O trio estava sentado em um banco da praça perto da casa das bacantes, o silêncio entre eles era aterrador, procurando uma resposta viável para essa missão.
― Empusas são seres que vivem no submundo, não é? ― Mark questionou, olhando para YoonGi e ele assentiu.
― Certo, como vamos saber que encontramos uma? Qual a aparência de uma empusa? ― HoSeok ainda estava um pouco confuso, nunca tinha ouvido falar desses espectros antes.
― Bem, se estiverem entre nós, será difícil. Elas se metamorfoseiam em moças de aparência muito bonita e atraente, obviamente para seus próprios fins, capturar ou se alimentar. Mas a forma verdadeira dela é de um corpo feminino esquelético, com uma pele pútrida, garras nas mãos, asas ossudas revestidas apenas por pele e o cabelo é uma chama de fogo vivo ― YoonGi respondeu.
― Muito atraente, já sei a quem você puxou ― HoSeok provocou.
― Idiota, você pode focar na missão? ― YoonGi já tinha revirado tanto os olhos desde que recebera essa missão que já estava cansado disso.
― Devemos procurar o sátiro, talvez ele saiba dizer o que capturou o rapaz. ― Mark levantou-se. ― Se foram empusas, não teremos uma luta fácil. E pior, vamos precisar esperar escurecer.
Como filho de Apolo, Mark tinha grande vantagem sob a luz do dia, mas era o oposto para YoonGi, ele era filho das sombras, portanto podia usar a escuridão como fonte de poder. As empusas também eram seres que se fortaleciam na escuridão e medo.
Eles então partiram para a instituição de ensino a qual o filho de Poseidon frequentava, uma faculdade pequena com dormitórios para alunos bolsistas, que parecia ser o caso do semideus desaparecido. Eles foram direto para o dormitório, segundo a anotação que Quirón entregou a Mark, o sátiro e o semideus dividiam o quarto, mas agora que o rapaz estava sumido e ninguém lembrava-se da existência dele, o sátiro deveria estar sozinho.
Bateram na porta, alguns olhares no corredor recaíram sobre eles, três jovens desconhecidos chamavam a atenção. Assim que a porta foi aberta, HoSeok empurrou os outros dois para dentro sem que o sátiro permitisse ou não a entrada deles.
― O-oi? ― falou assustado, recuando, mas depois de ter a percepção de que aqueles eram semideuses, acalmou-se um pouco. HoSeok fechou a porta.
― Você é Chen, certo? ― YoonGi perguntou e o homem assentiu.
― Vieram por causa de JinYoung?
― É, queremos saber tudo que tiver pra nos contar sobre ele. ― YoonGi estava impaciente, não sentia que o sátiro iria ajudar muito.
― E-eu sinto muito, de verdade, eu fiz o melhor que eu pude, eu…
― Ei, está tudo bem, não viemos para lhe punir ou algo assim. ― Mark gentilmente colocou a mão no ombro do sátiro, tentando acalmá-lo, usando sutilmente seus poderes para isso. ― Apenas nos conte o que souber.
― Eu sabia que tinha algo de errado, sentia uma presença maligna, mas não sabia o que era. Quando JinYoung apareceu com uma garota nova, bastante bonita, eu soube que ela não era humana, mas ele não sabia e eu não tinha permissão para contar.
― Por que ele não foi levado para o acampamento? ― YoonGi cruzou os braços. ― Ele já passou da idade, isso aqui é uma faculdade, quantos anos ele tem?
― Dezoito. Eu sei que já passou da idade, mas essa foi a ordem que eu recebi, o rapaz deveria ter uma vida tranquila.
― Tolice, desde quando um semideus tem uma vida tranquila? E ele é um filho de Poseidon, duvido que a vida dele seja tranquila. ― YoonGi só se sentia cada vez mais impaciente e chateado.
― Eu não sei essas coisas, só cumpri minhas ordens.
