— vai com calma, baixinha. se continuar assim o pessoal do andar de baixo vai achar que tá tendo um terremoto — a voz doce de mark lee, provavelmente o meu único amigo nessa merda de escola, tirou-me dos meus devaneios envolvendo serras elétricas, janelas quebradas e seo changbin. uma mão grande e pesada na minha coxa esquerda tentando fazer com que eu parasse de sacudir a perna enquanto a outra balançava em frente aos meus olhos. — ei, yerim! tá viva ainda, garota?
— o que você quer? — pela reação de mark sei que acabei soando mais grossa do que o normal, o que não foi nem tão proposital assim, só que em poucos segundos ele já havia voltado a sorrir feito um idiota, jogando-se na cadeira vazia ao meu lado.
— você tá tão distraída que nem se tocou que o professor choi passou uma atividade em dupla, né?" ele continuou sorrindo feito bobo, arrumando seu material sobre a mesa. — sorte sua que vamos fazer mais uma faixa incrível juntos!
é, muita sorte mesmo.
tentei forçar um sorriso em resposta apenas para que mark ficasse quieto e voltasse a prestar atenção na aula de matemática, mentalmente revirando os olhos.
é claro que sobrei na hora de escolherem as duplas e acabei com mark. ninguém quer ter o azar de sentar perto da garota estranha da sala. o canadense é o único que ainda me trata como uma pessoa normal desde que eu e changbin brigamos pra valer.
infelizmente, mark continuou com a mão na minha coxa durante o resto da aula só para ter a certeza de que eu não ia continuar com minha mania de sacudir a perna, vez ou outra apertando-a de leve como se para se certificar de que eu ainda estava ali. qualquer um que olhasse de longe acharia até que somos um casal, mas não. definitivamente não. mark é meu amigo desde que usamos fraldas, comigo sendo alguns poucos meses mais velha, e com certeza ele me vê apenas como irmã. e é assim que enxergo ele também, um irmão irritante mas que sem ele eu não seria nada.
tentei, juro que tentei, prestar atenção no resto da aula, mas foi uma tarefa bastante difícil. meu sangue ainda fervia e a vontade de enfiar um lápis nos olhos de seo changbin só aumentava.
deuses, como apenas a presença de alguém pode ser tão irritante?
ele estava sentado do outro lado da sala, babando pela sua dupla, doyeon, feito um cachorro no cio. nojento. precisei revirar os olhos e bufar, o que chamou a atenção de mark.
bastou que ele seguisse meu olhar irritado para entender a situação.
— deixa eu adivinhar: changbin é o responsável por você estar tremendo de frio e sem casaco?
— não, mark. só está muito quente no meio de fevereiro — encarei-o sem animo algum, e, como se fosse para dar mais ênfase à minha frase, senti meu corpo estremecer com o vento frio que entrou pela fresta da janela. — óbvio que ele é o culpado — mais uma vez, bufei, tentando manter a voz o mais baixa possível para não chamar a atenção de ninguém.
do outro lado da sala, changbin flertava com doyeon descaradamente, com um sorriso presunçoso que só me deixava com mais raiva ainda.
maldito.
— derrubou café quente em mim como se fosse um acidente. ainda teve a cara de pau de perguntar se eu estava bem enquanto ria. gargalhava! eu quero tanto matar esse garoto.
deu para notar que mark estava segurando o riso, provavelmente achando graça de me ver tão irada assim. fiz uma anotação mental de lhe dar um soco depois da aula.
o professor choi acabou chamando a nossa atenção antes mesmo que mark conseguisse comentar algo, então tivemos que ficar em silêncio completo fingindo fazer a tal atividade.
mas eu ainda estava espumando de raiva, planejando minha vingança contra seo changbin.
⁂
as aulas daquela manhã praticamente se arrastaram, mas felizmente sobrevivi até o intervalo. sai da sala de aula do quarto ano do curso de música feito um furacão, com mark gritando meu nome e correndo atrás de mim, mas tudo o que eu queria era ficar o mais longe possível de changbin. quando cheguei no refeitório da faculdade estava sem fôlego, mas por sorte consegui encontrar a torre de músculos que é lucas wong.
