05/01/2022, Goiânia - Brasil


Maraisa


Cá estou eu, jogada em minha cama macia com diversos travesseiros e cobertores de linho, no quarto gélido devido à temperatura do ar que se encontrava em 18°C, da forma em que eu me sinto confortável, o brilho da luz da noite entrava em meu quarto sem pedir permissão alguma, olho ao redor e percebo a escuridão já tão familiarizada a mim. Os diversos vestidos e sapatos de shows anteriores espalhados no porcelanato do quarto. O que não era muito comum para a Maraisa de meses atrás, sempre tão organizada, tudo sempre em seu devido lugar, porém, tem uma coisa que sempre esteve presente junto a mim, não importando o tempo, a bagunça em minha cabeça. Olho para o teto, e ouço o barulho que tem sido alto e constante ultimamente, o silêncio.


Vazio


Havia chego tem pouco tempo, devido aos três shows durante a noite, após a ida de Marília, decidimos que iriamos fazer todos os shows que seriam feitos por ela, a fim de espalhar seu legado pelo país. Mas tem sido exaustivo e me culpo por isso, cantar para mim não tem mais o mesmo sentido, oque para mim era como uma fuga de minha mente, hoje não tem mais nada lá, a paixão se foi. Ter que conviver com as imagens de Marília passando todas as noites nos telões de diversos palcos é complicado, sempre a mesma dor, mas nos palcos me mantenho firme, não quero que vejam a verdadeira Carla Maraisa, sempre foi assim, não será agora que isso irá mudar. Preciso ser forte por meus fãs, amigos, família, mas principalmente por minha irmã, Maiara.


Maraisa vira para o lado direito, onde havia uma pequena cômoda, e pega um pequeno retrato onde foi captado um momento de um de seus últimos shows com ela, Marília. Nele, ela e Maiara segurava um buque dado por Marília, vindo a tona as recordações daquela noite memorável. A frase dita por Mendonça ainda ecoava em sua mente;


" Vocês aceitam dominar o mundo comigo?"


" Vocês aceitam dominar o mundo comigo?''


" Vocês aceitam dominar o mundo comigo?''


Ela abraça aquele retrato, tentando de certa forma sentir os braços da loira novamente, com o choro já em sua garganta, Carla se permite chorar, como tem feito desde o fatídico dia, seu amor havia partido e ela nem se quer teve a oportunidade de dizer tudo que já estava guardado há anos. Lembra do riso da mulher e da forma que ele cativava a todos ao redor, sentia saudades, da sua voz, dos seus olhos castanhos sempre tão expressivos, de seus longos cabelos loiros e da sua paixão pela música. Ali se fez presente a Maraisa vulnerável, as lágrimas ardentes constantes, os soluços em meio ao silêncio, o corpo tremendo, o frio do ambiente a acolhendo, ali estava ela, mas todos acreditavam que ela estava bem, isso é bom, não é mesmo? A gêmea mais velha se pergunta se aquela dor um dia se cessará, mas segundos depois já obtém sua reposta, não. Sua vida não era a mesma sem sua loira, a cada dia, a cada hora, a cada minuto que se passa, a seu abismo de tristeza a consome, podendo a qualquer segundo a consumir.


Em meio aquele silencio, um fio de voz de Carla, um sussurro, um pedido, que de fato tem que se concentrar um pouco para ser ouvido, Maraisa enfim levanta o pequeno retrato de seu peito e observa com um pesar, volta seu olhar ao céu brilhante devido às estrelas e a luz da lua.

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⏰ Last updated: Oct 16, 2023 ⏰

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Além da noite: O retorno concedido pelos raios lunares (Malila)Where stories live. Discover now