― Certo, mas e depois? Como ele foi levado? ― HoSeok pediu por continuidade.
― Não faço ideia, ele me disse que iria estudar na biblioteca e eu não fui junto. Ele nunca mais voltou. ― O sátiro já estava prestes a chorar.
― Tudo bem, tudo bem… ― Mark tentou mais uma vez, o sátiro fungou assentindo. ― Algo mais?
― Não… sinto muito, não sei como ajudar mais do que isso.
― A garota bonita não disse nada? ― YoonGi tentou, mas o sátiro negou.
― Sempre que eu os encontrava ela ia embora. Provavelmente ela estava tentando encantar ele, com a voz e beleza. Mas JinYoung era mais forte do que ela e eu esperávamos, digo, para um semideus que não sabe que é um e não tem treinamento nenhum. Mas no fim, ela deve ter conseguido. Será que ainda está vivo? ― Dessa vez ele começou a chorar de verdade.
― Ele está, eu o vi, está vivo, não precisa chorar.
― Vocês vão salvá-lo, não é? ― O sátiro olhou para os três com esperança.
― Vamos tentar ― disse HoSeok, negando-se a dar falsas esperanças ao protetor.
Eles saíram dali sem muitas informações adicionais, mas pela descrição do sátiro, pelo menos podiam ter mais segurança de que estavam procurando por uma ou mais empusas.
― Você vai ficar bem? ― YoonGi perguntou para Mark.
― Claro, não se preocupe, eu ainda sou muito bom em todos os meus outros atributos.
Já começava a escurecer, eles tinham comido em uma lanchonete e depois voltado para a praça, apenas para esperar o melhor momento para YoonGi usar as sombras como um portal. O Min afastou-se um pouco dos dois, ele queria pensar a respeito da missão que parecia mais anormal que o de costume. Ele sentia-se perturbado com alguém pretendendo fazer um ritual com um semideus, isso era terrível, sentia um pouco de empatia por JinYoung mesmo sem conhecê-lo.
― Você já fez isso? ― HoSeok perguntou, aproximando-se dele.
― O que? ― YoonGi o olhou, estranhando a aproximação do Jung.
― Levar pessoas com você através das sombras.
― Uma vez e somente uma pessoa…
― Acha que consegue levar Mark e eu juntos? ― Estranhamente não tinha um tom de provocação nessa pergunta, mesmo assim YoonGi sentia-se desafiado.
― É claro que sim. A pergunta é se você aguenta a viagem. ― Lançou, como um desafio. HoSeok sorriu de lado, aproximando-se.
― Você sempre conta tanta vantagem, Min, eu fico curioso pra ver o quão bom você realmente é. ― YoonGi franziu o cenho, não entendendo qual era a de HoSeok.
― O que deu em você? Deveria aproveitar esse momento que não somos obrigados a ficar juntos e ficar longe de mim.
― Por que brigamos, YoonGi? ― HoSeok perguntou, agora ele estava bem à sua frente.
― Quê?
― Por que brigamos? Quero dizer, não me lembro do momento em que começamos isso.
YoonGi pensou um pouco, HoSeok era mais novo e chegou depois no acampamento, enquanto ele tinha quinze anos, HoSeok tinha treze. HoSeok parecia uma borboleta social naquela época, se enturmando com todos os semideuses, especialmente por não saber quem era seu pai. Ele foi até YoonGi e tentou diversas vezes, até que cansado, YoonGi o assustou fazendo mãos esqueléticas saírem do chão e puxarem HoSeok. Pareceu traumático o suficiente para a criança que nunca mais tentou sua amizade. Depois disso, eles só tinham farpas para trocar.
― Provavelmente quando você tentou vingar-se na brincadeira inofensiva que eu fiz ― debochou. HoSeok riu.
― Era divertido ― confessou e não parecia estar mentindo. ― Digo, eu devolvi sua pegadinha, você revidou e eu fiz novamente, continuamos com isso, mas quando nos tornamos rivais?
