparada agora desgrenhada e suas roupas sujas de graxa.
- O antídoto - disse baixo e em alerta, entrou na casa sem permissão e começou a abri gavetas a procura de algo.
- Bom dia pra você também pai. - O respondi com ironia - O que está procurando?
- A toxina, você com certeza viu na TV, eles voltaram, temos que ir à traz deles, temos que matar todos eles.
- Eu sei disso mas não sabemos quantos são, além de que usei todos os frascos disponíveis, só vai conseguir encontrar no centro de pesquisas principal. - Tranquei a porta e olhei a rua pela fresta da cortina.
- Não passou por sua cabeça tentar recriar isso? Não tínhamos certeza se eles realmente morreram e você aí com sua bunda grudada no sofá sem fazer nada. - Ele parecia estressado
- Opa espera aí! Estou fazendo pesquisas, desde que acabou tenho procurado fazer mais, ok? Mas não é tão fácil, toda a pesquisa foi perdida, tive que começar do zero e- Minha fala foi cortado ao ver Muri descer as escadas, já com seu uniforme escolar, ela parou no último degrau, seu olhos foram de encontro com o homem esguio próximo a ilha da cozinha, então saiu em disparada e o abraçou.
- Vovô! O senhor não avisou que ia nos visitar.
-Bom dia minha princesa, vim fazer um visita surpresa, tomar o café da manhã com você- Me lançou um olhar de reprovação enquanto a cumprimentava, então pegou o controle da TV e a desligou.
Após o almoço, Emmy levou Muri para a escola, quando voltou estava nitidamente ansiosa
- O R7 foi detonado junto com a Nave deles, e se eles ficaram mais fortes e imunes? Suas pesquisas estão indo bem mas não sei se vão funcionar, temos que ir atrás de um deles para fazer testes, Dan, arrume as malas, vamos para a Rússia, James, vamos precisar da sua ajuda- Emmy disse enquanto pegava uma Colt 45 atrás do raque da sala. Conseguimos pegar um voo de emergência para a Rússia com duas equipes do centro de pesquisa de Los Angles para nos auxiliar.
Quando chegamos lá, vamos para o local onde dois anos atrás, em nossa mente havíamos matado todos os garras brancas, observamos e vimos que tudo havia mudado, não existia nenhum resquício.
Pegamos o materiais que havíamos levado e começamos a desbravar o local para ver se achávamos algo.Foram 2 dias inteiros fazendo reconhecimento do perímetro em busca de um único sinal de que havia algo ali, saberíamos se o caso da volta dos Garras Branca era generalizado, ou apenas um caso isolado que poderíamos resolver com algumas balas.
Na noite do segundo dia estávamos convencidos de que não havia nada por ali, foi quando recebemos uma notícia. Junto de mim e de Emmy vieram mais uma equipe de busca e uma de pesquisa, para nos ajudar a lidar com os possíveis problemas com os Garras Brancas. Foi quando, na manhã seguinte, um dos pesquisadores que ajudou a produzir a toxina em massa veio correndo até nosso acampamento temporário na neve, estava nitidamente desesperado
- Senhora Emmy! Por favor me ajude.Emmy, que acabara de acordar, estava tomando seu café da manhã, comida enlatada e café encapsulado, nenhum de nós havia comida direito nos últimos dias.
- O que aconteceu? Encontraram algum deles? - Sua voz ainda estava sonolenta.
Eu acordei com a comoção do lado de fora, porém, ainda estava preparando meu corpo pra conseguir formar uma frase, além de não comer, também não consegui dormir, fiquei apenas ouvindo os dois do lado de fora
- Minha equipe.. - O rapaz estava quase sem fôlego - Essa manhã partimos em direção Norte para fazer o reconhecimento de uma área que já tínhamos passado, eu me separei deles por um breve momento, e me perdi deles! - Emmy
suspirou, parecia desapontada
- Você tem certeza que só não se perdeu?
- Não senhora, quando me dei conta tentei fazer contato com eles via rádio, mas nenhum deles responde, eu sequer recebo sinal e só ouço a estática!
O que ele disse parece ter prendido atenção de Emmy que já não parecia ter acabado de acordar e que me fez levantar rapidamente para me trocar.