— baixinha! por que você tá vermelha desse jeito? — o sorriso radiante de meu amigo chinês mudou para uma expressão preocupada assim que ele me viu, o que chamou a atenção de nossos outros amigos para a minha presença.
me joguei no banco, apoiei os cotovelos na mesa e enfiei a cara nas minhas mãos, soltando um grito que passei a manhã inteira tendo que segurar. mark chegou uns dois minutos depois, sentando-se ao meu lado.
— o de sempre: seo changbin — o canadense disse com um suspiro cansado.
soube que na mesma hora que aquele nome saiu da boca de mark, a expressão de meus demais amigos mudou. senti alguém, provavelmente hendery, dar dois tapinhas nas minhas costas murmurando um "sinto muito"; xiaojun devia estar com a mesma cara de cansaço, se segurando para não dizer que me avisou; e yuqi apenas esticou o braço sobre a mesa e tocou meu braço delicadamente.
— vai dar tudo certo, amiga. logo você consegue superar esse traste.
me apeguei a essas palavras, por mais que estivesse achando que superar seo changbin fosse uma tarefa quase impossível. não ajudava nada que a gente fazia o mesmo curso, estava na mesma turma e tinha ganhado fama de ser um dos casais mais fofos do campus. agora todos os outros alunos me olhavam torto, tentando entender porque não estávamos mais juntos. minha vontade era de gritar para todos que a culpa era todinha dele, mas quem iria acreditar em mim?
eu já sabia que o principal boato é que eu tinha traído ele.
kim yerim, uma grande vadia que partiu o coraçãozinho do prodígio da música. éramos os novos britney e justin.
ah, se todos soubessem o grande filho da puta que esse garoto é...
— espera, aquele não é ele beijando a doyeon?
a voz de xiaojun me tirou dos sonhos mais doces que eu podia ter acordada, com changbin amarrado em uma cadeira e totalmente em chamas, para a cena grotesca que estava chamando a atenção de todos no refeitório.
— droga, você não cala a boca nunca, dejun? — hendery e xiaojun começaram a discutir, lucas fez uma cara de pânico e yuqi e mark viraram-se para mim na mesma hora, só aguardando pela minha reação.
meu sangue começou a ferver. tudo o que eu enxergava era sangue. o sangue doce e quente daquele grande filha da puta que um dia eu chamei de namorado.
quando me dei conta, estava levantando da mesa e andando calmamente até o casalzinho nojento. mark tentou me gritar, pude sentir meus amigos tentando me segurar, mas o ódio puro me deu uma força que até eu mesma desconheço. em poucos segundos já estava cutucando o ombro de changbin, e em seguida meu punho atingiu aquele rosto idiota com toda a força que alguém de 1,58 metros tem.
— seu demônio asqueroso da shopee, eu vou acabar contigo! — estava me preparando para avançar sobre ele mais uma vez, dessa vez com minhas garras de acrílico prontas para desfigurar aquele rostinho que um dia já enchi de beijos, mas lucas simplesmente me pegou no colo e começou a me afastar de changbin e doyeon.
continuei gritando e me debatendo nos braços do meu amigo, mas era praticamente impossível sair daquele aperto. xinguei changbin de todos os nomes possíveis, usando até alguns xingamentos em chinês que aprendi com os meninos.
não faço a mínima ideia do que aconteceu em seguida de tanto que eu estava consumida pelo ódio, mas pelo menos pude ver de perto a cara de surpresa do meu ex, a bochecha vermelha com a marca do meu soco.
acho bom ele tomar cuidado da próxima vez que me ver, ou eu vou matar ele de verdade.
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꒰💥꒱ 𝗯𝗿𝘂𝘁𝗮𝗹; 99 line.
Fanfictionº ✧ 。━━━ Um relacionamento péssimo com um final péssimo, e dois grupos de amigos tentando sobreviver ao caos.