― Onde você quer chegar com isso, HoSeok? ― O Jung olhou para o lado, depois de volta para YoonGi.
― Não sei, mas eu não sinto raiva de você, não desgosto de você, eu só… Estou constantemente reagindo ao modo como você me trata.
YoonGi franziu o cenho, isso era uma piada? HoSeok estava planejando alguma coisa?
― Você não tem vergonha? Estamos em uma missão, esse não é o momento para uma pegadinha ― a irritação na sua voz poderia ser capaz de fazer qualquer um recuar, mas não o Jung.
Pelo contrário, pareceu despertar o filho de Zeus para tomar alguma atitude. Ele segurou os ombros de YoonGi com certa força, obrigando-o a permanecer parado e aproximou-se com certa brusquidão, beijando-o. Os olhos arregalados de YoonGi denunciavam a surpresa. Ele não foi capaz de retribuir o beijo, ao invés disso, espalmou as mãos no peito de HoSeok e o empurrou com força.
― Você está maluco? ― perguntou com indignação e raiva.
O próprio HoSeok pareceu surpreso e incapaz de responder.
― Nunca mais faça isso, Jung, ou ao invés de lhe empurrar eu vou socar a sua cara. Idiota.
YoonGi deu as costas para HoSeok. Ele estava com uma expressão de irritação, mas na verdade, estava completamente perplexo e confuso. Uma sensação esquisita em seu peito. HoSeok não era seu primeiro beijo, mas a sensação que sentiu com esse foi totalmente diferente de qualquer coisa que já tenha sentido. Ele caminhou de volta para perto de Mark.
Os olhos do filho de Apolo foram de HoSeok até ele com curiosidade, mas depois uma expressão de clareamento perpassou sua face e um sorriso desacreditado.
― Por acaso vocês estiveram algum tempo com algum filho ou filha de Afrodite? ― Mark perguntou, comprimindo os lábios para não rir.
― Quê? ― YoonGi não entendeu o motivo da pergunta.
― Seus olhos brilharam com um tom de rosa quando se afastou de HoSeok, você sabe o que isso significa, você estava enfeitiçado e acho que ele também.
YoonGi não acreditou por um momento, até recordar-se de JiMin beijando o polegar e depois passando em seus lábios.
― Filho de uma… ― HoSeok praguejou. ― BamBam, estive com ele antes de ir até Quirón.
― JiMin… Estive com JiMin ― murmurou descrente que o melhor amigo tenha pregado uma pegadinha dessas. Mark riu novamente.
― Não se preocupem, não deve ter sido nada forte, vocês resistiram a esses impulsos o dia inteiro… Só foi maior que vocês agora porque vocês estavam tendo um momento.
― Um momento? ― HoSeok questionou. ― Não, o que tivemos aqui claramente foi só resultado de encanto, nada mais.
YoonGi queria dizer que o sentimento de rejeição que passou em seu peito era apenas efeito do encanto, mas ele não tinha certeza. Decidido a não demonstrar o quanto essas palavras lhe afetaram, mudou de assunto:
― Esqueçam isso, já temos escuridão suficiente para usarmos as sombras.
Mark e HoSeok aproximaram-se deles e ambos colocaram uma mão em seu ombro como ele tinha instruído antes. O toque de Mark era sutil, quase como se não estivesse ali, mas o de HoSeok era firme, YoonGi estava totalmente consciente sobre a presença dele. Fechou os olhos para se concentrar, puxando as sombras que vinham das árvores ao redor da praça, todas elas se arrastando pelo chão como se fosse água seguindo um caminho aberto até YoonGi.
Os outros dois sentiram como se suas visões ficassem nubladas e não eram capazes de entender muito bem o que estava acontecendo, a noite tornara-se negrume completo até que quando fecharam e abriram os olhos novamente, não estavam mais naquela praça, mas sim em uma espécie de caverna.
