bolos de flor

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Toda minha infância

Lacrada

Trancada numa caixa

Moldada

Cortada as asas

Maltratada até que coubesse no tabuleiro

Ou naquela forma de biscoito que todos usavam

Perdida

Não posso mais voar

Minhas panelas já não fazem a melhor comida

Meus filhos viraram plásticos e pelúcias

Não sou mais a princesa, prodígio, guerreira ou a maga da história

Sou só eu

O bolo que cresceu com o calor do forno dentro da forma de flor

Agora querem que eu seja torda

Que eu me destaque dos outros bolos de flor

Ninguém untou a forma

Dói

Pedaços de mim ficam pra trás

Não!

Pedaços da casca moldada ficam presos

Eu volto a ser eu

Eles não aceitam

Me empurram de novo

Eu resisti

Eu não me encaixo

Eu sou eu

E algo mais

A princesa, prodígio, guerreira e bruxa da história dos bolos de flor

A que quebrou e não voltou pro forno

Mari_RC

02/10/2023

poeminhas sem sentidoOnde histórias criam vida. Descubra agora