Capítulo 3- Abismo

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             AVISO! ESSE CAPÍTULO PODE CONTER GATILHOS DE AUTOMUTILAÇÃO.

Eu nunca entendi por que tantas coisas ruins aconteciam com pessoas boas ou inocentes, nunca entendi por que as pessoas más eram tão más assim, oque deixou elas assim? Por que depois que as pessoas boas são vítimas de pessoas (ou coisas) más também se tornam más?

-Mãe? - disse eu preocupada por ter a encontrado deitada na cama desfalecida com um monte de remédio no meio das cobertas.

— Mamãe? Tá tudo bem?

— Sua mãe só ta cansada, filha, venha para o seu quarto.-disse meu pai me puxando para fora daquela cena de morte que nunca mais saiu da minha cabeça.

— Por que a mãe ta assim pai?

— Sua mãe só está meio sobrecarregada pelo que está acontecendo com a sua vó.

— O que está acontecendo com a vó?

— A sua avó está doente filha, mas logo, logo ela vai ficar bem.

— Hum.

Já tinham se passado 4 meses desde a descoberta da gravidez, e minha barriga não tinha crescido tanto, pelo menos isso...Fui atrás de ajuda na igreja para ver oque poderia fazer, com a esperança de que Deus não me condenasse também, mas não foi bem isso que recebi de minha conselheira e depois de umas semanas... Do restante da igreja. Deus agiu bem diferente do que aprendi na Bíblia quando era pequena...

Tudo estava desmoronando a minha volta, minhas notas estavam baixando, minha vó piorando, o bullying chegando sorrateiramente, uma tristeza imensa em meu coração me dilacerava, e aquele bebê em minha barriga ocupando mais espaço... E eu não podia abortar por que se não Deus iria ficar mais bravo comigo, e pela primeira vez pensei... Será que é tudo que está desmoronando a minha volta, ou sou eu que estou desmoronando dentro de mim?

E lá vou eu denovo para única saída que me resta dessas paredes que vão me esmagando cada vez mais, pego o estilete e vou cortando o meu pulso devagar vendo aquele vermelho escorrendo pelo meu braço, e tudo que eu consigo ouvir dentro da minha cabeça é: "A culpa é minha" repetidas vezes. Entro em um transe tão grande entre os cortes e essas vozes ecoando na minha cabeça que nem percebo o quanto me machuquei, vai ser difícil esconder isso, mas pelo menos a dor do meu coração está aliviando...

...

Eu estava com medo de ver o tanto que aquela doença tinha consumido a minha vó, todos falavam que logo ela ia melhorar, mas nunca me deixavam realmente a par da situação real, e tudo que eu via era a cada dia ela passando mais tempo na cama, sua mão atrofiando com os outros órgãos internos, sua fala sumindo e seus olhos não conseguindo ficar abertos por muito tempo. Foi assim que minha ficha caiu... O câncer tinha chegado, e não ia embora até levar a última essência de vida que tinha na minha vó.

Logo ela, que me cuidou por anos como se fosse minha mãe, a única pessoa no mundo em que eu podia contar tudo, ser eu mesma, dar risadas e sempre receber o seu apoio, independentemente das minhas escolhas. Ela era meu pilar, meu mundo, meu tudo, e eu estava vendo aquilo acabar em questão de meses, não escutava mais a risada dela, ah aquela risada era contagiante, em qualquer lugar que ela ia não tinha outra igual, ela contagiava os ambientes, parecia que tudo ganhava cor e humor quando ela chegava, ela era a mulher que se eu fosse metade do que ela era, eu já tinha ganhado na vida.

Do mesmo jeito que ela contagiava o ambiente com a sua risada e seu sorriso que já estavam deixando saudades de tão ausentes, aquela casa estava tão fúnebre que nem parecia mais a casa dela, o calendário cheio de remédios e horários de consultas e não mais um "ser feliz" com a letra dela, estava tudo tão mórbido, silencioso... Achei que a morte só era cruel com pessoas más, mas era quase o contrário, a melhor pessoa da família estava indo, e as ruins estavam lá, só assistindo e se aproveitando da situação, mesmo essas pessoas sendo os próprios filhos dela. Muitas concepções da minha vida estavam mudando drasticamente...

— Vó, eu só queria dizer que te amo muito viu, por favor melhora, eu preciso da senhora mais tempo comigo aqui, preciso que você ainda vá na minha formatura da faculdade me vendo como eu vou dar orgulho para senhora, preciso que me aconselhe com os namoradinhos, preciso que fique comigo aqui, só mais um pouquinho se não for pedir muito- as lágrimas não paravam de cair. - mesmo que a senhora não consiga falar ou me ver, eu sei que sabe que to aqui do seu lado e ta me escutando, sei que sabe que é a sua princesinha aqui vó, então por favor, viva mais um pouquinho e eu prometo que não vou te dar mais desgosto nessa vida, vou te dar muito orgulho vó, eu ainda preciso ficar rica e te levar para aquelas viagens vó... - meu peito estava dilacerado, mas eu precisava falar para ela, precisava mostrar para ela que eu tava ali e o esforço dela não foi em vão, precisava falar tudo para ela antes que fosse tarde demais...

...

Os meses se passavam, ela ia piorando, meus vícios e os meus demônios também, a minha barriga ia crescendo e a esperança de algo bom ia diminuindo, e conforme a vida da minha vó ia acabando a minha vontade de viver também ia junto. É, realmente o mundo inverte tudo, leva as pessoas boas primeiro, deixa os bons sofrendo nas mãos dos maus e com o tempo, só ganha a maldade, a morte e a desgraça

OI GENTEEE, FINALMENTE UM NOVO CAPÍTULO PRA VOCÊS, DESCULPEM A DEMORA, MAS AQUI ESTÁ. ESPERO QUE GOSTEEEMMM.

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⏰ Última atualização: Jul 16 ⏰

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