Grimório do Caos

Prólogo

"Mas, quanto mais os afligiam, tanto mais se multiplicavam e tanto mais cresciam: de maneira que se enfadavam por causa dos filhos de Israel" - Êxodo 1:12

¹ De olhos fechados, sentindo o cheiro de queimado; a fumaça e o som do fogo o fazem se dar conta das chamas que explodem sua cama. Pitz está acordando do sono da morte.

² Agora pode ouvir também os sons de pancada na porta de entrada da casa; apesar do volume alto da música tocando. Ainda apresenta dificuldade para se mexer, mas está "vencendo a overdose rapidamente".

³ Algo pesado o atinge na cabeça; a televisão que despenca do suporte danificado através do fogo. Ainda que caído no chão sangrando pela nuca, estando um pouco tonto; desnorteado e de visão turva; ele se levanta. Costumeiramente vive aquilo; não se dá conta do que está acontecendo; mas algo o faz retornar a si.

⁴ - Pera aí. Eu já vou abrir essa merda! - Responde em berros.

⁵ Provavelmente é algum vizinho enxerido batendo na porta. Claro, óbvio que a idosa da casa ao lado adoraria se intrometer e discutir sobre som alto e nuvens de fumaça na casa dos outros.

⁶ Andando até a porta, continua ouvindo batidas incessantes nela, o que faz ele anunciar sem paciência; porém com mais raiva.

⁷ - Se for o negócio da fumaça, é algo que eu já to resolvendo. Não é da sua conta; pode voltar pra sua casa. - Está destrancando a porta.

⁸ É no meio da fala; levantando os olhos enquanto abre a porta, que ele percebe. Tem diante dele uma pessoa, com aparência de cadáver e olhos vermelhos que mais parecem bolas de fogo. Não é só um, pois logo atrás, estão se aproximando um grande número de seres semelhantes.

⁹ Aquilo avança diretamente para cima dele. Mordendo seu ombro; o faz ficar roxo até sangrar. Resistindo com a própria força; seu coração está acelerado. Dá uma série de socos no monstro; o que faz este largar, e em seguida, um empurrão; suficiente para desequilibrá-lo. Assim; num chute consegue empurrá-lo para fora.

¹⁰ Tentando trancar a porta, precisa segurar a mesma; que está sendo empurrada pelo outro lado com pancadas. Sua mão está tremendo tanto, que não consegue girar a chave; sua frequência cardíaca está aumentando.

¹¹ As batidas na porta, com ela destrancada; só podem ser impedidas por ele, que a segura com o peso do próprio corpo.

¹² - Que isso? Que putaria é essa? - Não entendeu muito sobre o que está acontecendo – Ah cara, acho que eu tenho que parar de cheirar; essa merda não tá me fazendo bem.

¹³ Cogita chamar a polícia, mas não é possível; ele não está com o celular. A situação levanta na mente uma hipótese sombria; mas está paralisado pelo que sente. Perdendo o fôlego e arrepiado; ele não sabe o que vai fazer. Imagine, pode ser um efeito alucinógeno, claro; mas não parece.

¹⁴ De repente, sem aviso; a janela explodia em vários pedaços; sendo golpeada com um machado, que é empunhado por uma daquelas coisas; que ao pular pela janela olhou fixamente o seu rosto, com um olhar demoníaco; uma expressão de ódio que ele nunca havia sequer visto no rosto de alguém.

¹⁵ Está paralisado e sem palavras diante dessa cena; continuando com a tremedeira nas mãos. Quando o machado cortou o ar, abrindo a cortina de fumaça que está na casa; Pitz quase foi atingido. Retornou a si; correndo; subindo as escadas, sem pensar muito.

¹⁶ - Que merda é essa? - Suspira repetidas vezes.

¹⁷ Pitz se encaminha em alta velocidade pro quarto, quase caindo nos próprios passos; adentra numa camada ainda mais espessa de fumaça. Cheio de adrenalina, sente a euforia dobrar quando vê seu perseguidor a 2 passos de atingi-lo. Os demais monstros estão com ele.

