Começara a chover, percebi ao ver os pingos batendo nas janelas. Me levantando fui até a varanda da sala olhar o céu, não dava para saber se teria raios e trovões, torcia que sim! Amo tempestades porque me lembra dela! A tempestade da minha vida...Maria Marta Medeiros! A chuva aumentou na hora que pensei nela, como uma recriminação por não ter completado seu nome de Mendonça e Albuquerque, ouvi claramente sua voz pomposa sussurrando em meu ouvido! O vento se intensificou balançando os galhos de árvores do jardim!
Bebi um gole de vinho admirando a noite. É uma bela noite! Tinha esquecido como as noites em nossa casa em Petrópolis são...boas! Especiais! Diferentes! Tem gosto de casa!
E eu sei porque!
Eu e Marta decidimos cada cômodo, tamanho, decoração, cada detalhe! Queríamos uma casa grande para as crianças brincarem à vontade, que fosse espaçosa para os jantares e recepções que ofereceríamos, que fosse imponente para deixar claro a todos que olhassem de fora que éramos poderosos, ricos e intocáveis! Uma casa que mesmo que fôssemos embora daqui, soubéssemos que ela sempre estaria aqui nos esperando! Marta, ama essa casa e eu amo essa casa, por ela ser a cara dela! Por ter o cheiro dela, o gosto dela, por me sentir em casa por ela!
Meu casamento com Marta dera um sentido diferente à minha vida, por mais que eu tente me convencer que nossa relação no começo era apenas amizade e sexo, sei que é a mais pura mentira! Trabalhei dia e noite para merecer ela, para fazê-la se orgulhar de mim, para nunca, jamais, em hipótese nenhuma se arrepender de ter me dito sim!
No começo sabia que gostava dela...demais o que era perigoso! Desejava sua companhia quando não estava comigo, sonhava com ela à noite, mesmo ela estando em meus braços. Sabia que era amor, porém não estava pronto para admitir a ele e nem a mim mesmo essa terrível verdade. A amava...demais! E isso me assustava! Assustava saber que ela tinha esse poder sobre mim! Porque amar outra pessoa é dar poder a ela! E eu não permitiria isso!
E, por mais que não dissesse que a amava, queria que ela soubesse, que ela não duvidasse, que ela acreditasse! O que era, claro, a mais cruel das ironias.
O luar da lua entra pela janela dando um ar de promessa! Deveria fechar as cortinas, mas não consigo. Os clarões dos trovões me fascina mesmo sabendo que ela vai me matar por está molhando sua bela e impecável sala!
Estamos em Petrópolis faz dois dias, viemos passar uma semana longe da empresa, dos filhos, dos netos...apenas nós dois! Estamos juntos! Sorri involuntariamente. Se alguém me dissesse isso meses atrás, diria que a pessoa enlouqueceu! Mas, cá estamos! Juntos e felizes. Depois de tudo que nos aconteceu, de ter sobrevivido aquele tiro de Maurilio, conversamos, e mentiria se dissesse que foi uma conversa fácil, longe disso. Foi dura! Mas, extremamente necessária.
Sempre fugi como o diabo foge da cruz desse momento, porque sabia que não aguentaria vê a dor naqueles olhos, dor essa que eu era o causador! Era mais fácil atacá-la, provocá-la, chateá-la. Mas, quando a vi escapando das minhas mãos, das minhas vistas, da minha vida...não aguentei! Quando a confrontei o porque ela estava fazendo as malas para vir para Petrópolis, ela disse: eu cansei de você José Alfredo, e ali soube que a tinha perdido!
Debochei, ri, mas, ela continuou impassível e o meu deboche, logo virou desespero puro! Desespero maior que quando perdi todo meu dinheiro, quando não sabia quem era meu inimigo sem rosto, nada chegou perto do que senti ao vê Marta me olhando com...nada naqueles olhos! Nem amor, nem paixão, nem ódio, nem soberba, nada! Absolutamente nada!
Havia a segurando contra meu corpo transtornado, mandando ela parar de brincadeira besta. Nada! Tinha sacudido ela pelos ombros enlouquecido chegando a marcá-la com tamanha força que fazia contra sua pele, com medo que ela desaparecesse ali na minha frente. Nada! Quando ela se afastou pegando a mala indo em direção a porta, tomei a bolsa de sua mão jogando do outro lado quarto, ela ficou assustada, mas não liguei! Nos tranquei naquele quarto jogando a chave pela janela. Estava louco! Completamente louco com a ideia dela me deixar, dela não me amar mais!
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Os seus botões - Malfred
FanfictionEnquanto a chuva cai lá fora José Alfredo é convidado para dançar pela sua tempestade particular!