Deixa que eu vou benzinho, eu pego a florzinha – as noites eram assim.
Já não conseguiam mais dormir uma noite inteira, era preciso dividir entre os dois o colo para que um pudesse tomar café e o outro depois, não conseguiam tomar banho juntos mas sem um serzinho pequeno em seus braços.Cada de dia era uma surpresa para o Ramiro, que teve uma infância dura e uma vida adulta pior ainda mas agora tudo era diferente, ele estava casado e se tornou pai de uma linda garotinha. Flor.
Ele decidiu que seria um pai que ele nunca teve na vida, mas ele conseguiu ser muito melhor.
Kelvin foi rejeitado pelo seu pai quando se assumiu gay então ele não teve muita noção de como era ter um pai e muito menos de como ser um mas ao lado do seu marido ele aprendia um pouco todos os dias.Amor, porque tá demorando a voltar? – Kelvin esfregava as têmporas ao adentrar o quarto de sua filha.
Florzinha se barrou todinha benzinho, vou banhar ela – Ramiro tinha um pouco de dificuldade de abrir o body mas aos poucos ele ia aprendendo e pegando o jeito.
Kelvin lhe ajudou a medir a temperatura da água pra dá banho em sua pequena.
Era 3:30 da madrugada mas ele poderia admirá-lo para sempre e agora junto de sua filha, ele se sentia realizado e completo. Ramiro dizia não saber escolher roupinhas para vestir na florzinha mas ele sempre fazia uma combinação muito fofa. Do jeitinho dele.Pega ela benzinho, vou trocar a roupa da caminha dela – Kelvin achava tão fofo como ele se referia ao berço.
Tudo aquilo parecia um sonho irreal para Kelvin e Ramiro de alguns anos atrás principalmente para Kelvin que lutou muito para esse momento, todas as camadas que Ramiro tinha que ele teve que ajudá-lo a entender e isso levou muito tempo mas valeu a pena.
Quer da mamadeira ela amor? – Ramiro coçou a nuca. Ela tinha medo que a Flor pudesse engasgar então ele não dava mamadeira a ela.
Não mô, mior océ da ela, eu tenho medo – Ramiro fez a mamadeira e entregou ao seu marido.
Quantos os seus medos a gente enfrentou junto? Eu tô aqui com você eu e sei que você nunca faria nada de ruim para nossa filha, além do mais você também precisa aprender porque quando eu precisar dar uma saída você vai ter que ficar com ela, amor. – Ramiro ajustou a almofada de amamentação em seu colo e pegou florzinha com maior cuidado do mundo – Você também é pai dela. Eu tô aqui com você, lembra? – Ramiro concordou e deu um beijinho esquimó no mais baixo – Essa mamadeira é um bico menor então você não precisa se preocupar se vai sair leite demais – kelvin guiou a mão de Ramiro até a boca da neném com a mamadeira – Agora é só deixar ela fazer o resto tá vendo? – Flor tinha os olhos abertos e sugava o bico da mamadeira com força.
Florzinha e faminta ingual océ benzinho– ambos riram.
Eles ficaram em silêncio só ouvindo aquele som gostoso que neném faz quando tá mamando sabe?! Kelvin se permitiu observar o cenário, juntando mais uma memória para sua galeria de memórias. Ramiro segurava a mão da florzinha como ela fosse de cristal e pudesse quebrar a qualquer momento, seu coração transbordou de amor e seus olhos também.
Tá chorano por que amo? Fiz alguma coisa errada? – Ramiro alternava o olhar entre o bebê e Kelvin.
Eu estou chorando porque eu te amo muito, eu amo tanto a nossa família rams rams, vocês são tudo que eu sempre sonhei – Kelvin descansou a cabeça no ombro de seu companheiro – Agora você precisa fazer ela arrotar.
Kelvin não precisou ensinar, Ramiro aprendeu bem.
Eu amo océ demais benzinho, obrigado por nossa família – Ramiro selou seus lábios com ternura.
Eles pensavam que ter um filho mudaria completamente a vida deles, e mudou mas os velhos costumes continuavam. Os apertãozinho continuaram sendo um momento favorito deles. Kelvin conseguiu convencer Ramiro de se alfabetizar como professor de verdade mas ele sempre reforçava em casa e ensinando a ler poemas sobre amor e nesse meio tempo eles usavam pra fazer amor, mas nem sempre conseguia terminar. Filho pequeno em casa era assim. Quanto mais o tempo se passava mais apaixonados eles ficavam um pelo outro e a florzinha cada dia mais linda e maior. Ramiro também conseguiu realizar seu sonho de ter uma fazenda mas ele não nunca imaginou que seria tão grande e que ele finalmente deixaria de ser pobre, conseguiria dar uma infância e uma juventude para sua filha que ele nunca teve.
Anos mais tarde.
Onde vocês estavam em?, acordei e não vi vocês. Só vi o bilhete que você escreveu – "Vou leva a Frozinha pra ve o cavalo" – Não gosto de acordar sem vocês – Kelvin pegou Flor no colo e abraçou Ramiro, fazendo seu drama de sempre.
O benzinho, a florzinha acordou e eu queria deixar océ dormindo mais um tiquinho, aí a gente foi nas fazendas e passei na padaria e trouxe café pra você – Ramiro ganhou Kelvin pela barriga.
O casal raramente brigava, Kelvin sempre chamava Ramiro para conversar para que eles pudessem resolver qualquer coisa que incomodou ambos. Nunca ficavam sem se falar e não guardavam dores para si mesmo. O peão bruto que Ramiro era agora era um pai babão e o marido mais grudento do mundo, Kelvin sonhou com esse momento durante anos mas agora era sua nova realidade.
Quanto mais Florzinha crescia mais Kelvin ficava feliz em botar roupas coloridas nela, roupas combinando com as suas. Ramiro amava vê a filha toda colorida igual ao pai.
Hoje o peão batia no peito tinha orgulho de estar em um relacionamento como afetivo e ser pai de uma linda garotinha.
O medo de ser julgado ficou para trás em Nova primavera mas agora eles estavam felizes juntos. Kelvin conseguia conciliar sua carreira musical com a família, ele estava mais feliz que nunca e agora que florzinha estava maior conseguiria levá-la junto ao seu marido para as tour.Flor perceberia que seria a garota mais sortuda do mundo por ter os pais que tinha. Ambos completamente diferentes mas o amor por ela era incondicional. A garota crescia em um lar cheio de amor, não havia brigas, jamais viria seus pais gritarem um com o outro e muito menos com ela. Ela descobriria toda a história seu pai Ramiro, o homem que teve um início de vida muito difícil mas seu pai Kelvin colorir a sua vida. Lhe ajudou a entender que amor é amor e não precisa de regras, que ela pode amar quem ela quiser porque é direito dela escolher quem amar.