Minha primeira carta para você.

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Rio de Janeiro, 23 de novembro de 2019.

Lembra da nossa música favorita? Tínhamos acabado de ver (500) dias com ela e você ficou viciada naquela música irritante dos Smiths. Eu odiava a letra que fazia alusão a uma morte a dois e odiava o quanto você ficava linda cantarolando aquilo sem nem saber inglês. Mesmo odiando a música, sempre que eu a ouvia eu lembrava de você, de nós. Me sinto um pouco otário quando lembro disso. Eu queria estar escrevendo para você da faculdade que te disse que ingressaria, queria estar esfregando na sua cara como minha vida está maravilhosa e melhor sem você nela, mas não está. Desde que você me deixou eu larguei os pincéis e abandonei meus quadros, não tenho mais inspiração para pintar desde que parei de ver seus cachos espalhados pelo meu travesseiro todos os domingos de manhã. Tudo tem piorado, me afastei dos meus amigos e afasto a Giovanna toda vez que ela pergunta o motivo de você ter terminado comigo, me diz, como posso explicar para minha irmã mais nova que para você eu não passei de um joguinho descartável? Vejo suas antigas publicações às vezes, sei que não deveria, mas desde que você me deixou essa é a única forma de ter um pouco de você comigo. Você sempre foi a Summer e eu sempre fui o idiota do Tom, apaixonado por uma garota que nunca esteve apaixonada por mim da mesma forma. Lembro quando pegávamos o metrô juntos para ir à praia em todos os feriados, você ficava tão sorridente quando conseguíamos um vagão livre e eu conseguia sentir que te amava cada vez mais naquele momento, não uma paixão passageira nem um leve frio na barriga, mas um amor tão intenso que me derrubava e me deixava com medo de um dia acabar.... é, Juliana, pelo visto acabou.
Nos conhecemos na biblioteca da escola, eu sempre passava lá antes das aulas e pegava alguma história em quadrinhos para ler durante as aulas daquele professor que odiávamos. Eu estava pronto para apenas ficar folheando algumas novas edições dos gibis do homem-aranha, até que eu vi você. Dizem que quando nos apaixonamos tudo fica mais devagar, as pessoas param de andar e todas as vozes se tornam sussurros irrelevantes, mas não foi assim com você. Tudo acelerou quando te vi. Meu coração, as pessoas, até a lenta bibliotecária parecia estar acelerada. Você chegou, acelerou tudo e me fez pensar que ainda valia a pena, quem diria que iria embora e deixaria meu mundo mais lento do que antes. Todas as coisas que eu queria ter te dito naquele dia me escapavam da memória quando você colava seus lábios nos meus, os mesmos lábios com gosto daquele hidratante labial que era moda na época. Eu te amei tanto, te amei tão intensamente, e tudo que você fez foi me deixar em frangalhos com todas essas lembranças estúpidas e memórias idiotas. Eu não fui perfeito, mas eu tentei ser e você nunca reconheceu isso. Essa é a minha primeira carta para você e eu duvido que seja a última, mas vamos ter que ir por partes até que tudo que eu tenha para te dizer finalmente acabe.
     Com amor, o idiota, falastrão e atrapalhado,  Carlos.

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