O boato que havia se espalhado pela escola era que uma menina do turno da tarde havia se suicidado.
- Oitava série... - Cristina que fazia questão de terminar sua latinha de coca antes de prosseguir com a fofoca na roda de amigas agora procurava no bolso da calça um pirulito pop sabor cereja e começava lentamente a desembrulhar.
- Termina a porra da fofoca Cristina, essas pausas dramáticas funcionam no máximo em seriado adolescente de 2010 - Gabriella que estava de braços cruzados ao lado de Tais e outros alunos do terceiro ano aguardavam a amiga recém perdoada que era a única deles que não trabalhavam como jovem aprendiz depois da escola e teve tempo livre para colher mais informações.
- Não precisa esperar ela terminar - Jéssica, uma menina loira e considerada antipática que havia sido isolada do grupo desde o ano passado quando seu melhor amigo que estava se descobrindo trans morreu vítima de homofobia e ela se ofereceu pra testemunhar a favor de um dos agressores pelo simples fato de acha-lo um "gato", se intrometeu no meio do grupo mesmo sabendo o quanto é indesejada.
- Ah, é verdade, você também não trabalha depois da escola né? Esqueci que a Cris não é a única atoa - Davi que também havia sido recém perdoado por um grande erro que cometeu olhou-a com desdém de cima a baixo procurando a franja descolorida, que já não tinha mais, para balançar na testa enquanto revirava os olhos como fazia de costume.
Cristina que até então estava distraída com seu pirulito na boca olhou impassível para o colega que retribuiu com um olhar de "eu te amo, mas só estou dizendo a verdade".
- A nojentinha só cortou os pulsos na vertical no banheiro de casa por que viu um comentário no Instagram dizendo que fazia sentido o namorado ter trocado ela por uma gorda, sem ofensa Gabi - Jéssica usou seus olhos verdes e firmes para lançar em Gabriella o mesmo olhar que ela lhe dera quando Jéssica tentou fazer amizade em seu primeiro dia na escola - A imbecil não sabia que a mãe ia dobrar no trabalho e o plano dela de ser encontrada a tempo e fazer um showzinho no hospital não ia dar certo. - Jéssica levou as duas mãos até os quadris esperando alguma risada ou mais perguntas que a tornassem o centro das atenções.
- Garota você não cansa de ser escrota? Essa sua pose de loira gostosa do ensino médio que faz comentários podres e arrogantes tentando ser a Alisson Dilaurentis da favela não funcionou ano passado e no nosso ultimo ano também não vai funcionar - Davi alterava a voz enquanto o restante do grupo se lembrava de sua tentativa de suicídio no ano anterior quando ele havia presenciado a morte do namorado e em seguida abandonado pela própria mãe em uma rua escura que sugeriu que ele começasse a fazer programa pra conseguir o que comer - Você é uma babaca podre e que ninguém aqui gosta o suficiente pra tentar fazer uma intervenção e avisar porque não vale a pena - Davi olhou-a no fundo dos olhos esperando ver algum tipo de arrependimento mas Jéssica continuou o encarando com um meio sorriso e olhos firmes - Você é podre demais pra perceber que o restante da escola tem pessoas com problemas de verdade e gatilhos que só de sonhar já da vontade de chegar ao extremo, mas se for pra tentar se aproximar da gente com essa sua opinião de merda eu te aconselho a continuar sendo a vagabunda que deu pra metade da escola e trocou o amigo por meio centímetro de rola, a máscara de piranha cai melhor em você do que a de insensível.
O grupo a encarava com nojo enquanto Jéssica chupava o canto dos lábios analisando a situação e percebendo finalmente que já não era mais bem vinda.
Ela olhou para a expressão de ódio no rosto de cada um dos integrantes da roda e estalando a língua deu um sorriso aberto, mostrou o dedo do meio e se virou para desfilar em direção ao banheiro da escola.
O celular de Jéssica vibrava em sua mão e olhando para a tela ela gelou quando viu um comentário específico em uma de suas ultimas fotos no Instagram. Ela olhou para trás e viu todas as pessoas do grupo mexendo no celular e olhando com um olhar maldoso em sua direção.
