Prólogo

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Na era da tecnologia, época onde as pessoas acabaram esquecendo um pouco da vida por não conseguirem largar os aparelhos eletrônicos um único segundo, Jay acabou se tornando uma delas. Mas mesmo estando ligado a tudo isso e estando sempre perdido em meio ao caos que existia nas redes, Jay encontrou alguém que lhe fez voltar a amar a vida e apreciar os mínimos detalhes que nem mesmo a mais avançada tecnologia é capaz de nos proporcionar.

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Era tarde da noite de uma quinta-feira, dia 22 de dezembro do ano de 2022, Jay voltava de seu último show do ano. Park era um músico conhecido pelas ruas de Seul, vivia de sua música e aquilo era o suficiente para viver bem.
Voltava andando da casa de shows que se localizava no centro da cidade, passando pela ponte do Rio Han em meio ao percurso, local onde decidiu parar para descansar suas pernas já cansadas da caminhada. Sentou em um banco ali próximo e retirou seu violão da bag que o revertia, o apoiando em sua perna e não demorou para que ligeiramente Jay dedilhasse as cordas do instrumento, lançando uma melodia calma ao ar frio daquela quase madrugada de dezembro.
A rua estava vazia, mas Jay sentiu uma presença ao seu lado e de início ele sequer deu importância para quem seja que estivesse ali, então apenas continuou tocando, até que ouviu uma voz dizer:

- Oi, meu nome é Jungwon! Pode me chamar de Wonnie.

Jay por sua vez encarou o dono daquela voz. Era um garoto de fios castanhos, ele vestia um moletom com mangas longas e capuz brancos e uma parte laranja que parecia mais uma camisa por cima, mas olhando para a barra, era notável que era apenas o estilo da peça. A parte laranja de seu moletom tinha letras soltas que pareciam formar a palavra "Mind" e ele combinava aquela peça com uma calça jeans clara e sapatos brancos, carregando consigo uma pequena mochila também branca.
Sem deixar de dedilhar as cordas do violão e deixar soar a melodia de sua composição mais recente intitulada de "Just A Little Bit", Jay olhou brevemente para o garoto após sua apresentação mesquinha, rapidamente voltando sua atenção ao que fazia, não dando importância à ele, mas novamente ele ouviu aquela voz, agora soando mais melancólica.

Jungwon - Me desculpa...

Ao ouvir o pedido de desculpas, Jay Park suspirou e parou de tocar, agora decidindo dar alguns míseros segundos de atenção ao garoto sentado ao seu lado, se questionando mentalmente o motivo de não ter pegado um táxi para ir até sua casa.

Jay - Não, tudo bem. O que você quer?

Agora, mais uma vez, tinha seu olhar no garoto de olhos grandes, dessa vez permanecendo com ele fixo à ele.

Jungwon - Eu tenho perda de memória recente

Seu tom de voz era baixo e triste, mas honestamente, aquilo fez Jay rir disfarçadamente. Claramente ele era só um pirralho que gravava vídeos para a Internet pregando peças nos outros por aí

Jay - Sério? Eu sinto muito - seu tom foi pouco irônico, contendo mais um tom de solidariedade, por mais falsa que ela fosse. - Você precisa de ajuda? Se quiser posso ligar para alguém da sua família.

Rapidamente antes mesmo de terminar o que falava, Jay estava com seu aparelho em mãos, só queria se livrar do garoto o quanto antes.

Jungwon - Oi! Me chamo Jungwon!

Ele repetiu aquela apresentação tosca e aquela brincadeira estava deixando Jay bravo. Que tolice essa de sair por aí à essa hora e fazer esse tipo de brincadeira com as pessoas, mas Park decidiu que manteria sua calma e não explodiria com um garoto qualquer.

Jay - Você já disse isso - proliferou em um tom pacífico.

Jungwon - Disse? Não me lembro. Desculpa, eu tenho perda de memória recente... qual seu nome?

Jay - Pode me chamar de Jay.

O garoto virou-se um pouco e começou a mexer em sua mochila, não levando muito tempo para tirar uma caneta dali e começar a escrever com ela em seu braço. Park nunca foi de se importar com o que os outros faziam, mas não entendia que cabimento tinha ele fazer aquilo exatamente naquele momento, então decidiu lhe questionar.

Jay - O que você está fazendo?

O garoto por um tempo não o respondeu, apenas continuou escrevendo em seu braço. Já cansado daquele importuno, Jay se preparou para levantar, mas quando ia guardar seu violão, escutou a voz alheia lhe responder.

Jungwon - Escrevi seu nome no meu braço pra nunca te esquecer. Você é meu primeiro amigo.

Um silêncio se instalou entre os dois por um longo período de tempo. Jay começou a questionar em sua mente se aquilo era de fato uma brincadeira ou se ele falava sério. O rapaz de fios azuis não conseguiu falar uma palavra sequer, ele ficou olhando para o seu nome escrito no braço do garoto e aquele silêncio só foi cortado quando Jungwon falou algo novamente.

Jungwon - Me ajuda a encontrar minha casa?

Jay - Está perdido?

Jungwon balançou sua cabeça em concordância ao questionamento feito por Jay, o fazendo franzir o cenho em um semblante confuso.

Jay - Você sabe a localização da sua casa? Eu posso procurar na Internet e...

Sua fala foi interrompida pelo garoto que levantou do banco e caminhou para o outro lado da ponte. Ele parou ali por alguns segundos com seus olhos fechados, parecia sentir a brisa fria daquela quase madrugada. Jungwon estendeu sua mão para fora do corrimão da ponte e sentiu alguns flocos de neve caírem sobre sua mão, o que o fez abrir seus olhos, esboçando um grande sorriso em seu rosto.

Jungwon - Olha! Neve!

Animado, ele foi mostrar para Jay os poucos flocos em sua mão, fazendo com que Park olhasse para cima, vendo flocos de neve começarem a cair.

Jay - Primeiro dia de inverno...

Jay apressou-se em guardar seu violão na bag, levantando do banco enquanto sua mão livre arrumou suas roupas.

Jay - Sabe a localização da sua casa?

Aquilo mais uma vez foi questionado ao garoto que parecia decepcionado pela falta de atenção de Jay para aqueles poucos flocos de neve em sua mão, mas que ainda assim, respondeu ao questionamento com um aceno de cabeça negativo.

Jay - Inacreditável... - reclamou baixo - Como espera que eu te ajude a encontrar sua casa?

Um silêncio mais uma vez se tornou presente e o garoto voltou à beira da ponte, dessa vez olhando na direção do rio.

Jungwon - A Toupeira uma vez disse: "Quando estiver perdido, siga o rio e voltará pra casa". Vamos seguir o rio.

Jay não conseguia acreditar no que ouvia, mas a pior parte daquilo tudo é que ele não conseguiria deixar o garoto sozinho por aí naquele horário. Ele não tinha outra opção que não fosse seguir o rio com o garoto.

Jay - Tudo bem. Vamos indo, temos uma longa e fria caminhada.

Sem acreditar que ele realmente faria aquilo, Jay caminhou com Jungwon, seguindo o Rio Han enquanto os primeiros flocos de neve da primeira noite de inverno caíam sobre os dois e o chão, deixando para trás apenas suas pegadas em meio à pouca neve caída ali.

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