― Mas que droga ― HoSeok murmurou, pondo a mão na frente da boca, contendo a vontade de vomitar, a sensação de passar pelas sombras fez seu estômago revirar.
― Essa foi uma das experiências mais esquisitas que já tive… ― Mark falou, a expressão angustiada demonstrava que ele não deveria estar muito melhor que HoSeok.
― Vai passar logo. ― YoonGi arfou, porque era bastante energia gasta levando mais pessoas do que apenas ele.
― Onde estamos? ― HoSeok perguntou.
― É um portal pro submundo. ― YoonGi olhava para os lados. ― Existem alguns, eu não conheço todos, mas já usei esse uma vez.
― Você nos trouxe até o barqueiro? ― Mark observou o lago e de longe, uma espécie de canoa com algo encapuzado remando.
― Como eu disse, já usei esse, é o modo mais fácil, só precisamos pagar e ele nos leva.
― Espera. Não duvido que entrar seja fácil, mas como vamos sair? ― HoSeok indagou, ele nunca foi muito bom em história, mas recordava que o único a sair tinha sido Hércules e o amigo que ele encontrou e resgatou, o restante de quem quer que seja que tenha entrado, nunca mais saiu.
― Não esquenta, meu pai vai nos deixar sair, bom, pelo menos eu vou sair. ― Sorriu de lado com uma expressão zombeteira.
― Acha que a empusa o trouxe para cá? ― Mark ignorou a possibilidade de nunca mais voltar para a terra e continuou a pensar no plano.
― Ela é um espectro e vive aqui embaixo, seja lá pra quem ela trabalha, é muito provável. ― YoonGi parecia confiante e por enquanto, Mark decidiu confiar.
― Então vamos.
Os três caminharam até a margem do lago, a esse ponto o barqueiro já estava atracado perto de uma ponte de madeira a qual eles se aproximaram. Nenhum deles tinha certeza de que espécie o barqueiro se enquadra, mas as mãos ossudas eram uma prova que ele era qualquer coisa, menos humano. Ele apenas estendeu a mão, esperando as moedas.
As moedas eram colocadas na boca de quem tivesse falecido para garantir que quando a alma estivesse prestes a atravessar os dois mundos, ela pudesse pagar ao barqueiro, caso contrário, a alma vagaria sem descanso. YoonGi pegou três moedas, uma para cada um deles e entregou ao barqueiro que sem nada a dizer, deixou que embarcassem.
Mark absorveu a luz da única lamparina na canoa e projetou uma bola de luz para iluminar o caminho, assim, HoSeok e ele observavam com curiosidade, já que era a primeira vez de ambos no submundo. Por um tempo, a única coisa que ouviam era o barulho do remo empurrando a água, mas esse som ecoava por toda a caverna, era esquisito, mas não necessariamente tenebroso.
Quando chegaram até a outra margem, finalmente estavam no submundo. YoonGi tocou o chão, como se isso fosse uma forma de rastreio e de fato era.
― Vamos, por aqui. ― Indicou.
― Como você sabe? ― HoSeok soou mais incrédulo do que pretendia, mas a pergunta era justa.
― São seres malignos, HoSeok, elas deixam rastro de sua energia e eu posso sentir essas coisas. Agora podemos ir?
― Você mostra o caminho ― disse Mark, permitindo que YoonGi liderasse a trilha, fazendo com que a esfera de luz parasse de lhe seguir para seguir o Min.
Eles andaram pelo que pareceu ser uma eternidade, nunca chegando a lugar nenhum, aparentemente. Pelo menos, HoSeok esperava encontrar as almas das pessoas que já tinham morrido, mas ao que parece, o submundo era muito maior e eles não estavam andando pelo lado onde as almas ficavam descansando.
Em dado momento, YoonGi fez um sinal para que os dois parassem e assim o fizeram, ele fez outro movimento indicando silêncio e apontou para uma claridade saindo de uma outra caverna.
― Acho que estão ali.
― Quantas? ― Mark perguntou.
