Capítulo 1

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Paloma Bianchi:

Um belo dia se levanta pela manhã, finalmente são cinco da manhã e o céu já não é mais escuro, tendo as nuvens peroladas e a confusão de laranja e azul é ridiculamente bela. Quem diria que depois de uma noite de assassinato se levantaria um dia assim? Bem, para que haja beleza é necessário haver tristeza.

Observo a paisagem pela janela do café, o vidro embasado pela névoa costumeira do inverno e as gotas de água escorrendo pela janela.

- Seu café latte, senhora. - A jovem atendente diz ao abandonar minha xícara de café sobre a mesa. Sorrio de canto para ela, recebendo a bebida.

- Obrigada, querida. - Puxo o pires para perto e seguro a xícara pela alça, levando-a ao lábios e bebericando o café. A adolescente se encolhe envergonhada, dá meia volta virando os calcanhares e caminha até o balcão.

Onde está este filho da mãe? me faz acordar a este horário depois de uma noite tão longa e não aparece! já estou perdendo a paciência. Então, para a minha felicidade e infelicidade internas, Patrick Halminton Harris abre a porta da cafeteria, o som do sino de entrada ecoando pelas paredes e atraindo o meu olhar por trás dos óculos escuros. Lá está ele, o mesmo smoking cinza amarrotado e  velho e cabelo castanho bagunçado. Chega a parecer engraçado, como um homem repleto de dimensões e poder consegue ser tão facilmente fragilizado com gestos tão pequenos de persuasão. E isso apenas torna muito mais divertido "brincar" com ele. Seus olhos castanhos me procuram entre os acentos nas mesas, até, então, seus olhos caírem sobre mim. Sorrio de canto e indico minha localização.

- Há quanto tempo, Sr. Harris. Parece mais abatido do que da última vez, café? - Aponto para o cardápio sobre a mesa.

- Não foi para isso que vim aqui, Paloma.

Abro um sorriso encorajador, os olhos cintilando e cruzo as pernas. Coloco os cotovelos sobre a mesa e seguro meu rosto entre as mãos, atuando ao máximo uma expressão serena e "inocente". Podem me dizer tudo nesse mundo, mas não podem dizer que eu não faço bem o meu trabalho, que se resume a: seduzir, guiar até o abismo, e deixar que alguém se sinta vingado ou vivo empurrando o iludido do abismo. Eu sou uma mulher persuasiva, isso não significa apenas astúcia e inteligência, me permite também ser um pouco travessa... E é claro que vou me divertir ao máximo possível com este talento nas mãos. Alargo o sorriso que me repuxa os lábios, apenas por ver sua imagem desconfortável e vulnerável.

- Claro, então... negócios? Suponho. - Desliso o dedo anelar sobre a alça da xícara.

O alto homem se senta no acento em frente ao meu na mesa apertada.

- Srta. Bianchi, sabe que já trabalhamos juntos há um período de tempo... considerável.

Reviro os olhos, logo direcionando os mesmos para as minhas mãos sobre a mesa.

- Ora, Patrick, poupe as formalidades! Não é assim que você fala comigo em particular, não?

Deixo escapar um riso abafado de satisfação e vitória ao vê-lo retrair o rosto.

- Certo... Então... Se lembra do agente que comentei com você na última vez?

- No hotel?

- Isso, pouco antes de Anna se apresentar. - Sua voz saí rouca ao pronunciar o nome da ex-esposa.

 Anna Halminton Harris. Esta mulher era uma pianista de dar inveja, um sonho quase impossível  de se conquistar para pianistas iniciantes. Anna era aclamada, foi mesmo uma pena ter que fazer o que fiz com ela, apenas trabalho! Não leve a mal. Anna, Patrick e Nolan, o único filho deles, moravam em Washington antes de Anna ficar maluca de vez; recentemente ele e o filho vieram morar em Sacramento, já que ela está num hospício, o lugar dela, e o meu, eu suponho. Eles se mudaram para cá agora por causa do Nolan. Soube que começou a cursar a faculdade de artes, aquele molequinho que eu usei como isca para fazer Anna calar a boca realmente cresceu bastante! Solto um riso divertido ao me lembrar daquela família.

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⏰ Última atualização: Jul 04 ⏰

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