Quem Importa

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Fui pra minha casa e entrei como um furacão, joguei minha mochila na sala e fui no meu quarto.

Eu estava com tanto ódio, tanta raiva, soltei um grito mas eu já estava tremendo tentando buscar onde eu tinha errado.

Eu me importei.

Eu me permiti amar.

E agora não conseguia largar esse sentimento.

E usariam isso contra mim.

Fiquei de frente para a parede lembrando das dezenas de vezes que fiz isso antes e lentamente levantei o braço direito e fechei o punho.

Eu tentava respirar fundo pra me acalmar mas eu precisava descontar minha raiva ou eu mataria alguém.

Comecei a socar a parede no segundo seguinte, o primeiro soco foi só um estopim, os próximos foram com mais força, mais rápidos e mais dolorosos pra mim.

Mas naquele momento eu não sentia a dor, eu só descontava minha raiva e quando um braço cansou eu levantei o outro e continuei socando a parede.

O branco estava manchado de vermelho e meus punhos já estavam arroxeados e eu estava tão submersa que não ouvi que alguém tinha chegado e essa pessoa me empurrou contra o chão e subiu em cima de mim segurando meu braços.

Me debati antes de ver quem era até ouvir vozes tentando me chamar.

– Saiko! Por favor me escuta! – Era Mitsuya, que diabos ele estava fazendo ali?

– Saí de cima de mim! – Gritei me debatendo e xingando.

– Saiko tá tudo bem, estamos aqui – Ouvi a outra voz a direita e era Emma com um olhar preocupado.

– Por favor se acalma – A esquerda estava Hina com os olhos marejados.

Meus olhos começaram a focar e eu pude notar o pequeno grupo do quarto, Mitsuya me segurando, Hina com Takemichi, Emma com Mikey.

– O que estão fazendo aqui? – Perguntei desviando o olhar e observando meu teto – Vão embora!

– Você tá se machucando, não vamos embora! – Mitsuya falou colocando mais força quando tentei me soltar.

– Saí de cima de mim ou eu vou te dar tanta porrada que você vai terminar num caixão Mitsuya!

– Então vai ter que me matar – Ele respirava fundo com a força que fazia pra me manter no chão – Por que eu não vou sair daqui até você se acalmar.

– Deixa a gente te ajudar Saiko – Emma pediu e eu notei que um caminho brilhante marcava sua bochecha.

– Por que está chorando? – Perguntei parando de me debater.

– Por que..? – Ela se aproximou com aquele olhar de preocupação – Por que me importo com você Saiko, e você está machucada! Ver alguém que eu me importo assim, me machuca também!

– Acabou de me conhecer, como pode se importar comigo? Nem me conhece!

– Sou sua amiga independente de te conhecer a uma semana ou a um ano – Outra lágrima desceu seu rosto.

– Para – Pedi vendo a lágrima – Para de chorar!

– Por que? – Ela secou o rosto.

– Por que tá me machucando – Mordi o lábio, que merda era essa? Eu não devia me importar, eu nunca me importava, então por que vê-la chorar por mim era tão doloroso?

– Só paro se você deixar a gente te ajudar – Ela respirava fundo e seus olhos me acalmavam, assenti engolindo em seco e ela virou pra Mitsuya – Solta ela.

Ele pareceu relutante mas foi soltando devagar e eu respirava fundo tentando me acalmar.

Mikey apareceu atrás de mim e me ajudou a ficar sentada, ele estava de costas pra mim e eu estava apoiada nas suas costas, vi a minha frente a parede e ela estava toda ensanguentada, não me assustei com o sangue mas com a quantidade, eu podia morrer se continuasse.

– Ei, Saiko, me escuta, kit de primeiros socorros – Hina estalou os dedos a minha frente e eu pisquei prestando atenção nela.

– Cozinha, no aéreo – Avisei e ela correu pra buscar, Emma buscou meu rosto com as mãos quando eu tentei olhar pra baixo.

– Ei, fala comigo, quer me contar o que houve?

– Não... – Disse baixinho – Você vai me odiar se souber e eu não quero que me odeie.

– Eu nunca te odiaria – Ela me abraçou e eu engoli toda a vontade de contar tudo a ela, quando ela se afastou, passou um dedo em minha bochecha – Não chora Saiko!

– Eu tô chorando?

Tentei levar a mão ao rosto mas estava dolorida, senti a lágrima quente descer meu rosto e engasguei com a constatação.

Emma havia me feito chorar.

Eu nem me lembrava a última vez que havia chorado.

Mas algo nela havia me quebrado, e acionado o meu melhor lado, deixando totalmente para escanteio minha parte ruim.

Hina voltou com a maleta branca e a abriu, uma de cada lado, as meninas trabalhavam em minhas mãos enquanto Mitsuya mantinha meu rosto erguido a fim de que eu não visse elas trabalhando.

O grupo contava sobre as vezes que Takemichi havia apanhado, me fazendo rir, Mitsuya comentou sobre seus projetos de roupas e Emma e Hina comentavam sobre o colégio e o que fariam depois dele.

Depois que terminaram e minhas mãos estavam enfaixadas, todos descemos e eu disse que iria ao banheiro, mas peguei meu celular e avisei Kazutora pra não vir pra casa, só então desci novamente.

– Como vocês me acharam? – Perguntei enquanto comíamos dangos que eu tinha guardado.

– Ah, você esqueceu uma roupa lá em casa e eu vinha te entregar por que você não respondeu as mensagens e Mikey ia me trazer – Emma explicou – Aí Hina chegou na hora que eu estava saindo, e Mitsuya disse que estava preocupado de você passar mal pela ressaca, aí acabamos vindo todos.

– E caso se pergunte como entramos... – Mikey apontou pra sala – A porta tava aberta.

– Batemos várias vezes até ouvir umas coisas estranhas e resolvermos entrar – Hina disse baixo.

– Quando te achamos, te chamamos várias vezes mas você não escutava – Mitsuya contou – O que aconteceu, Saiko?

– Eu só... – Engoli em seco – Aconteceram umas coisas, eu dei uma surtada, só precisava descontar em alguma coisa.

– Da próxima vez que quiser descontar, me procure – Mikey disse.

– Pra que?

– Sou o melhor lutador do Dojô do meu avô, acho que posso ser um oponente a altura – Sorriu – Assim você desconta sua raiva e não se machuca.

Abri um pequeno sorriso.

– Obrigada... Obrigada Mikey.

Psico Love - Tokyo RevengersOnde histórias criam vida. Descubra agora