Era meio-dia, o inverno dava trégua com o Sol queimando no alto do céu. A luz tocava todas as ruas e ruelas da cidade de Grilexi com seu calor se espalhando pela neve acumulada fazendo parecer que a primavera já tivesse chegado nessa cidadezinha. Grilexi é um lugar exótico para se conhecer, andando entre os prédios parece ter voltado no tempo, suas construções nunca foram atualizadas, mas sim reformadas, tendo uma aparência vitoriana.
Em um dos vários prédios antigos era um restaurante, não dos melhores, mas os moradores apreciavam-no pelo bife mal passado, suculento, preparado no alho, temperado com as melhores ervas e feito na brasa quente. Entre seus apreciadores havia um homem robusto, de rosto barbado, coberto por roupas escuras e esfarrapadas que sentava longe do sol em uma mesa perto da entrada do restaurante, esse homem se apresentava como Nathan.
O homem esperava pela chegada de uma garota adolescente, seu nome é Verônica, ela caminhava com a graça das maiores rainhas da corte, seus cabelos curtos voavam a cada passo delicado e seu rosto refletia as luzes artificiais do restaurante como cristais ao Sol.
- Você está bem? - Ele se aproximava procurando feridas pela garota - Se queimou pelo caminho?
- Estou, dentro do possível - A garota respondeu mantendo a calma, mas era notável o cheiro de rosas queimadas vindo dela, os seus dedos tinham bolhas nas pontas e saía do seu cabelo um resquício de fumaça e fuligem - Tentei ficar longe do Sol
Nathan, sentindo-se um pouco mais aliviado ao vê-la bem, pegou de seu colo um livro velho e gasto, com uma capa de couro onde tinha um desenho meio apagado - Você consegue saber do que fala esse livro?
- Parece ser escrito em um idioma antigo, já vi algo parecido na biblioteca - Ela começou a folhear o livro com cuidado para tanto não rasgar as páginas quanto não machucar mais suas mãos queimadas. O livro era todo escrito usando os mesmos desenhos, com poucas gravuras que eram ininteligíveis sem o devido contexto.
Verônica guardou o livro na sua bolsa, uma bolsa de carteiro que levava o brasão da sua família no feixe feito de um metal brilhante, de cor fria e azulada, um tipo especial de metal semelhante à prata. A garota se levantava para sua partida quando Nathan segura em seus braço e diz com um olhar baixo.
- Se quiser, eu te levo para casa. No carro você fica mais protegida.
- Na realidade, não me parece uma má ideia - Verônica esperou o homem pagar pelo almoço e os dois se dirigiram para o estacionamento. A garota esperou Nathan buscar o carro em uma sombra projetada no canto do prédio.
O carro do Nathan era velho, de antes mesmo dele nascer, com um grande porta-malas e tinta amarela gasta. Verônica entrou no carro e, ao invés de sentar no banco, ela se encaixou entre o assento e o painel, onde o Sol não chegava, para assim partirem em direção à parte mais velha da cidade.
Verônica é uma vampira das mais novas, tendo apenas 1045 anos, sendo muito entre os humanos, mas pouco para os vampiros que vivem em média 8000 anos. Os vampiros normalmente param seu desenvolvimento físico aos 10 anos e só envelhecem em aparência ao matar algum ser vivo consciente pelo consumo do sangue, algo que ficou conhecido como Morte por Sangue. Verônica, por ter uma aparência de 15 anos, deve ter matado por volta de 5 pessoas na sua vida toda, mas não parece se orgulhar disso.
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Pesares de uma Noite de Verão - Parte 1
AdventureNa cidade misteriosa e vitoriana de Kefre, onde o inverno dá trégua ao sol ardente ao meio-dia, dois personagens improváveis se encontram. Verônica, uma jovem vampira com mais de 1000 anos, aparentemente com 15, e Nathan, um Thufo que aparenta ter 3...