Após viver 14 anos em um convento, finalmente fui adotada por meus então pais adotivos.
O barulho da carruagem me fazia engolir seco, cada solavanco da carruagem fazia meu coração disparar mais.Pensava sobre tudo e nada e ao mesmo tempo. Sentia meu corpo se desprender de mim, pensando sobre a nova vida, novos amigos, novas escolhas. Sinta dor física em pensar que nesse momento eu tinha um futuro incrível e incerto em minhas mãos.
Me aproximava de minha nova casa e observa atentamente o jardim. Lindas flores de variadas espécies, me chamava a atenção o fato de algumas flores não serem tão coloridas e haver sinas de perigo em volta delas, seu deque de jardim era feito de pura madeira esculpida com desenhos ornamentais.
Ao passar pelo alto portão de ferro puro tenho uma visão ampla do jardim, também consigo ver uma parte da entrada da casa, só a vejo por inteiro quando desço da carruagem e me afasto um pouco, sentindo sua imensidão. Com uma aparência um pouco rude porem muito elegante e excêntrica mostrando o bom porem mórbido gosto de meus pais vejo os altos vitrais redondos que davam uma luminosidade esverdeada para casa; colunas lindas e bem trabalhadas em madeira escura e vernizada.
De repente as portas da casa se abrem e dou de cara com minha mãe:“-Olá doce, como se chama? ”
Me sinto confusa. Como ela não sabe meu nome? Bem...:
“-Melanie...”Ela expressa uma face compreensiva e animada. Por um momento me sinto calma e acolhida em ver seu rosto; como se o peso e ansiedade que senti no caminho tivesse sido compensado. Era quase como um “abraço sentimental”.
Como descrever minha mãe? Giselle Catherine, uma mulher elegante. Vestida com roupas e sapatos de alfaiataria, apenas um colar lustroso e brincos chamativos, tinha um sorriso amarelado e um semblante que particularmente...me passava uma certa calma e segurança.
“-seu nome me lembra margaridas querida, vamos entre, organizamos uma grande mesa de café para sua chegada. Seu pai e seus irmãos estão ansiosos para te conhecer”
Entro na casa ainda meio acanhada, o interior era ainda mais excêntrico por dentro. Porém sem perder sua clara elegância.
Armaduras de soldados claramente já usadas estavam expostas, quadros pintados à mão (haviam alguns palhetes de madeira com folhas rabiscas de tinta perto deles), mostruários de cabeça de animais (o que me fez tirar a conclusão óbvia de que caçavam), se notavam brinquedos feitos de carcaça de animais e pequenos sapatinhos de couro pela casa (já até posso imaginar de quem sejam).
Vejo a entrada da cozinha, porem sou levada até o deque do jardim dos fundos onde havia uma mesa com vários quitutes, broas de milho, bolos, bolachinhas e principalmente chás.
Giselle”- você aparenta ser curiosa, não estou certa? Percebi como você repara nas coisas, imagino que seja difícil esconder algo de você...-“
Fico um pouco desnorteada com a pergunta
“-ah sim, me considero uma pessoa curiosa-“
Giselle-“-isso é bom garota, curiosidade é uma das qualidades de ser inteligente-“
“-fico lisonjeada srta. Giselle, aliás, adorei a decoração da casa -“
Mãe-“-oh não se preocupe com essa formalidade boba, se se sentir confortável pode me chamar de mãe-“
Me sinto acolhida por aquele olhar, lembro-me de como nunca tive uma mãe de verdade mas parece que isso está prestes a mudar...
Mãe-“- querida, fique a vontade para se servir, eu mesma quem preparou somente para a sua chegada, após sua refeição podemos ir até o quarto de seus irmãos para fazermos um passeio-“
Depois de me servir comecei a reparar na paisagem, vejo uma pequena igreja ao fundo comum sino brilhante com sua luz sendo refletida em meus olhos, imediatamente sou surpreendida com uma criança
“- ah olá, você deve ser o Miguel, ou o Alexander, espere tem mais um? -“
Mãe-dá uma leve risada “- sim eles são gêmeos, não se esforce para tentar se comunicar, eles não falam -“
“- como faço para diferencia-los?“
Mãe- “-bem...é-“- ela então segura os dois e os coloca em cima de suas pernas- “-veja, o da direita é o Alexander, o da esquerda é o Miguel! -“
Fico surpresa, nunca imaginei que pudessem haver pessoas tão parecidas
“- desculpe a pergunta mas, por que não podem falar? -”Mãe- “-imagina, perguntar é sempre importante. Eles possuem uma rara síndrome conhecida como síndrome de Down, podem ter um atraso no aprendizado e torna a interação com eles em algo mais “complexo”, ao meu ver essa síndrome não é algo que os impede de terem uma vida tranquila, o que mais me fere e saber o quanto sofriam nos conventos, certamente teriam morrido lá-“
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Os Filhos
HorrorUm livro de terror que se passa entre os anos 1800, retrata a vida da órfã Melanie e sua jornada por esse cruel mundo demoníaco