― Pelo menos duas, mas não posso dizer com certeza.
― E como se mata empusas? ― HoSeok fez a pergunta que deveria ter feito muitas horas atrás.
― Nunca tentei matar uma, mas se você acertar seu raio no coração dela, já deve ser de grande ajuda ― respondeu o Min, com um leve toque de ironia.
― Parem de discutir, vamos descobrir se ele está lá.
Mark apagou a esfera de luz e saiu na frente, os outros dois lhe seguiram depois de murmurar mais alguma ofensa um sobre o outro. Finalmente, na entrada da caverna, eles puderam ouvir algumas vozes.
― Ele parece uma refeição deliciosa, nunca provei um semideus.
― Não vai provar agora também, vamos, prepare-o para o sacrifício.
― Não podemos pegar pelo menos uma parte?
― De jeito nenhum, tem que ser uma oferta completa. Tire as roupas dele, já acendi o fogo.
Os três se olharam e perceberam que chegaram no momento exato, mais uns minutos e não teriam a chance de o salvar. Os três abriram suas mochilas para pegarem as armas que estavam guardadas ali, YoonGi tirou uma espécie de chicote, onde nas cerdas tinham lâminas de ferro estígio, mesmo parecendo uma arma muito comum, era muito útil para ele; HoSeok puxou do pescoço um colar, entre as correntes havia uma pedra amarela, assim que ele apertou na palma da mão ele podia sentir os poderes de energia passando por seu corpo, ele até tinha uma espada, mas normalmente não usava, quase nunca precisava; Mark tirou a aljava da mochila e colocou nas costas, depois pegou seu arco, pronto para o ataque.
― Você precisa de cobertura? ― YoonGi segurou no ombro do loiro, ele sabia que na escuridão em que estavam o filho de Apolo estava em desvantagem.
― Não se preocupe, eu passei o dia inteiro absorvendo luz, eu poderia estar brilhando agora se quisesse. ― Sorriu. ― Além disso, elas já cometeram o erro de acender o fogo, eu posso usar isso ao meu favor.
YoonGi acenou positivamente decidindo que Mark parecia saber cuidar de si mesmo. Os três tentaram ser sorrateiros, mas bem no momento que chegaram ao fundo da caverna e avistaram as empusas, foi no momento em que ambas estavam prontas para colocar o semideus desacordado e nu em uma pira com o fogo já aceso.
Mark foi quem agiu com mais agilidade que os outros, puxando uma flecha da aljava e para qualquer pessoa normal, parecia impossível a rapidez com que ele mal mirou e lançou a flecha na mão de uma das duas, fazendo com que ela soltasse o rapaz antes de chegar na pira. Com o grito agudo doloroso da empusa, a outra também soltou JinYoung.
Não havia mais chance de um ataque surpresa, a empusa que não fora atacada bateu as asas pegando vôo na direção deles, o cabelo em chamas parecia deixar o rosto ossudo ainda mais tenebroso. Ela soltou um grito que parecia ensurdecedor, os três levaram as mãos aos ouvidos, tentando inútilmente abafar o som. YoonGi segurou firmemente o cabo do chicote e o lançou na direção do espectro, o material do chicote que era de ferro expandiu-se, como se esticasse, indo muito mais longe do que um chicote comum e as lâminas ficaram maiores também, causando cortes mais profundos. O chicote enrolou-se na cintura da empusa e YoonGi a puxou para baixo, derrubando-a.
A empusa que Mark acertou puxou a flecha, partindo-a. Seus olhos estavam cheios de ódio, quando ela veio ao ataque de Mark, mas HoSeok meteu-se na frente, ele gostava da emoção de uma boa luta corpo a corpo. As garras afiadas da empusa contra os punhos do filho de Zeus. Enquanto HoSeok cuidava dela, Mark correu para JinYoung, na esperança de usar seus poderes de cura para acordá-lo.
