"favorita"

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o dia em que eu posto isso finalmente chegou...
boa leitura.

· palavras: 1.078
· nsfw.

[···]

Toda noite a mesmíssima coisa.

Gal subia no palco, se apresentava, sentia o tempo voar e saía.

Simples assim, era o que transparecia.

Mas não era bem isso.

Tinha muito orgulho de tudo que já conquistou. Deixava clara sua gratidão aos que o assistiam em shows, acompanhavam lançamentos de álbuns, pediam autógrafos na pele para tatuar por cima. Podia ser bastante atencioso quando se tratava dos fãs que lhe proporcionaram a fama que sonhava quando era menino. Não foi uma só vez que algum casal pediu que tirasse uma foto com o filho. Adorava o sentimento de estar fazendo a diferença na vida de alguém. Em contrapartida, não era sempre que os pais podiam deixar as crianças assistirem às performances do artista.

Dessa vez, não foi diferente.

Todo bom guitarrista tem sua guitarra favorita. Conforme as músicas passavam, Gal trocava uma pela outra, demonstrando sua maestria em tocar das Strato às Flying V. A questão aqui é a de que era capaz de se controlar com qualquer uma, até chegar o fatídico solo que encerra a noite – tocado na ESP KH-2 MII, no modelo Ouija. Essa tinha a base pintada de preto, com figuras do tabuleiro entalhadas à mão em dourado, além de detalhes por todo o braço. Seu brinquedo mais precioso, visto que a ESP produziu apenas 500 guitarras originais nesse modelo. Não era só a predileta dele mesmo, como a de muitos da plateia também, que logo se alarmou ao vê-lo trocar a última Les Paul por ela.

Não tinha mais como se segurar agora. Seus dedos longos deslizavam corda por corda, indo e vindo pelos trastes distorcendo os amplificadores, com cada vez mais vontade. Curvou as costas, o cabelo cobrindo por completo seu rosto em expressões especialmente eróticas, clamando descontroladamente por mais adrenalina, por mais intensidade.

Não era possível sequer saber quem gritava mais ali, o vibrato, a plateia ou o próprio guitarrista por trás daquele solo tentador. Nem mesmo Gal sabia o que passava na mente quando tocava dessa forma. Não há ideias sólidas, só uma torta linha de notas musicais bizarramente sedutoras que deveria seguir, em teoria. Mordeu os lábios desesperado, sentindo o couro apertado da calça contra a parede quente do instrumento. As pernas já tremiam, e pior do que nunca os joelhos falharam. Mas que guitarrista não tocou de joelhos ao menos uma vez na vida?

Ele gemia, chorava, gritava por trás dos cabelos colados na testa. Os dedos doíam, fazendo ele xingar da boca para fora, adorando cada segundo daquela tortura absurda. Queria mais. Implorava por mais incessantemente.

Um bom solo de guitarra se assemelha ao caminho até um orgasmo. Dedilhar as cordas, reconhecer seus sons harmônicos, se acostumar com eles. Buscar o que mais é prazeroso de escutar, estudar seus acordes, abusar de suas combinações. Experimentar suas afinações, distorções, construir uma estrada de notas melódicas até um ponto final satisfatório. Seguir essa estrada, brincar com improvisos, sentir os fios de aço vibrarem cada vez mais rápido, cada vez mais forte, cada vez melhor. E então, sim, um clímax.

Seu clímax. Ajoelhado, arqueando as costas para trás num alívio desconcertado, a cabeça encostando no chão atrás de si. Ele ria, sem vergonha, mas ainda não se dava por satisfeito. O público amava isso, a graça de assistir o escândalo sexual que era Gal. Sendo assim, termina-se mais uma performance ao som dos aplausos ensurdecedores.

Mais alguns instantes no palco agradecendo à presença daquelas pessoas, brincando de fingir tirar uma peça de roupa – ou realmente tirando e jogando-a à plateia – e tentando ao máximo esconder a marca que a calça justa realçava, e então, por fim, podia despedir-se.

Desceu as escadas às pressas. Mãos o tocando de todos os lugares, seja para retirar os equipamentos que tinha ao corpo ou entregá-lo um lenço para remover um pouco da maquiagem pesada. Foi oferecido um inalador, caso a falta de ar tivesse agravado, mas negou tranquilamente. Seguiu ainda certeiro ao seu camarim principal, no qual não encontraria nada além do seu maço de cigarro e uma boa bebida.

Não deve justificativas, ignorou todo o tumulto o máximo que podia até fechar a porta à chave e dizer  “vinte minutos p’ra eu respirar”.

Se encostou contra a parede, arrancando as luvas sem dedos com a boca. Não demoraria vinte minutos com o que queria fazer, mas certamente precisaria deles quando terminasse. Normalmente, consegue segurar até chegar no hotel, porém, dessa vez não aguentaria nem mais um instante. Ele se recordaria da adrenalina correndo no sangue com muito mais clareza se prosseguisse o quanto antes.

Suas mãos foram em desespero até a calça, tirando-a do caminho prontamente enquanto ele contorcia o pescoço para trás tentando não gemer tão alto. Sabia que tinha uma infinidade de pessoas do lado de fora que pagariam quantias absurdas de dinheiro ou dignidade para ajudá-lo naquele momento. Não eram ideias ruins de imaginar, alguém atraente que se derrete por ele o aliviar após o show era um cenário agradável, mas o desespero e a pressa gritavam mais alto por acabar logo com essa tensão torturante.

Sendo assim, fez o que podia, e ainda do jeito que mais gostava. Não pensava em nenhuma pessoa ou fantasia sexual que o deixasse excitado, apenas na sensação indescritível que tinha quando brincava com aquela guitarra. Sua favorita, dele e apenas dele. Ninguém mais podia encostar em seu corpo ou tocar suas cordas, isso sim o agradava. Seus choros de prazer se misturavam com o som do outro lado, uma música alta com as notas se manifestando por ele de volta. Era como se pulsasse no ritmo da bateria.

Gal deixou escapar um gemido mais alto ao perceber seus sentidos se esvairem conforme tinha alcançado o orgasmo que um solo de guitarra proporciona. Suspirou, seu cérebro ainda processando aquela onda de fascínio. Se deu conta lentamente da situação em que se colocou, sorrindo fraco e  recuperando-se mais um pouco. Xingou baixo, abrindo os olhos lentamente e lembrando dos compromissos aos quais atenderia logo mais. Então, xingou de novo, até se estabilizar completamente.

Taxariam-no de insano por sentir um prazer tão intenso vindo de um objeto inanimado. Cá entre nós, a guitarra faz boa parte do trabalho, mas toda a sensação de estar em um palco com milhares de pessoas o assistindo também impacta a equação. Gal era um homem cheio de desejos, e realizá-los escondido dentro do seu camarim fazia parte da vida artística.

Notas:
queria ser uma câmera de segurança nessas horas.
enfim, a week terminou! muito, muito obrigada por acompanharem ela comigo. ainda tenho algumas ideias de ones mas claramente não vou mais estar postando todos os dias. porém, espero que nos vejamos em breve.
(tt pacocadogal)

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"favorita" | #GalSalWeek dia 7 - tema livre.Onde histórias criam vida. Descubra agora