Joga o cigarro pela metade. Você só estraga o cigarro, porra! É à minha maneira de viver, sentir a vida pela metade. Não posso senti-la por inteiro. A angustia associada ao viver na ansiedade domina o que tenho em existir. Suspira! Existir! Para que existir? Porque devo existir? Para quem? Tem algum significado? E qual é? Acende outro cigarro. Joga o isqueiro que bate na parede e cai no tapete vermelho. Preciso sair. Não se mexe. Paralisado no décimo quinto andar. Ouve a lamuria dos carros escorregando raiva e ódio pelas ruas da cidade. Quero estar lá e não aqui neste apagado existir. Com as costas apoiada a parede procura aliviar a dor. Tem que decidir se deverá morrer ou viver ainda hoje. O destino permitirá que ele faça a escolha? Ou não tem permissão para tomar decisão? Foi imposto a ele não decidir? Sofre ao lembrar dos fatos. Não se esforça em esquecer. Sabe que não deve se lembrar de nada e no entanto lembra. Principalmente daquela noite. Noite encravada nos ossos da sensível pele. Se arrepende por não falar o que era necessário. Fara diferença se falar agora? Depois de todos esses anos? Mudara alguma coisa? Pensa que sim. Tem que mudar, diz ao espelho que mostra alguém que ele não conhece. Anda pelo apartamento como barata tonta. Merda! Recorda de tudo. Até quantas vezes dissera a mesma coisa. Lembra dos olhares, dos beijos, das falas, não lembra das palavras, o que deveria ter falado, não lembra. Merda! Acende outro cigarro, novamente joga pela metade. Mais uma vez determina a vida pela metade. Apaga a luz. Deita no tapete vermelho e dorme profundamente.
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Pela metade
RandomJoga o cigarro pela metade. Você só estraga o cigarro, porra! É à minha maneira de viver, sentir a vida pela metade. Não posso senti-la por inteiro. A angustia associada ao viver na ansiedade domina o que tenho em existir. Suspira! Existir! Para que...