¹⁸ Dentro do quarto; a chave acoplada na fechadura, ele fecha. O guarda-roupa fica de lado, encostado em duas das paredes do quarto; suas portas estão quase encostando na borda da cama. Pitz está nesse espaço entre a cama, averiguando; batendo numa madeira oca no interior do guarda-roupa; um espaço escondido é aberto. Ele procura algo ali, apalpando com as mãos.

¹⁹ O machado atinge diversas vezes a porta do quarto, com golpes que fazem voar estilhaços de madeira por todo lado. O monstro do machado conseguiu; arrombou a porta. Os olhos de fogo se aproximam com intenções violentas. 

²⁰ Fora da casa, após o grito, pode-se ouvir vários estrondos; são sons de tiro. Pitz pula da janela do seu quarto no segundo andar; e escorregando pelas telhas, joga o machado longe. Caindo com as costas no piso e insistindo em não gritar de dor; mas sua expressão o entrega.

²¹ Aos poucos se arrasta como uma lesma, aproximando-se do machado que está no chão; encarando as outras figuras cadavéricas; as que passavam na rua, mas agora se apresentam diante dele.

²² Está com medo, porque sente que vai morrer. Ele quer aceitar essa realidade no seu coração; está tão frustrado, e com o coração tão acelerado enquanto pensa; que então está sentindo o mundo passar devagar.

²³ - Que vida mais bosta; e ainda morrer para isso, sem saber o que é.

²⁴ Sem dar muito tempo para deixá-lo pensar; de cima do telhado, um "morto" pula como se fosse um gato em direção ao chão, mas estralando os ossos no impacto.

²⁵ - Eu até queria aliviar pro meu lado, tá ligado... mas se isso acontecer... ah que porcaria; eu não quero morrer aqui.

²⁶ Ainda se mexendo, se agarra nos braços do rapaz para mordê-lo. Mas é sem hesitar que Pitz gira o cotovelo com grande velocidade, atingindo o rosto do monstro, que então foi impulsionado pelo impacto. O rapaz saca o revólver, girando o tambor; emocionado. Apartir dali, começa uma sequência de disparos; formando uma chuva de sangue; colorindo de vermelho o cabelo, a face e as roupas. Só há mais uma munição, e dois mortos-vivos.

²⁷ Mira com as mãos tremendo; visualizando seu inimigo... quase que inevitavelmente, ele erra o alvo; mas não o tiro, que pegou no ombro; mesmo assim não impediu aquilo. O outro zumbi pula por cima daquele ombro ensanguentado; indo para cima e espancando Pitz, com golpes sem técnica.

²⁸ Eles agora o mordem no chão. Não são tão fortes para arrancar pedaços de imediato, mas isso está quase acontecendo. Ele puto, prensa com a mão direita o rosto do primeiro; fazendo-o borbulhar de calor, espalhando sangue e carne pelo chão.

²⁹ Enquanto isso, estende a esquerda pro lado, onde está o machado. Começa a se levantar e arrebentar a cara do segundo monstro. No primeiro golpe, a coisa para de morder; no segundo ela cai; e no terceiro ela já não se mexe mais. Ele ofegante, limpa a própria roupa sacudindo-a com as mãos; e preocupado, ao ainda ver monstros pulando pelas janelas e saindo pela porta; corre com toda a energia que tem. A cena atual no quintal, é uma carnificina; com tinturas vermelhas que pintam horrendamente uma expressão artística, e corpos no chão, que mesmo mortos, ainda se mexem; agonizam juntamente numa dança cruel.

³⁰ Pitz está correndo e arrastando o machado pela rua; emitindo sons de lâmina agredindo o chão. Depois de experienciar tudo isso; chegou numa conclusão plausível.

³¹ - Esses putos só podem ser zumbis!