A empusa derrubada por YoonGi não ficou muito tempo caída, mesmo com a dor das lâminas perfurando sua carne, ela teve forças para puxar a lâmina e desvencilhar-se do chicote. O sangue que escorria era na verdade preto, como um líquido pastoso podre e fedido. Ela avançou contra YoonGi, as chamas do seu cabelo começaram a se projetar em bolas de fogo contra ele, que teve que ir desviando, enquanto cada vez mais se afastava do grupo. Ele não percebeu que estava se encurralando até suas costas baterem em uma parede e a empusa vir com as garras em sua direção, pronta para cravá-las em sua cabeça.
YoonGi desviou por muito pouco, tanto que uma das garras ainda rasgou um pouco da sua bochecha. Ele ficou cara a cara com a empusa, ela estava com a mão presa na parede porque as garras perfuraram as rochas. O semideus reuniu poder na mão que segurava o chicote e o ferro começou a encolher até que se formasse em uma espada e ele pôde cravar no coração da empusa.
Sua arma começou a sugar a energia do espectro, trazendo para ele o domínio sobre a alma dela. A empusa caiu no chão, morta.
O Min olhou ao redor, vendo que Mark estava com as mãos sobre a cabeça do semideus ainda desacordado. Quanto a HoSeok, a luta ainda estava acontecendo, a empusa lançava as garras contra ele e o Jung desviava com maestria, parecia mais estar se divertindo e YoonGi revirou os olhos com a forma como ele estava se exibindo, mas se ele fosse verdadeiro, estava impressionado com as habilidades do outro.
A empusa bateu as asas parecendo que pegaria voo, mas seu corpo paralisou, até mesmo HoSeok ficou surpreso, porque além de acertar alguns socos, ele não tinha usado nenhum poder. Mas quando a empusa começou a vomitar um líquido preto, soube que não tinha sido um ato seu. A flecha usada pelo filho de Apolo estava incutida com veneno, que assim que perfurou a mão dela começou a apodrecê-la de dentro para fora. O espectro começou a curvar-se, o corpo se retraindo até que caiu no chão.
― Mas que droga foi essa? ― HoSeok perguntou, meio abobado.
― Só um pouco de veneno ― respondeu Mark.
― Lembre-me de nunca irritá-lo ― resmungou o Jung, tocando o corpo do espectro com o pé, só para confirmar que ela estava morta.
― Pois é, o "mundo-da-lua" aqui não deveria ser aborrecido ― o Tuan falou, deixando claro que tinha ouvido o que HoSeok falou no ônibus para YoonGi, o que o deixou constrangido e o Min riu.
― Como ele está? ― YoonGi aproximou-se, recolhendo a roupa de JinYoung para ajudar a vesti-lo se ele não fosse capaz de acordar agora.
― Ele tinha um trauma na cabeça, mas eu já curei ― explicou o filho de Apolo. ― Não há nenhuma magia para desacordá-lo, então ele vai ficar bem.
― Ele consegue voltar conosco de ônibus? ― HoSeok perguntou. Aparentemente a missão estava no fim, eles podiam voltar, mas se JinYoung não tivesse condições disso, teriam que ficar na cidade pelo menos até o amanhecer.
― Não sei, ele precisa acordar primeiro. Deem mais um tempo para ele.
― Nesse caso, vou vigiar a entrada, só pro caso de mais algum demônio aparecer ― disse YoonGi.
Ele começou a andar para fora da caverna e não precisou ouvir mais que quatro outros passos além dos seus para saber que um dos dois lhe seguia.
― Qual é, HoSeok, o que você quer? ― perguntou, sem parar de andar ou olhar para trás.
― Você está machucado. ― YoonGi franziu o cenho, tentando perceber se sentia alguma dor. A adrenalina parecia ofuscar a sensação, mas no momento em que passou a pensar sobre aquilo, sentiu a ardência no rosto.
― Não é nada. ― Passou a mão pelo corte, de fato não era profundo e na verdade o sangue já estava seco.
