oi de novo!
essa é a one mais curta da week, mas é a mais deprimente também.
boa leitura!· palavras: 530.
· morte; luto; angústia.[···]
O que é pior que a dor da morte?
A dor da penumbra, da impotência, do esquecimento.
O dia mais solitário de sua vida foi quando se deu conta que já não lembrava da forma que sua voz soava de manhã.
Como poderia tê-lo perdido assim? Como foi capaz de deixá-lo escapar de suas mãos sempre tão atentas? E agora, como era possível as memórias ousarem se esvair? Nunca se odiou tanto quanto na noite que dormiu sem se despedir.
Talvez todas as coisas precisassem de um fim. Mas, a verdade é que o próprio luto não tem um ponto final definitivo. Você sofre eternamente. Ou ao menos até começar a esquecer, e então o luto é outro. Se antes se esforçava para tentar esconder as memórias de si mesmo, para negar a morte ao máximo, agora Tomas tinha de forçar-se a se lembrar das pequenas vidas dentro de duas maiores.
Nunca fora de rezar, seja para o Deus que fosse. Mais novo, até tentaram lhe colocar o catolicismo garganta abaixo, mas não engolia essa ideia por gênio forte. Depois, passou por de tudo um pouco, e as dores agravam quando se sente sozinho. Independentemente de ser um médium ou um bruxo essa semana, estava completamente sem chão. Sem fé. Sem recordações. Por uma única vez, se ajoelhar-se com um terço nas mãos significasse ouvir um sussurro de "bom dia" da forma que Gaspar lhe dizia nas manhãs geladas de domingo, então o faria mesmo sem crer.
Mas não o fez. Sequer tinha força alguma de abrir os olhos na dita manhã gelada de domingo. Gostava do frio quando tinha alguém para o aquecer. Dessa vez, sentia-se mais gélido que poesia rasa. Passar por mais um dia na sua solidão escura parecia um pesadelo pior do que os que tem tido recentemente, quando consegue pegar no sono. Faz anos. Já devia ter se acostumado com a melancolia arrastada. Sim, esse era seu estorvo - se acostumou até demais. Isso não é sobre perdas necessárias, mas sobre o desgaste de seu estoque de boas memórias.
Assim como deixou Gaspar ser pego pelos truques do tempo, tinha notado que estava se permitindo ser levado também. Talvez não como ele, daquela forma tão brusca e inevitável, mas devagar. Como uma espiral de hipnose lenta e gradual. Arrancava-lhe pouco a pouco as lembranças da mente, abandonando-o no meio do caminho, recorrendo únicas partes físicas do passado - aquele amuleto. Ou então aquela fotografia. Aquela letra de música. Bilhete de "volto logo", esse o qual nunca tinha voltado de verdade para retirar da porta.
Agarrava-se às poucas cartas que lhe escrevera antes mesmo de se beijarem pela primeira vez. Gaspar escrevia feito um cupido de flecha certeira. Tomas lia e relia todas as suas palavras como se fossem graças a serem saboreadas uma a uma. O inferno de não conseguir mais ouvir sua voz dentro da cabeça recitando os doces poemas de amor inocente. A tortura do descontrole sobre si mesmo.
Gaspar morreu uma vez.
Tomas morria todos os dias que acordava longe dele. Dias em que preferia ter ido em seu lugar.
Morria cada vez mais ao sentir-se distanciar das escassas memórias de amor.
Notas:
a week ta acabando, que tristeza! :(
amanhã temos a one mais longa da week pra compensar, e depois, começa a Gal Week de 2023! vou tentar ao máximo participar dela também.
obrigado por ler!
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