1-Olhar

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Derek Howell não era uma pessoa muito sociável, esse era o mínimo que poderia ser dito. Como um empresário competente e muito bem conhecido, era certo que muitas pessoas o conheciam e até gostariam de o manter o por perto como um bom aliado nos negócios. Mas todos sabiam de uma coisa, Derek Howell não tinha muita paciencia para lidar com pessoas e às vezes parecia que só convivia em sociedade por mera obrigação.

Parecia ser um exagero, mas era a verdade. Talvez por não ter contato com muitas pessoas desde cedo, afinal ele perdeu seus pais em um incêndio quando ainda estava na escola e não possuía muitas pessoas em seu circulo social. Mas ele cresceu e comandou muito bem os negócios de sua familia, era o mínimo que ele poderia fazer. E ele se saiu muito bem, virando um empresário renomado. Mas essa fama atraiu pessoas, principalmente pessoas interesseiras e de caráter no mínimo duvidoso. Essas pessoas faziam ele perder ainda mais a vontade de conviver com outros indivíduos. 

Não que ele não tivesse tentado ao longo de sua vida. Mas todos seus relacionamentos nunca chegaram a dar certo. Seus potenciais amigos nunca chegavam a ser amigos de verdade, todos eles viam com uma falsa amizade que era bem mais interesse nas suas conquistas do que outra coisa. E seus namoros nunca davam certo, às vezes as garotas que conhecia pareciam muito fúteis e maldosas e isso o deixava enjoado e ele logo perdia o interesse não importasse o quanto bonitas elas fossem. Já outras vezes ele que não conseguia se conectar com a pessoa, fazendo mais um fim de um potencial relacionamento. 

Derek estava acostumado a ficar sozinho e às vezes preferia estar assim do que estar com más companhias que normalmente gostavam de ficar no seu pé. As pessoas que ele tinha que conviver eram as do trabalho e nos raros eventos que ele ia. Trabalhar era seu maior objetivo, era seu propósito. Mas quando ele não fazia isso ele ficava sem rumo, sem saber o que fazer. Ele sentia um vazio em seu peito, mesmo que ele não gostasse de admitir.

Às vezes quando ele não estava trabalhando, ele pegava seu carro e saia sem rumo pelas ruas da cidade. Ele gostava de ver as diferentes paisagens uma após a outra conforme ele dirigia. Até que ele parou em uma rua e viu carros de polícia parado em frente a uma casa e logo ao lado também tinha uma ambulância. Ele não era do tipo intrometido, mas a cena chamou sua atenção. Ele parou o carro e observou o movimento de alguns policiais e dos enfermeiros. Na porta da ambulância ele viu uma garoto sentado em uma maca enquanto uma enfermeira parecia fazer algumas perguntas para ele. 

A figura do garoto ochamou muita sua atenção. Ele era pequeno e parecia muito magro, sua pele era quase tão pálida quanto giz, seus cabelos pareciam escurecidos de sujeira, ele tinha um corte na bochecha e tinha olheiras mais fundas do que qualquer outro adulto que ele já tinha visto. Mas seus olhos eram o que mais chamavam a atenção, os grandes olhos azuis meio escurecidos que pareciam opacos e distantes. Parecia um olhar vazio, algo que não era esperado de uma criança. 

O seu transe se quebra quando a maca é colocada dentro da ambulância e suas portas são fechadas para em seguida ela partir para o hospital mais próximo. Derek deu uma ultima olhada e viu que em um dos carros da policia estava preso um homem. Ele não viu muito antes do carro também ir embora. Ele se perguntou se seus olhos teriam ficado da mesma maneira que os daquele garoto quando ele soube do incendio que tirou a vida de seus pais.

***

Naquela mesma noite Derek teve um sonho. Ele estava em um local vazio e escuro, até que ele vê uma pessoa parada no lugar. Parecia uma criança, um menino. Ele notou que era o mesmo menino que viu naquela maca. A cabeça dele estava abaixada, mas aos poucos ela se levantava até Derek ser capaz de encarar os olhos do menino. Seu olhar era opaco e vazio, sem vida. Uma visão que causava angustia ao seu peito. Essa sensação permaneceu com ele até depois dele acordar do sonho, que se assemelhava a um pesadelo. 

O sonho ainda permaneceu em sua mente no momento que ele se arrumava até o momento que ele estava sentado à mesa tomando seu café da manhã antes de ir para o trabalho. Mas outra coisa desviou seus pensamentos. A tv que sempre permanecia ligada nas noticias enquanto ele tomava seu café estava ligada, ele sempre gostava de ficar atento as noticias antes de sair de casa para o trabalho, mas essa noticia que estava passando chamou sua atenção. 

--- O menino foi encontrado em um freezer, aparentando estar desnutrido e com ferimentos pelo corpo. A denúncia veio dos vizinhos, que desconfiavam que a criança estava sendo agredida pelos barulhos vindo da casa, mas não imaginavam que ela estava sendo aprisionada e estivesse em condições tão criticas. --- A reporter fala.

Derek se atenta a imagem da mesma casa que ele viu no dia anterior. Será que era realmente o mesmo menino?

--- O agresor era o próprio pai do menino. Ele foi preso e seu filho, Isaac, de apenas 12 anos, foi levado para o hospital devido a sua fragilidade por conta dos abusos físicos.

Foi mostrada uma foto do garoto, parecia ser uma foto da escola, era o mesmo garoto que ele viu no dia anterior, não restava duvida. Derek sentiu um aperto no peito. Aquele garoto tão novo tinha sofrido muito, e isso tudo devido ao próprio pai, a pessoa que devia protege-lo, mas que o fez sofrer mais do que qualquer outra. Deveria ser quase inimaginável pensar na dor daquele pequeno garoto. 

Derek perdeu o apetite quando imaginou o garoto trancado em um local escuro e apertado, quando imaginou o seu medo. Ele pensou naquela notícia durante todo o caminho do trabalho. Sabia que já tinha visto noticias piores do que aquela, o mundo estava terrível demais para ele não ter visto coisas piores, mas aquele olhar vazio do menino não saia de sua cabeça.

Mesmo estando em seu escritório ele ainda pensava em tudo aquilo, mal de seu conta que estava lendo os papeis de negócios no automático mas não se lembrava do que tinha lido. Deixando os papeis de lado ele suspirou. Como aquele garoto deveria estar depois daquilo tudo? Será que sua saúde tinha sido muito prejudicada? O que aconteceria com ele agora que seu pai foi preso? Ele tinha outros parentes que pudessem cuidar dele? Será que os seus futuros guardiões o tratariam bem?

Essas duvidas não o deixavam em paz. Só parecia haver uma saída para acabar com essas preocupações, ele iria procurar pelo garoto e descobrir como ele estava, talvez assim aquela preocupação se desfizesse quando ele encontrasse Isaac e descobrisse qual seria o futuro do menino.






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