- Quantas pessoas haviam na sua equipe? - Eu me levantei e entrei na conversa dos dois
- Estávamos em 7 senhor! -
- 6 pessoas desaparecidas sem deixar rastros.. Vamos em direção nor- fui interrompido por um barulho nos fundos da barraca principal, o clima entre nós estava tenso e ninguém falou nada por breves segundos, mas que pareceram horas, eu e Emmy trocamos olhares e nos entendemos sem precisar falar nada. Corremos até a barraca mais a direita em busca de armamento, uma 38 para mim, Emmy ficou com uma Cold 45 e jogou uma revólver calibre 38 para o rapaz. Eu e Emmy ficamos de costas um para o outro, cuidando do ponto cego de cada um, o rapaz ficou ao nosso lado, estava tremendo de medo e mal conseguia segurar sua arma e meu medo era ele não conseguir sequer atirar.
Após alguns segundos esperando algo acontecer, houve outro barulho, desta vez dentro da barraca a esquerda e eu e Emmy nos deslocamos e abrimos a barraca prontos para disparar, mas ao abrir nos deparamos com uma fenda na lona da barraca e uma pedra no chão, parece que o buraco foi feito anteriormente e logo em seguida a pedra jogada dentro, como uma forma de distração. Emmy e eu nos encaramos e logo viramos para checar o rapaz, que já não estava mais ali.
Havia sangue colorindo a neve branca de vermelho, e sobre ele nada além da cintura pra baixo do corpo do pesquisador, foi feito com apenas um golpe, rápido o suficiente para cobrir os poucos segundos que eu e Emmy nos distraímos, porém, forte o bastante para não dar tempo de reação e não deixar a vítima fazer barulho. Emmy ficou paralisada vendo a cena, assim como eu, mas nos recompomos e voltamos a nossa formação de costas um para o outro, nossa respiração estava pesada e estávamos atentos a qualquer mínimo barulho para disparar, devem ter sido 17 exatos segundos, quando Emmy apertou os olhos e notou, a coisa sempre esteve ali e tão branco quanto a neve no chão, mas estava tão camuflado que era quase impossível ver a olho nu, Emmy moveu a arma lentamente em direção ao monstro, desviando o olhar estrategicamente para dar a entender que ainda estava o procurando, quando o alvo estava na mira, ela disparou. Foi um tiro certeiro no meio da cabeça, atravessando seu crânio de uma ponta a outra e o cegando do olho direito, eu que não havia o visto ainda, me virei rapidamente para dar assistência a Emmy, o monstro agonizou por um momento mas logo voltou sua atenção a nós e veio em alta velocidade, seu sangue verde agora cobria sua pele e era possível vê-lo com facilidade, eu e Emmy disparados diversas vezes em sua direção, enquanto ele ignorava os furos no seu corpo e vinha com sede de sangue, seu objetivo era matar nós dois, mesmo que morresse no processo. Emmy deu outro tiro preciso em seu peito, desestabilizando o monstro por alguns segundos, que ficou com raiva e disparou um espinho de sua cauda que acertou o antebraço de Emmy em cheio, o que fez ela soltar a arma, o monstro então virou sua mira pra mim e disparou duas vezes, fui capaz de desviar do primeiro, mas o segundo atravessou meu abdômen. Comigo incapaz de ficar em pé, o monstro veio decidido a me matar, eu me vi morto naquele momento, a pouco centímetros da boca dele me acertar eu abro os olhos e vejo Emmy atravessando um dos suportes de aço da barraca na garganta do monstro, de baixo para cima, perfurando sua boca e saindo pela outra ponta do crânio, destruindo seja lá o que essa coisa tem dentro da cabeça. Nunca imaginei ficar feliz em ver uma cena tão nojenta e grotesca quanto essa, mas ao ver Emmy dando tudo de si pra me salvar, percebi que "Amor da minha vida" não bastava para defini-la para mim.
- Não sei nem como te agradecer - Eu estava quase sem fôlego, ela me estendeu a mão para me ajudar a levantar
- Pois eu sei, pega uma faca e arranca uma parte dessa coisa, vamos levar para pesquisa e ir embora desse lugar
Eu assenti e obedeci, com um facão que estava dentro de uma das barracas depois de fazer um curativo no meu ferimento, desmembrei o Garra Branca e guardei suas partes em potes diferentes.
