A casa estava outra vez vazia. Sem cor, sem risos, sem alegria.
Sua alma parecia ter ido embora ficando somente seu corpo, seu coração estava dilacerado.
Irene oficialmente tinha perdido qualquer vestígio de felicidade, aquela era sua deixa. A única alegria que ela tinha foi arrancada dela, o bebê que ela amou com todo o coração não era neto dela.
Toda mágoa e decepção podia ser vista nos olhos dela, ela amou aquela criança como se estivesse com o próprio filho no colo. Como se não bastasse toda a decepção que ela passava em seu casamento a vida decidiu lhe dar mais esse baque. O tempo não tem sido generoso com ela.
Ela caminhava entre lembranças de seu filho quando segurava aquele bebê em seus braços. Novamente a sensação de vazio a inundava, um pedaço do seu coração havia sido arrancado outra vez.
Solidão era a sensação que ela mais experimentava no momento, quando seu filho morreu ela acreditava ter o marido, a filha e o neto. Quando o marido reencontrou a ex-esposa ela ainda pensava que tinha a filha e o neto. Petra comunicou a decisão de internação, ela não concordou mas aceitou porém ainda tinha o neto.
Mas agora ela não tem nada.
Ela estava sentada no chão do quarto da criança que deveria ser seu neto com um brinquedo que ele usava completamente sozinha.
- Irene? - Antônio perguntou entrando no quarto. - O quê foi? Me ligaram falando que a Graça foi embora com o nosso neto. - ele fez uma expressão de confusão.
- Ele não é nosso neto. - ela encarrou o brinquedo com um olhar vago.
- Como assim? - ele perguntou se sentando no chão junto com ela.
- Ela nós enganou. - ela disse respirando fundo. - O menino não é filho do Daniel, é de outro homem.
- Mas como? Como ela teve coragem de mentir na nossa cara? - ele perguntou com a mesma voz grossa de sempre.
- Tô destruída Antônio. - ela disse olhando pro marido segurando algumas lágrimas. - Aquela desgraçada veio aqui, Agatha. Ela disse pra eu prestar mais atenção na Graça e falou que ela estava nós enganando, o delegado veio aqui no dia que nosso neto foi ameaçado e eu ouvi ele falar "meu filho" pra Graça, eu ouvi! Eles me fizeram acreditar que eu ouvi errado, depois eu perguntei pra ela se ela teria coragem de fazer isso ela negou. - explicou com a voz embaraçada.
- Então por isso o delegado tava no dia do parto... - ele disse ligando os pontos.
- Eu fiz as conexões ontem de noite, ontem de manhã eu fui no doutor Silvério ele me disse que ia conseguir um teste para mim e conseguiu mas aí aconteceu tudo daqueles problemas. Eu fui coletar e a Graça viu, eu disse que iria fazer um teste daí nela simplesmente empurrou na minha mão. Antônio eu vi o pânico no olho dela, não precisava mais exame aquele menino não é o nosso neto! Ela mentiu sem escrúpulos, brincou totalmente com a dor de perder um filho. - ela explicou ao marido enquanto algumas lágrimas descia em seus olhos.
- Mas isso não vai ficar assim, eu vou acabar com aqueles dois! Eu juro que eu vou, essa desgraçada sabe o quanto você sofreu e brinca desse jeito com você, com a gente.
- Não, com ela não. Apesar de tudo ela precisa criar aquele menino, eu me apeguei tanto....podia sentir o Daniel comigo denovo. Era tudo mentira, o quê vai ser de mim agora?
Ela deitou a cabeça no ombro do marido que prontamente passou um de seus braços na sua cintura, a abraçando com cuidado.
Pela primeira vez em muito tempo, ele sabia que ela poderia desmoronar a qualquer segundo e ele era a única coisa que restava. Ele tinha o dever e a obrigação de cuidar dela, eles casaram e fizeram promessas.
Promessas que ela cumpriu com maestria, enquanto ele não se importa.
- Não vou fazer nada contra ela, prometo. - ele falou beijando a cabeça da esposa. - Vai ficar tudo bem, vamos aguentar passar por isso.
- Antônio eu vou enlouquecer. - Irene disse em plantos. - O Daniel morreu, a Petra tá internada, você é apaixonado pela aquela desgraçada! Tudo que eu tinha era aquela criança, eu não tenho mais. E como se eu tivesse perdendo o nosso filho outra vez, eu tô cansada de aguentar tudo. Eu não aguento mais.
Quem diria que a família la selva, exemplo para toda a cidade estava em ruínas. Uma vida inteira de mentira.
- Eu tô aqui com você, não tô com ela. Você é minha mulher e eu vou ficar do seu lado quando você precisar. - ele disse limpando as lágrimas que caiam sobre o rosto dela.
- Por que essa mudança de atitude agora?
- Porque eu sei que a vida não tem sido fácil, eu sei o quanto eu errei. Petra e Daniel sempre foram tudo pra você é agora nenhum dos dois está aqui mas eu estou. Vamos ficar bem. - Antônio segurou o rosto dela, dando um pequeno selar nos lábios.
- Sinto como se tivesse levado mil facadas no peito, o que eu posso ter feito então desumano para merecer tanto desgosto. - ela falou encarando ele.
- Você não fez nada, o mundo prega peças...
- Antônio eu não tenho mais nada.
- Eu tô aqui, a Petra vai estar aqui denovo.
- Ainda tem a Petra...nossa filha vai ficar bem. Eu sei que vai.
- Sim, ela vai. Vamos estar juntos esperando ela, eu te garanto.
- Antônio...não vai embora. Não me deixa sozinha, não hoje. Por favor, fica comigo. - ela deu um olhar de suplico.
- Fico o tempo que for preciso. Vamos sair daqui, vem pro nosso quarto. - ele levantou e segurou as mãos dela auxiliando ela.
Eles foram até o quarto que pertenciam a eles, Irene se deitou primeiro e Antônio abraçou a esposa por trás.
A sensação que antes era de vazio, agora se transformou em conforto.
🔺️ notas da autora - uma one curta mas tentei fazer da melhor forma possível, espero que tenham gostado. Beijos...❤️🩹