― Deixe-me ver isso. ― Antes que o Min pudesse reagir, HoSeok já tinha lhe alcançado e segurou seu pulso, virando-o para si.
Os olhos castanhos brilharam em prata brilhante, perscrutando a face de YoonGi, foi apenas um segundo com aquele brilho, mas deixava claro que a magia de BamBam já não fazia mais nenhum efeito sobre o filho de Zeus. Ele passou a mão delicadamente pelo rosto de YoonGi e os olhos do Min dilataram, ficando ainda mais escuros.
― Acho que Mark estava certo… Nós tivemos um momento e a magia dos filhos de Afrodite me fizeram te beijar. Mas se foi apenas magia, por que eu continuo querendo isso? ― Eles estavam tão próximos que essas palavras puderam sair em um tom baixo e mesmo assim parecerem altas aos ouvidos de YoonGi.
— Pelo menos, dessa vez você está me dizendo antes de fazer.
― Você me prometeu um soco se eu fizesse.
― Se fizesse sem permissão ― corrigiu.
― Então você está me deixando fazer isso? ― Houve uns segundos sem resposta, YoonGi sentia como se sua mente estivesse derretendo e então ele deu sua palavra:
― Você pode.
E HoSeok o fez, beijou-lhe, diferente do primeiro que tinha sido tão agressivo, esse era calmo, não exatamente delicado, mas eles não pareciam estar lutando mais. Bem, isso foi nos primeiros dez segundos, que eles pareciam precisar se familiarizar, porque quando pegaram o gosto um pelo outro, o beijo foi ficando mais faminto e agitado. As mãos de HoSeok desceram para a cintura de YoonGi e as de Min foram para o pescoço de Jung, eles não queriam dar espaço sequer para a respiração deles, quanto mais entre os corpos.
O filho de Zeus foi andando para frente até que YoonGi colidisse com a parede, mas dessa vez ele teve o corpo maior de HoSeok pressionado contra o seu. O calor dos dois estava começando a deixar o ar insalubre, não bastasse estarem no subterrâneo. Quando eles se separaram, por serem humanos o suficiente para precisarem de oxigênio, eles se encararam novamente. Não tinham palavras para dizerem um ao outro, mas os olhos conversavam.
De repente, a bolha entre eles foi estourada com uma tosse falsa. YoonGi espalmou as mãos no peito de HoSeok e o afastou, sem agressividade dessa vez. Ambos olharam e Mark estava ali, ele tinha projetado uma nova esfera de luz e ao seu lado estava o rapaz, JinYoung. O rapaz parecia muito sem jeito em ter presenciado a cena.
― Acordou e está de pé, isso é bom ― constatou YoonGi, não deixando espaço para que nenhum dos dois falasse a respeito do que viram.
― Quem são vocês? Onde eu estou? O que aconteceu? ― JinYoung perguntou.
― Ah, essa é uma longa história, mas eu com certeza não sou o melhor para explicar ― HoSeok disse, dando de ombros. ― Me chamo HoSeok e esse aqui é YoonGi, Mark já deve ter se apresentado.
― Sim, ele fez, mas… o que são aquelas coisas mortas? Eu não entendo…
― JinYoung, você já fez ou viu coisas diferentes, certo? ― YoonGi perguntou, mas o rapaz não respondeu. ― Eu sei, parece loucura, por isso você não conta a ninguém. Todos nós passamos por isso. Aposto que você não conhece seu pai verdadeiro, não é? Pois nós também não conhecíamos, até descobrirmos que nossos pais são deuses, Apolo é o de Mark, o meu é Hades, HoSeok é filho de Zeus e pelo que tudo indica, você é filho de Poseidon.
― Você é louco? Um deus? Eu sou filho de um deus? ― JinYoung riu, um riso que mais parecia desespero.
― Eu sei que parece loucura, mas você está vendo que Mark está controlando uma esfera de luz, você não acha isso prova suficiente? ― HoSeok questionou.