- Trabalho feito, madame, como me pediu - Usei um tom sarcástico para tentar aliviar o clima, mas percebi que ela estava muito concentrada em cobrir o corpo do rapaz que acabara de morrer
- Temos que dar notícias as famílias.. - Eu me aproximei e abaixei, abraçando ela por trás
- Fazemos isso quando chegarmos no laboratório principal, ok? Vamos para um lugar seguro agora, não quero que você corra o risco de se machucar - Ela deu um leve tapa no meu braço e riu baixinho
- Quem está mais em perigo aqui é você, aliás, como está seu machucado? - Ela se soltou do meu abraço e virou levantando minha camisa, que estava suja de sangue, para avaliar meu curativo
- É uma dor latejante, mas nada que eu não consiga suportar - Ela se aproximou e me eu um beijo suave
- Fico feliz que esteja bem - Assim se levantou - Vamos arrumar as coisas, temos que ter ido embora antes do Sol baixar
Assim foi feito, nos reunimos com a equipe de pesquisa e partimos de volta para Los Angeles, foram cerca de 48 horas de viagem via helicóptero, alternando os pilotos.
Chegando no centro de pesquisa, nos alocamos em um quarto provisório de dormimos por poucas horas antes de continuar nossas pesquisas.
- Bom dia princesa, hora de levantar - Emmy me acordou com 2 tapinhas no rosto
- Bom dia pra você também - Eu disse ainda sonolento,ovos nos trocamos e seguimos sem direção do laboratório de pesquisa mais próximo. Ao destrancar a porta, Emmy foi direto para bancada deixar metade dos potes com as partes do monstro, eu
coloquei a outra metade junto
- Vamos pro primeiro teste - Ela dizia procurando algo nas gavetas, encontrou o antídoto e foi aplicar em uma das partes do monstro, o braço esquerdo. Ela aplicou e esperou a reação normal, que seria explodir em sangue pouco segundos depois, contanto, a pele do monstro apenas mudou de cor, como uma manchas preta, mas continuou intacta
- O que? - Ela indagou preocupada, foi correndo pegar uma amostra antiga de sangue dos primeiros Garras Brancas e injetou o antídoto, e como costume o frasco explodiu, ela ficou em choque, e me lançou um olhar preocupado, eu que estava encostado na parede assistindo ela, perguntei
- O que foi?
- É resistente.. - Falou com a voz trêmula
- Como? Resistente ao antídoto? - Saí de perto da parede pra ver de perto o que ela dizia. Ela coletou uma amostra de sangue do Garra Branca que matamos, e novamente injetou o antídoto, outra vez, nada aconteceu. Nós dois nos encaramos sem dizer nada por alguns segundos.
Pareceu uma eternidade, nós dois quietos naquela sala escura, sem esperança nos olhos, o silêncio foi quebrado quando Emmy começou a se lamentar.
- Estamos perdidos, quanto tempo vai demorar para pesquisa de uma nova toxina? Quanto tempo vai demorar para produzi-las em massa? - A voz dela começou a estremecer, foi quando me aproximei e abracei ela
- Calma meu amor, ainda temos tempo, não precisa se culpar nem nada do tipo -Ela me abraçou mais forte.
- E quanto a Muri? Dan, é a vida da nossa filha, a nossa Muri.. - Eu apertei o abraço ainda mais, e dei um beijo em sua testa
- Eu sei querida, mas-- Alguém abriu a porta
- Pai? Mãe? Vocês estão chorando? - Emmy se virou para Muri com os olhos arregalados
- Minha filha?! - Ela foi abraçar a pequena
- O que você está fazendo aqui? Quem te trouxe aqui? - Ela apertava o rosto de Muri com as duas mãos
- Fui eu – James aparece logo atrás de Muri, parecia emburrado
- Qual é? Eu não vou ficar de babá enquanto vocês ficam com a parte divertida – Eu fui até sua diversão
- Pai, isso não é uma brincadeira, você tem ideia do que-- Emmy me interrompeu
- Está tudo bem, Dan, aqui vai ser mais seguro para ela de qualquer forma – Ela voltou sua atenção para nossa filha – Vamos encontrar um quarto bem quentinho para nós 3 dormimos juntos, combinados? - Emmy sorriu para Muri, que sorriu de volta, ela parecia que não sabia que aquele sorriso escondia o mais genuíno medo e preocupação de uma mãe.
