Aprendi sobre o peso de amar alguém muito cedo. Desde a parte bonita e romantizada do amor até a mais dolorida.
A primeira vez que senti uma das maiores dores de minha vida, se não a maior, foi quando perdi meu pai. Eu tinha doze anos e ainda morava com meus pais.
O inferno que mamãe fazia na nossa família começou muito cedo, assim que seus filhos revelaram os primeiros indícios de opiniões e identidades próprias. Pâmela estava cada vez mais nítida dentre aquele personagem que não era ela. Adam era o mais velho, e saiu de casa aos dezesseis anos por não aguentar o enchimento de saco da dona Glenn, e bem... eu fui o exemplo de filha em absolutamente tudo, menos na única coisa que eu não podia mudar: ser lésbica.
Amar senhora Glenn foi a coisa mais sofrida que eu já fiz. Até eu perceber, que não valia a pena tentar fazê-la me amar também. Era inútil, mamãe não amava ninguém e gostaria de dizer que a única pessoa que ela amava era a si mesma, mas acho que nem isso.
Acredito que todo aquele exibicionismo e falta de empatia com o outro era e é só uma forma de camuflar o vazio que Marlena Aurora tem, uma personalidade podre feita para encarar o peso da própria realidade de sua infância traumática, com uma avó que não tive o desprazer de conhecer, mas que pelas histórias sei o suficiente.
Por muito tempo perguntei-me o porquê meu pai não se separava da minha mãe, sendo que ele parecia tão infeliz no relacionamento. Anos depois eu entendi, depois de ver seu corpo sendo levado em uma maca até a ambulância. A verdade era que Randor já sabia que não ficaria vivo por muitos anos e talvez, Marlena fosse a única coisa que nos restaria.
Mas não foi.
Eu nunca acreditei que nossa relação de mãe e filha mudaria após o falecimento do papai. Na verdade, assim que recebi a notícia, além da dor avassaladora de saber que perdi o homem que mais amei na vida, também senti o aperto da certeza de saber que Pamela e eu estávamos sozinhas, desprotegidas.
Pelo menos até vovó se esforçar para ficar com nós duas. O que tornou o processo do luto um pouco mais leve dentre tantas tortas com sabor amor e amora. Foram muitas tortas durante três anos. Os únicos anos que me senti em casa, mesmo sofrendo, mesmo sem meu pai, eu realmente me senti em casa porque minha vó estava ali, Pâmela podia ser ela mesma e eu também podia amar quem quisesse. Os jantares não eram cheios de um silêncio agonizante, não precisávamos esconder as maquiagens de Pamela, eu podia me vestir como bem entendesse e contar sobre minhas paixões sáficas e infantis nos almoços. Não precisava me preocupar em vestir uma saia que não queria vestir, ou ir para uma igreja que eu definitivamente não gostava de ir.
Podíamos ser nós mesmas.
E por um tempo isso me fez pensar que seria o suficiente para preencher toda negligência familiar feita por anos, o suicídio, a raiva, a pulga atrás da orelha do porque ele ter feito isso com a gente, comigo, com quem Randor dizia amar mais que tudo, mas não foi o bastante.
E o ser humano quando sente que falta algo em si, procura em outros lugares e pessoas. Na verdade, em qualquer coisa que não seja ele mesmo.
Com catorze anos de idade eu estava fazendo um teste de ist e nesse mesmo ano, minha irmã estava tendo a primeira e última overdose da sua vida.
O desespero de estar com uma possível infecção sexualmente transmissível não foi nem perto, a coisa mais pavorosa que me aconteceu. Ver Pâmela desfalecendo em meus braços enquanto eu não conseguia fazer nada, a não ser chamar por ajuda, com certeza foi pior.
A sensação de impotência dói. Naquele dia eu tive certeza.
ㅡ Você não precisa fazer isso, Ad. ㅡ diz minha irmã, trazendo-me de volta dos meus pensamentos do passado.
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Rivais - Catradora +18
FanficOnde Adora e Catra são rivais. Elizabeth é conhecida na escola por seu estilo e personalidade forte na mesma medida que é muito talentosa e inteligente. A grande questão é que há outra aluna no colégio com o mesmo perfil. E o que era uma simples ric...