Artista Sem Arte

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Eu estou começando a cansar. Cansar de acordar todo dia sozinho numa cama de casal. Ele não tem ideia de como eu me sinto. Eu gostaria de poder olhar nos olhos dele pela primeira vez novamente e ignorá-lo, acho que nem lembro como eles são, eu nem consigo mais olhar em seus olhos.

Ele tem uma vida legal e corrida, eu sinto como se não fizesse mais parte dela. Os amigos dele nem devem saber que ele tem a porra de um namorado, para falar a verdade, talvez ele não tenha, porque faz semanas, não, meses, que eu não escuto um "eu te amo". Somente dias em que as únicas palavras dele direcionadas para mim que eu escuto saírem de sua boca são "oi, Jeongin". Eu não aguento mais.








Sentado no sofá macio do pequeno apartamento, Yang observava a tela do seu celular onde o Homem-Aranha do aplicativo que tinha baixado há alguns dias lançava teia de um lado pro outro. Não que não tivesse algo melhor para fazer, seus trabalhos de faculdade ansiavam para serem feitos, ele só gostava de observar o Peter indo atrás de uma Mary Jane que ele nem tinha baixado. Suspirou ao ouvir a porta ser aberta, nem se dando ao trabalho de virar para ver o companheiro chegar. A relação deles estava distante, mas o mais novo já havia se cansado de tentar reaproximar eles. Contudo, ainda não queria terminar, ele o amava.

HyunJin, o namorado, passou por trás do parceiro, murmurou um "oi, Jeongin" e foi para o quarto, mas não sem antes pegar um achocolatado de caixinha na geladeira. Jeongin observou a porta ser fechada, finalmente respondendo um "oi" praticamente inaudível quando ele já estava lá dentro. Todos os dias eram assim, diferente de como costumavam ser no início.

Eles namoravam já fazia 4 anos e 7 meses, desde que Yang tinha 17 anos e HyunJin prometeu que o protegeria para sempre. HyunJin era um lindo adolescente, sonhador, criativo, tinha aquela fala eloquente e seduzente, ainda dócil. Agora ele era apenas um largado, estudante de medicina que, pelo visto, não dava a mínima para aquele que ele disse amar. Na visão do companheiro, HyunJin não se parecia mais com uma pintura em tons pastéis banhada em óleo, ele tinha perdido a arte que o seguia.

Yang ponderava sobre sua relação, isso até o microondas apitar atrapalhando os seus pensamentos, tinha esquecido completamente de sua pizza. Levantou e foi a tirar do aparelho, pegando o prato com o lanche e apanhando outro achocolatado na geladeira.

Assim que sentou no sofá outra vez, ouviu a porta recentemente fechada pelo loiro ser novamente aberta pelo próprio. Ele foi direto para o lixinho ao lado da pia, jogando a caixa da bebida lá e se sentando ao lado do mais novo no sofá, não no outro extremo como sempre, do lado mesmo, o que era… bom, incomum para Jeongin. Ainda mais por ele estar deitando a cabeça em seu ombro e deixando alguns beijos pela região, como se fossem super íntimos, o que não eram no momento.

— Me dá um pouco, bebê? — o loiro disse próximo ao ouvido do moreninho, aproveitando a oportunidade e mordendo o seu lóbulo, rindo baixinho depois, o que fez o mais baixo arrepiar. Acho que não preciso nem dizer que aquilo era incomum pra' caralho.

— Que porra é essa…? — falou num murmuro, o oferecendo a caixinha ainda cheia e se afastando um pouco. O loiro sugou um pouco do líquido e depois juntou os seus lábios aos de Yang, este que juntou as sobrancelhas, perplexo. Depois, Hwang voltou para o quarto, deixando o parceiro pensativo e bem confuso para trás.

Quando terminou o lanche, lavou os pratos que utilizou durante o dia, os enxugando e guardando logo depois, se espreguiçou e foi para o quarto silenciosamente. Jeongin deitou-se de costas para o mais velho, como sempre, encarou a parede até pegar no sono, sentia as suas costas queimarem com o olhar que recebia. Às vezes HyunJin fazia isso, não entendia bem.



A manhã chegou como um sopro, o Yang virou o corpo para o outro lado ao acordar e não se surpreendeu ao ver a cama vazia no lugar em que seu amante descansava antes, nada mudaria, talvez na noite anterior ele estivesse… bêbado? Ok, aquilo fazia sentido. Ele estava demorando para chegar porque estava bebendo? Por muito tempo, Jeongin acreditou que ele estava estudando demais e por isso estava distante, principalmente por causa de seus pais que queriam algo em troca do filho morar com um garoto (a faculdade de medicina). Tinha sido realmente um grande sacrifício visando que ele queria o curso de Belas Artes, agora Jeongin tinha certeza que, atualmente, HyunJin acreditava não ter ganhado nada em troca.

Yang pegou um travesseiro e fez pressão contra seu rosto, gritando agudamente e esperneando de raiva. Talvez estivesse sendo traído também, o que impediria? Ele se sentia um otário. Tirou o travesseiro do rosto arfando, sua face já molhada parecia aflita com as próprias conclusões. Tirou alguns medicamentos da gaveta, os ingerindo com ajuda da água em cima da estante numa tentativa de se acalmar, massageava as têmporas e tentava se convencer que estava sendo precipitado e paranóico, repetindo para si mesmo várias vezes: "está tudo bem, ele me ama, está tudo bem, o HyunJin ainda me ama" ao mesmo tempo que levantava e ia até o banheiro, tomar banho para ir à faculdade.



Após o dia cansativo, o Yang voltava da instituição de estudo com alguns amigos que iam se despedindo aos poucos. Em poucos minutos, só sobraram Jeongin e Changbin, que moravam no mesmo prédio. Entretanto, Changbin teve que ir ao hospital porque seu irmão tinha sofrido um acidente, nada grave pelo que foi falado no telefone.

O moreno não se importou muito com aquilo, não era raro o irmão do amigo aparecer no hospital depois de alguma queda com a moto. Continuou tranquilamente seu caminho até sua casa, sentia uma leve dor na cabeça e um enfraquecimento nas pernas, mas nada que valesse a pena gastar dinheiro com Uber. O caminho calmo foi interrompido por algo que Yang viu na rua, HyunJin.

Ele estava num bar próximo, mas não tanto, de sua casa. Sentiu uma lágrima escorregar instantaneamente pelo seu rosto pálido, deveras sensibilizado apesar de tudo que já pensara, não só por encontrar ele num bar, mas por ele estar acompanhado de uma loirinha sorridente, a qual observou de longe ele levar a um beco próximo. Sem pensar muito, engoliu algumas pílulas guardadas na mochila junto da água de sua garrafa térmica e foi atrás dos dois que, do beco, tinham ido para outro ainda menor. Ao chegar nele, encontrou algo que não esperava, algo que estava distante de qualquer coisa que havia pensado nas noites solitárias: a menina de fios dourados prensada na parede, não pelos braços de seu namorado, mas por facas em seus punhos e entre seus seios, seu vestido branco tinha uma cor vermelha vibrante agora.

Estava sem palavras, o que era aquilo? Onde estava HyunJin? Yang ia correr, mas ao tentar suas pernas fraquejaram e sua visão ficou turva, caindo no chão duro daquele pequeno beco escuro, mas antes do inevitável desmaio, escutou de uma voz conhecida:

— Oi, Jeongin.

Oi, Jeongin - HyuninOnde histórias criam vida. Descubra agora