Notificamos o resto do centro de pesquisas sobre a imunidade criada sobre as toxinas, e tiramos o resto do dia para ficar com Muri, com a família mais unida, as preocupações pareciam desaparecer, ao chegar a noite, dormimos todos na mesma cama reforçando nossa união. Pela manhã eu sou acordado ao gritos
- DAN! DAN! - Emmy está me balançando com muita força
- O que foi querida? - Minha voz ainda está sonolenta
- É A MURI, ELA DISSE ONDE FOI? VOCÊ VIU ELA SAINDO? - Eu me levantei e nem troquei o pijama, corri para o lado de fora a procura da minha filha. Passando pela secretaria, imaginei que poderiam ter visto ela pelas câmeras, corri em direção a secretária que estava organizando alguns papéis
- EI VOCÊ – Ela virou sua atenção para mim
- Você viu uma menininha? Baixinha, 11 anos de idade-- Ela assentiu antes de eu terminar de falar
- A pequena Muri? Ela passou por aqui com algumas caixas na mão de madrugada, me disse que era um pedido de vocês e foi direto para o laboratório – Eu encontrei Emmy no caminho e corremos até o laboratório, encontramos Muri debruçada sobre o balcão, parecia inconsciente, Emmy correu até ela para tentar socorrê-la, e eu fui de encontro a um computador próximo que estava apitando um alarme ininterruptamente.
- MURI! MINHA FILHA, ACORDA! - Ela chacoalhou a pequena agressivamente para tentar conseguir uma resposta, foi quando Muri lentamente abriu os olhos.
- Mãe? O que foi? - Ela respondeu com voz sonolenta
- Minha filha você quase me matou do coração! - Emmy abraçou ela como se não a tivesse visto por anos
- Foi você quem fez isso, Muri? - Eu interrompi o momento das duas, chamando atenção para o que estava no computador
- Ah, isso? - Ela parecia mais acordada depois do abraço de sua mãe – Fui eu sim
- Como? - Eu a encarei assustado, Emmy soltou do abraço e segurou a mão de Muri, vindo em minha direção curiosa
- Fez isso o qu-- A sua expressão mudou antes de completar a frase – Puta merda..
No monitor que não parava de fazer um barulho de alarme irritante, havia uma janela piscando em azul “100% compatível”, dizia respeito a uma solução sobre um centrifugador próximo, a cor azul brilhante chamava atenção, e ao que tudo indicava, se tratava sobre um novo antídoto para os Garras Brancas, e pelo estrago visível em uma caixa de vidro reforçado sobre o balcão vizinho, e alguns restos de tubos de ensaio no chão, era um antídoto poderoso contra esses monstros. Meu primeiro pensamento foi: “Somos pais muitos irresponsáveis, como deixamos uma criança de 11 anos brincar com soluções explosivas assim?”, voltei a dar atenção a Muri, me abaixei colocando um joelho no chão para ficar próximo a sua altura
- Minha filha, como você fez isso? - Perguntei ainda em choque
- Na verdade pai, foi bem simples – Ela sorriu
- Pode explicar pro papai, passo a passo? - Me sentei junto de Emmy em 2 banquinhos próximos e Muri começou a explicar
- Se eu for resumir, é basicamente que: O sangue dos Garras Brancas era basicamente composto 80% por Enxofre, o primeiro antídoto era quase 99% composto por Clorato de Potássio, que quando entra em contato com o Enxofre, resulta em uma reação explosiva que fazia os Garras Brancas morrerem. Acontece que os “novos” Garras Brancas, se adaptaram com o antídoto antigo e começaram a aumentar a quantidade de Ferro no sangue, o Ferro faz o Clorato de Potássio oxidar e não reagir com o Enxofre, mas, o novo antídoto sendo 99% a base de Fósforo, reage com o Enxofre e com o Ferro, sendo ainda mais explosivo, e é morte na certa pra eles – Eu e Emmy contemplamos a inteligência da nossa pequena por alguns minutos, então nos abraçamos e levamos o novo antídoto para produção em massa.
Cerca de 3 dias depois, mais de 2 mil litros do antídoto foram produzidos, e nesse tempo uma cúpula sobre a área de risco foi construída pelo próprio governo russo, uma viagem com um avião de combate carregando todo o antídoto foi feita. Chegando na cúpula da área, todos os 2 mil litros foram derramados em uma espécie de chuva ácida, que corroeu todo e qualquer Garra Branca que entrou em contato, 4 equipes foram mobilizadas para cada lado da cúpula, norte, sul, leste e oeste, todas equipadas com rifles potentes com balas de chumbo que ao entrar em contato com o alvo, explodiam com o antídoto dentro.
Ao todo foram contabilizados 180 Garras Brancas mortos, que eram todos na região, como não havia uma fêmea, não houve reprodução e esses monstros eram aqueles poucos ovos que resistiram a explosão da nave. Por fim, a ameaça foi mais uma vez neutralizada, e ao que tudo indica, de uma vez por todas, tudo graças a pequena Muri.
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