JinYoung levou uma mão até a têmpora, tentando diminuir a dor de cabeça que começava a sentir.
― Então… meu pai é Poseidon… deus do mar…?
― Provavelmente e sinceramente, você tem mais sorte que a maioria de descobrir quem é o seu pai, muitos nunca chegam a descobrir ― falou HoSeok.
― 'Tá, o que eu faço com essa informação? ― Ele riu novamente, descrente da sua realidade.
― Hey, parece estranho, ou até mesmo ruim, mas não é e olha, todos nós passamos por isso. ― YoonGi aproximou-se dele. ― Tem o lugar onde moramos, outros filhos de deuses também, você pode ir conosco.
JinYoung respirou fundo e assentiu, ele não sabia muito bem o que estava fazendo, mas pelo menos aqueles três tinham lhe salvado, então parecia a melhor escolha a ser feita no momento.
[...]
― Oh, então foi assim que aconteceu? ― JeongGuk perguntou, ele era um dos filhos mais novos de Poseidon, inclusive mais jovem que JinYoung. ― É por isso que eu sempre digo pra tomarem cuidado com filhos e filhas de Afrodite.
― Quem diria que em uma missão de resgate esses dois iriam parar de brigar e começar um relacionamento? ― TaeHyung riu.
Eles estavam ao redor da fogueira no acampamento, contando histórias aleatórias e alguém não resistiu e perguntou sobre como YoonGi e HoSeok deixaram de ser inimigos para tornarem-se namorados.
― De certa forma, podemos dizer que a missão de resgate ao JinYoung tornou-se uma missão cupido ― JinYoung brincou. Ele tinha se juntado ao acampamento, no fim das contas, mesmo que ainda não tivesse conhecido Poseidon, ter conhecido seus meio-irmãos e outros semideuses estava sendo uma boa experiência.
― Mas esses dois mal agradecidos nunca agradeceram, pelo contrário! ― JiMin fez sua nobre participação reclamando. ― Juntamos eles e só recebemos esporro.
― O esporro valeu a pena, fizemos um trabalho incrível. ― BamBam levantou a mão e JiMin bateu nela, como um toque cúmplice.
― Até onde eu sei, a missão juntou mais de um casal, não foi? ― TaeHyung olhou com um sorriso arteiro para o meio irmão. Mark tinha apenas ouvido a história, sem se meter, mas com o olhar e a insinuação de Kim, ele voltou à realidade.
― Hm?
― Ah, não se faça de bobo, você e JinYoung… ― BamBam quem disse, portando o mesmo sorriso arteiro de TaeHyung.
― Ah! ― O americano olhou para o filho de Poseidon e esse também sorria, achando uma graça como ele ficava distraído fácil. ― Essa história fica para outro dia. ― Desviou a atenção de si e olhou para YoonGi e HoSeok. ― Até porque, só pra vocês saberem, eu também já tinha visto vocês dois juntos no futuro.
― Yah! E por que você nunca disse nada? ― HoSeok perguntou, indignado.
― Porque é melhor não sabermos o futuro ― YoonGi respondeu, lembrando do que Mark disse quando esperavam o ônibus. O americano sorriu, assentindo. ― Assim podemos aproveitar o que temos agora.
E como para confirmar isso, segurou na bochecha do Jung e o beijou.
Talvez existissem mais profecias sobre eles, talvez devessem estar juntos desde o início, ou talvez não fosse para sempre, mas YoonGi não se importava com o futuro. Um dia ele estaria no submundo e não sabia onde HoSeok estaria, eles deviam aproveitar o que tinham agora, sair em missões juntos, causar problemas, brigarem, rirem e se amarem.
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Enemies to Lovers
FanfictionMin YoonGi é um semideus, filho do deus do submundo: Hades; depois da perda da sua mãe, passou a viver no acampamento meio-sangue. Jung HoSeok também é um semideus, porém é filho de Zeus, deus soberano sobre todos os outros. Desde o dia em que se co...