Capítulo 6: Cordão de faca

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Sinceramente, eu não sei por que eles ainda me seguem.

555 e 556 só gritam. Empurram. Apertam. Me arrastam como se eu não passasse de uma carcaça indesejada. Os dedos deles deixam manchas roxas por onde tocam. As palavras são piores que os dedos: promessas de morte, de punição, de vingança. Como se tudo fosse minha culpa.

Talvez seja.

Talvez, no fim, tudo sempre seja culpa da fêmea.

Eu só... só queria dormir. Só um pouco.

Minha visão já está turva demais para continuar dirigindo. O sangue quente escorre lento, úmido, pelas costelas. Se não for a hemorragia a me matar, será um deles.

Tomo a primeira estrada de terra que aparece. Uma trilha de barro serpenteando a mata. O carro pula, range, mas continua. Meus dedos tremem ao volante. Vejo uma cabana.

Graças a Deus.

Talvez tenha algo para limpar e costurar o ferimento. Talvez comida. Talvez água. Talvez paz por cinco minutos.

Estaciono o carro de qualquer jeito, desligo o motor e empurro a porta. O ar fresco da floresta invade meus pulmões. O silêncio quase me faz desabar.

Então sinto.

O couro cabeludo arde. Algo me puxa para trás com violência.

Solto um grito abafado quando sou lançada ao chão, o mundo girando, e depois levantada novamente — pelos cabelos.

— Acha que pode nos enganar, fêmea?! — 556 rosna com fúria animalesca, segurando meus fios com força brutal.

Fico pendurada como um peso morto. As lágrimas escorrem antes que eu possa evitar. Minhas pernas chutam o ar. Sinto a dor explodir na cabeça, no pescoço, nos braços.

— Para... por favor... — gemo com dificuldade, a boca cheia de terra.

— Sua desgraçada!

— Me solta... por favor...

— Você é uma praga! Uma doença! Eu devia quebrar você aqui mesmo! — ele berra, jogando meu corpo com força contra o carro.

Ouço o baque da minha cabeça contra a lataria. A visão escurece por um segundo.

— Basta! — é a voz de 557.

Ele agarra o braço de 556 com força, o rosto contraído em raiva contida.

— Ela não tem forças nem pra se manter de pé! Olha pra ela! — 557 grita.

555 aparece logo depois, os olhos felinos semicerrados.

— Se ela morrer, não sairemos daqui. E você sabe disso.

556 rosna, me soltando com desdém. Caio no chão como um trapo molhado, arfando, sentindo o gosto de sangue na boca.

Eles discutem. Mas tudo que ouço é o som surdo do meu coração. A pulsação do medo e da exaustão.

Me arrasto. As mãos fracas cavando a terra até alcançar o alpendre da cabana.

A porta range quando a empurro. Está aberta.
Sobrevivência. Nada além disso. Mais um dia. Mais um remendo.

556 odiava aquela mulher.

Tudo nela o irritava — o cheiro, a voz rouca, o modo como continuava respirando mesmo depois de tudo. Ele sentia a garganta arder só de olhar para ela. Quando ela se encolhia, com medo, aquilo... satisfazia algo nele. Algo sombrio. Machucá-la era bom. Ouvir seus gemidos abafados de dor... melhor ainda.

Esperou os irmãos dormirem. As respirações pesadas e ritmadas de 555 e 557 preenchiam a cela abafada. Ele se aproximou dela com passos silenciosos, predatórios.

Ela estava encolhida no canto, os olhos semicerrados, o corpo frágil tremendo de febre ou exaustão. Ainda viva.

556 sentiu uma onda de desprezo subir como vômito.

Acertou um chute seco na lateral do pequeno corpo.

Ela se contorceu, gemendo baixo, mas antes que pudesse gritar, a mão dele tapou sua boca com brutalidade. O peso dele forçou seu corpo contra o chão sujo. Os olhos dela se arregalaram, cheios de lágrimas, dor e um medo paralisante.

— Eu odeio você — ele rosnou baixo, a boca próxima demais do rosto dela. — Eu vou matar você.

Ela gemeu de dor, antes de ser virada de bruço no chão, ele a invadiu com uma única estocada, a mão enorme dele cobrindo sua boca abafou o grito dela, as estocadas são tão violentas que faz seu corpo tremer abaixo dele, ela sente sua carne arder, o pau duro a fode com brutalidade.


— Vocês não veem? Ela tem que morrer! Vamos matá-la! — 556 rosna com rispidez, os olhos queimando de fúria. — Só porque ela aquece seu pau não significa que ela é algo pra você, não é?

As palavras cortam o silêncio como uma lâmina. Duras, cruéis, sujas.

Elas não pertenciam só a 556.

Era o reflexo do que 555 tinha dito uma vez, nos dias em que a cela ainda era sua prisão. Antes da fuga. Antes do cheiro dela. Antes do caos que ela trouxe.

557 fecha os olhos por um segundo. Uma batida em seu peito ecoa forte — raiva, medo, culpa. Ele não responde. Apenas se move.

Com passos firmes e silenciosos, caminha até a humana e a pega nos braços, ignorando os olhares dos irmãos. Ela está fraca, mole, quente demais. Sua pele queima como se estivesse em chamas, e isso o deixa ainda mais inquieto.

Sem uma palavra, ele dá as costas a 555 e 556, e entra na velha cabana.

Ele não aguentava mais. O ódio, os gritos, as ameaças. Estavam todos quebrados, sim — mas ela... ela estava em pedaços.

A cabana está empoeirada, cheia de móveis velhos cobertos por lençóis. Um silêncio pesado a envolve, como se o tempo tivesse parado ali. 557 a deita com cuidado sobre um sofá manchado de mofo. O cheiro de sangue o atinge como um soco — doce, metálico, enlouquecedor.

Ele trinca os dentes. A mancha na camiseta dela cresceu. O tecido já grudado à pele.

Ouviu os passos atrás dele.

— O que aconteceu? — a voz de 555 é tensa, baixa.

557 não o olha. Apenas responde com a mandíbula travada.

— Não sei. Ela só... não para de sangrar.

O silêncio entre eles é tenso. Pesado.

555 observa a fêmea por um instante, depois desvia o olhar. Os olhos felinos dele carregam dúvida, talvez um princípio de arrependimento — ou só medo.

556 permanece do lado de fora, inquieto, como uma bomba prestes a explodir.

557 cobre a humana com um pano velho. Seus dedos tocam brevemente o rosto dela. Pela primeira vez, ele sente medo de verdade.

Medo de que ela morra.

Medo de não conseguir salvá-la.

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