Você não gostaria de simplesmente esquecer toda essa expectativa que os outros jogam nas suas costas?
Deixar de realizar sonhos de outras pessoas que colocam em você a responsabilidade das escolhas delas, como se você fosse o responsável pelo que um dia elas deixaram de ser?
Ler essas duas frases no cartaz de uma estação de metrô fez Alê refletir durante todo o percurso da sua casa ao seu trabalho, em plena 6h30 da manhã de uma segunda-feira. Ele odiava as segundas, não por simplesmente seguir a multidão de pessoas que odeiam as segundas apenas por pura moda, mas sim porque todos os seus sonhos de algum dia conseguir um emprego melhor, uma casa em um bairro tranquilo e alguém que verdadeiramente o amasse, eram destruídos ao ouvir o barulho estridente do despertador ao lado da sua cama. "Vamos, levante, fracassado, é hora de trabalhar" era o que ele conseguia ouvir do maldito despertador laranja que sua mãe havia lhe dado de presente. Com certeza haviam presentes melhores do que aquilo.
Um banho rápido, um café amargo e ralo e pronto, estava preparado para pegar o primeiro ônibus. Se desse sorte, conseguiria pegar o segundo 10 minutos antes do habitual e chegaria ao metrô 5 minutos mais cedo, tempo suficiente para comprar uma coxinha e um caldo de cana para preencher o vazio na sua barriga. "Se desse sorte", foi o que eu disse. Ele não deu. Chegou 10 minutos mais tarde, perdeu o primeiro metrô e agora tinha que aguardar pacientemente o segundo. E foi nesse meio tempo que leu a mensagem no cartaz jogado em cima do banco no qual sentou.
Expectativa.
Essa palavra mexia com Alê, ele só não sabia o motivo. Talvez todos esses anos sendo feito de fantoche por todos aqueles que passaram em sua vida, fosse a resposta para tal questionamento. Uma vida de merda, um emprego de merda e ainda sim ele deveria ser grato porque esse era o melhor que poderia dar de si. Esse era o melhor que sua família esperava que ele conseguisse entregar. Nunca fora sobre ele, e sim sobre eles. Era como se tudo aquilo fosse a vida de outra pessoa, Alê não se sentia parte de si, não era ele quem deveria estar ali.
Esquecer.
Outra palavra que também tocava o coração de Alê, e diferente da outra, essa ele tinha absoluta certeza do motivo. Era o que precisava fazer para se ver livre das cordas que o controlavam. Esquecer que algum dia pessoas ditavam seu destino porque agora ele era grande o suficiente para traçá-lo. Alê tinha uma vida, e se não a vivesse com base em suas próprias decisões, não havia sentido em continuá-la.
Naquele dia, Alê não foi para o trabalho, tampouco pegou o segundo metrô ou voltou para casa. Ao invés disso, parou na lanchonete da estação, pediu uma coxinha e um caldo de cana e saboreou como se fosse sua última refeição. Depois caminhou pela areia da praia, mesmo com os respingos de chuva escorrendo em seu rosto. Mas ele não se importava com isso, na verdade agradecia porque assim suas lágrimas fundiam-se com as gotículas de chuva, tornando-se apenas uma. Agora sentia-se parte de si e nunca mais deixaria que ninguém dissesse o contrário. Agora ele era dono das próprias escolhas.
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Textos que Saem do Coração
RandomUm depósito de escritos aleatórios que de certa forma podem tocar alguém em determinado momento. Se você estiver triste, feliz, ansioso ou até mesmo entediado, este livro é pra você. Não lhes trago nada supreendentemente inovador e detalhadamente es...