- 𝐌𝐚𝐤𝐞 𝐇𝐞𝐫 𝐌𝐢𝐧𝐞? -

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Na sala escura e fria, o tempo parecia ter parado. Eu podia ouvir os sons abafados do mundo lá fora e ocasional o arrastar dos pés dos capangas de lírio enquanto eles passavam. O ar nesse lugar, que se parecia mais com uma prisão era pesado, como se as paredes estivessem tentando me cercar.

Até que ela apareceu, com seus longos cabelos ruivos que caíam sobre os ombros. Fui levado a uma cozinha luxuosa, onde fui forçado a sentar-me em uma grande mesa com ela, como sempre. As refeições eram sempre silenciosas e desconfortáveis, mas nesses jantares eu a observava. Eu não podia deixar de admirar seus cabelos ruivos e sua crueldade.

Enquanto a observava, me perguntei que tipo de jogo distorcido ela estava jogando. Não entendo se com esses jantares ela está tentando me quebrar ou apenas aproveitar o poder que exerce sobre mim. Eu não sabia e com certeza irei me atrever a perguntar.

Ela sentou-se em frente a mim. Suas unhas vermelhas enroladas nos talheres e o batom vermelho brilhava em seus lábios carnudos.

Me lembro da noite anterior, quando ataquei um desses malditos que estão sempre me observando. Eu esperava ser punido, mas ela não fez nada. Ela não disse uma única palavra sobre isso. Então, eu decidi quebrar o silêncio e perguntar a ela. Uma jogada arriscada, mas, afinal, o que eu tenho a perder?

Limpei a garganta e olhei para ela. "Por que você não fez nada ontem à noite? Me torturar não te diverte mais?"

Ela simplesmente sorriu e, por um momento, eu pensei que ela fosse rir. "Eu vi o que você fez." disse ela, com a voz baixa e rouca. "E eu sei que você é capaz de muito pior."

Ela se inclinou para frente, os lábios vermelhos a centímetros de minha orelha. "Eu posso fazer você sofrer" ela respirou, sua voz cheia de malícia. "E posso fazer você implorar por misericórdia. É por isso que não te castiguei."

Deixei escapar uma risada sarcástica e respirei fundo antes de falar. "Por que você me faz jantar com você todos os dias?" perguntei, não apenas tentando quebrar o silêncio constrangedor que pairava sobre nossas cabeças desde que eu fui trazido para cá.

Para meu choque, ela respondeu. "Porque eu sei sobre o seu passado." disse ela, com a voz fria e clínica. "Sobre seu padrasto, o que ele fez com você... E oque você fez com ele."

Senti como se alguém tivesse me dado um soco no estômago. Eu nunca contei a ninguém sobre meu passado, nem mesmo para Bill. Nossa mãe e nosso padrasto haviam se separado e eu tive o azar de ficar com ele. Como ela poderia saber disso?

Eu tentei disfarçar o choque com um sorriso forçado. "Bem, isso foi há muito tempo. Não vejo como isso seria relevante agora." disse, tentando parecer brincalhão e despreocupado, como sempre. Mas ela viu através disso.

"É relevante porque explica a forma que você age... Como se não tivesse medo de nada." disse ela, com uma pitada de diversão na voz. "Você já passou por muita coisa para ter medo de alguém ou de alguma coisa. Por isso consegue ser tão cruel e imprudente."

Eu senti como se ela tivesse lido minha alma com apenas uma resposta. Não gostei da sensação de vulnerabilidade que tomou conta de mim. Tentei lutar contra isso, agir como se não tivesse sido afetado pelas palavras dela. Mas no fundo, eu sabia que ela estava certa.

Eu estava me perguntando há muito tempo oque havia mudado na mulher à minha frente. No início, ela foi cruel e indiferente, me maltratando e torturando sempre que podia. Mas nos últimos meses ela tinha sido mais gentil. Isso não faz sentido para mim. Por que alguém que me aprisionou e me tratou tão duramente mudaria de repente? "Falando assim até parece que você se preocupa comigo. Me trazendo para jantar... Parece piada. Você é sádica."

Ela olhou para mim por um longo momento e depois soltou uma pequena risada. "Você realmente quer saber?" ela perguntou, seus olhos encontrando os meus.

"Se eu perguntei. O que você acha?"

Ela respirou fundo antes de falar novamente. "Talvez eu não te odeie tanto assim mais, bobo."

Fiquei em silêncio, tentando processar o que ela havia dito. Mas a verdade estava bem na minha cara. Ela gostava de mim? o tempo todo? e eu fui cego demais para perceber isso...? Não pode ser.

Os olhos dela penetraram em mim com uma mistura de desejo e confusão. Olhei nos olhos dela e vi como eles brilhavam, a forma como seus lábios se curvavam em um sorriso. Eu nunca tinha notado antes o quão linda ela era. Já faz algumas noites, que eu tenho sonhado com ela, em abraçá-la. Eu queria que ela fosse minha?... Torná-la... Minha? Eu nunca admitiria isso para mim mesmo, mas no fundo, eu queria a atenção dela?


Eu não sei...

Âmago - Tom Kaulitz E Bill KaulitzOnde histórias criam vida. Descubra agora