1. Fabiana Rojão

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Belle

Me encosto na porta escorregando até o chão, os saltos saem voando do meu pé e um suspiro deixa meus lábios. Por quanto tempo vou conseguir aguentar isso?

Fico ali olhando pela enorme janela de vidro, as luzes da cidade a noite fica lindo. Pelo menos algo de bonito no final do dia. Sinto meu celular vibrar contra minha coxa, vejo uma chamada na tela de um número desconhecido.

Desligo.

Me levanto e ando até a cozinha pegando uma garrafa de suco e tomando no bico mesmo. Me jogo no sofá e fico pensando no dia de merda que tive, me entupindo daquele líquido sem teor alcoólico.

Meu celular volta a vibrar na minha mão, desligo novamente. Tomo mais um gole generoso de suco, a vibração volta me deixando irritada.

Não se pode mais nem sofrer em paz?

Atendo me sentando ereta pronta para xingar até a última geração do ser humano que me ligava.

– Oi linda.

– Linda é o caralho, com quem falo?

– Pode me chamar de alguém, só queria avisar que roubei seu carro e tem um monte de papéis de trabalhos que parecem importantes.

– Que tipo de ladrão meia tigela é você que liga pra pessoa que acabou de roubar?

– O ladrão que só quer o carro e não um monte de papéis, sério você é uma assassina de árvores. Já pensou em se voltar para a tecnologia?

– O modo como trabalho não te interessa, tire as mãos agora dos meus papéis seu arremedo de gente.

– O miss simpatia, vai querer os papéis ou não? Tô com o isqueiro aqui já dou fim neles pra você.

– Não! Não! Não! Tire suas patas das minhas preciosas folhas.

– Quer que eu te entregue?

– Por favor.

– Então me passa seu endereço.

– Por que eu passaria o meu endereço a um ladrão? Acha que sou doida.

Silêncio.

– Você é?

– Haaa que se dane, estou te mandando por mensagem. Ande logo pra me entregar isso, meia tigela.

– Bravinha, gostei.

– E me traga uma caixa de bombons.

– Sou um ladrão, não um entregador.

– Você é um entregador já que você está vindo me entregar meus papéis.

– Você tem um ponto. Tchau bravinha, já chego aí. Não sinta muito a minha falta.

– Ratomanocu, nem te conheço.

Pude ouvir uma gargalhada antes dele desligar na minha cara. Que abusado.

Então cai a minha fixa, acabei de passar meu endereço para um cara que diz que roubou meu carro. E se for trote?

Começo a chorar de desespero que até derramo um pouco de suco em cima da mesinha de centro.

Tudo culpa daquela tigela.

Corro e pego um pano pra limpar, juntamente com uma faca pra quando o cara chegar. Se ele vir.

Me sento atrás da mureta que divide a cozinha da sala e fico quietinha só ouvindo o barulho dos carros lá fora.

Fico um tempo sentada ali no chão com a faca e celular na mão que adormeço. Acordo com o som de batidas na porta.

Munida de minha faca, ando até a porta e abro um pouquinho dela. Vejo um homem alto todo de preto e uma pilha de papéis nos braços.

A máscara em seu rosto só possibilita ver os lindos olhos cinzas frios. Ficamos ali parados olhando um para o outro.

– Vamos ficar assim por quanto tempo?

Pisco meio atordoada, tem um ladrão na minha porta. Ia fechar a porta, mas o bico do coturno que ele usava me impediu.

Emburrado a porta com o ombro ele entra na minha casa e volto para trás com minha faquinha na mão.

– Posso saber o por quê dessa faca?

– Você é um ladrão.

– De carros, não de moças que assassinam árvores.

– Eu não sou assassina.

– Essa pilha de papéis aqui prova o contrário, moça.

Olho pra ele, sinto uma enorme vontade de chorar. Maldita TPM. Soluços rompem a minha boca e meus olhos ficam turvos por causa das lágrimas.

Ouço o barulho dele se mexendo.

– Você está bem?

– Estou, na verdade não estou, quer saber não importa.

Me sento no chão e toda a emoção daquele dia horrível vem, fazendo meu corpo sacudir pela onda de choro.

Sinto ele sentar ao meu lado e pegar na minha mão. Me encosto nele e choro até não ter mais lágrimas.

– Se sente melhor? – ele pergunta depois de um tempo.

– Sim.

Seu braço me estende uma caixa de bombom, pego já abrindo e comendo um doce. Começo a chorar novamente.

O que eu tenho? Estou chorando sendo consolada pelo cara que acaba de roubar meu carro e que me trouxe chocolate.

Ele foi tão atencioso.

– Como se sente? Tá melhor?

– Estou, obrigada.

Ele assente e se deita no chão. Analiso bem aquela geladeira Electrolux, que cara gostoso. Senhor amado, que pensamentos são esses.

– Qual o seu nome?

– Oi?

– Seu nome?

– Fabiana Rojão.

Seus olhos se arregalam e uma gargalhada rompe chacoalhando seu imenso corpo.

– Quero seu nome de verdade, princesa.

– Vai me dizer o seu?

– Não, você vai me denunciar, mas sei que o seu é Isabelle Freitas.

– Stalker?

– Ainda não, estava nos papéis.

Assinto com a cabeça. Faz sentido. Me deito ao lado dele e coloco as mãos na barriga. Suspiro.

– E agora?

– E agora o que?

– Sei lá, posso dormir aqui?

– Eu acabei de te conhecer e você roubou meu carro.

– Verdade, o carro.

Ele se levanta rapidamente caminhando em direção a porta. Me levanto também, mas uma tontura me impede de seguir ele.

Tento me apoiar em algo e não acho, até me chocar contra algo duro e mãos envolverem minha cintura.

– Tenho que ir, bravinha. Fique bem.

– Tchau, tigela.

Ele dá um risinho, me senta no sofá e sai pela porta me dizendo que me mandaria mensagem.

Que loucura.

Me deito no sofá e adormeço.

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⏰ Última atualização: Dec 15, 2023 ⏰

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