Todos os dias o despertador de Ami tocava perto das sete em ponto, mas o seu corpo já habituado a rotina acordava-a a tempo de perceber as vibrações iniciais do despertador.
Muitas das vezes queria acreditar que não estava na hora, que em vez de serem perto das sete, seriam três ou até duas da manhã, querendo dormir mais, descansar o corpo da rotina cansativa, mas era quando se voltava para a parede se aconchegava novamente que o telefone a acordava para a realidade.
Levando-se a custo, saiu da cama com os pés descalços e desligou o alarme. Viu rapidamente as notificações, ainda era muito cedo para que o seu namorado se levantasse, iria dar-lhe bom dia depois de tomar banho.
Como sempre Ami deixava sempre tudo para a última da hora, poderia arranjar as toalhas e roupa no dia anterior, mas não estava nos seus genes... funcionava melhor sobre pressão.
Fazendo a higiene oral primeiro, ligou o aquecedor e voltou ao quarto, os seus pés agora frios descalços produziam o único som na casa inteira.
Do armário tirou as toalhas, e da gaveta no seu interior a roupa interior. Olhou para os sutiã e franziu o sobrolho, apertavam de mais, e só os usava quando ir ter com o namorado ou a algum sítio diferente.
Olhou as roupas jogadas em cima da cama, deveria ainda consegue salvar alguma dali.
Escolheu umas calças pretas e uma blusa cinzeta já usadas, e seguiu para a casa de banho.
O ar aquecido acabou por a fazer demorar-se um pouco mais ao secar-se, de certa forma era relaxante, talvez devesse fazer uma sauna um dia destes.
Acabou de se vestir, penteou o cabelo curto e apressou-se a seca-lo. Ajeitou com cuidado a carpete no varão horizontal ao lavatório e esperou que secasse até amanhã.
Arrumou o aquecedor, passou pelo quarto e pegou o seu telefone, abrindo o WhatsApp pela primeira vez desde ontem. Costumava deitar-se cedo então todas as manhãs tinha muitas mensagens nos grupos, não perderia tempo a lê-las, clicou no icon do grupo é um por um marcou-os como lido.
A única pessoa que interessava estava um pouco mais abaixo. Algumas mensagens permaneciam desde a noite de ontem, quando se deitará, porém Atlas já havia digitado o Bom dia de hoje, Ami devia estar no banho na altura que receberá a mensagem.
Com um sorriso, abriu-a.
-Bom dia amor.
-Bom dia amor, acordaste cedo hoje, algum motivo especial?
Acendeu a luz da cozinha e pousou o telefone na mesa, abriu o armário e tirou uma taça vermelha de plástico. Do frigorífico tirou um pacote de leite e do armário os seus cereais favoritos.
Verteu o leite para a taça e colocou-lhe os cereais.
O som habitual das notificações do Spanchat encheu a cozinha, Lumine esticou a mão, alcançando-o, olhou a notificação e abriu-a.
Uma imagem de um campo congelado e um "Bom dia" enviados por um rapaz chamado Ajax eram habituais, quase parte da sua rotina, a troca de Snaps pelas chamas era normal entre os dois. Por sua vez Ami fotografou a taça dos cereais colocando também um "Bom dia" e enviou.
Provavelmente Atlas havia caído no sono de novo, como era habitual, ele geria um bar na cidade vizinha, normalmente ficava acordado até muito tarde.
Os cereais na taça terminaram e Lumine deitou o resto do leite pelo ralo da pia. Colocando a loiça suja para lavar na máquina. Olhou o relógio do fogão e suspirou, faltava 25 minutos para entrar ao serviço.
- Vá vamos lá Ami, acorda! - Deu um pequeno salto a abanou a cabeça, tentando afastar o sono e a preguiça. Um longo bocejo escapou-lhe.
Sentou-se pesadamente no sofá, abriu o Tiktok e deslizou a tela até serem horas de ter de ir para o trabalho.
Não era longe, era do outro lado da rua, em menos de cinco minutos estava lá, uma pequena loja de roupa.
- Bom dia Ami. - Ao sair do prédio uma senhora cumprimentou-a animada.
- Bom dia, como está? - A sua vizinha de baixo era gentil, tinha uma neta da sua idade e por vezes encontrava-a no café onde lanchava todos os dias.
- Estou bem, estou bem. - sorriu e continuou o caminho.
Estava frio na rua, apertou o casaco mais ao seu peito e ligou os fones, mesmo sendo um caminho pequeno, não conseguia mover-se de manhã sem a sua playlist.
Tirou a chave da loja, ela não era a chefe, mas como chegava sempre mais cedo,acabou por ter o " privilégio" de abrir a loja. A fechadura abriu e Ami entrou.
As luzes acenderam automaticamente assim que o botão foi pressionado. Deslocou-se para a parte de trás de uns manequins, lá havia uma porta, abriu-a e avançou até ao seu cacifo, colocou as suas coisas, trocou para a roupa da loja e meteu o seu telefone no bolso.
Olhou o relógio na parede faltavam cinco minutos para a hora de abrir. Ligou o computador principal, sem isso o da caixa não tinha força para funcionar.
O som do snap voltou a tocar. Fechou a porta do escritório com um mão e pegou no telefone com a outra. Mais um snap de Ajax
Desta vez uma mochila estava no meio, do que Ami acreditava serem as pernas do rapaz.
Ami aproveitou que não havia ninguém na loja e abriu a câmera, havia um espelho em cada provador, entrou no primeiro e uma pose simples para o espelho, sem mostrar o rosto, tirou a foto. Respondendo a Ajax.
Arrumou o telefone no bolso apertado da farda, e avançou para a porta, arrumando os dedos de um manequim que alguém tinha achado engraçado esticar-lhe o dedo do meio.
Ao trabalhar numa loja de roupa, coisas como está era habituais, quase rotina.
- Bom dia. - A porta da entrada foi aberta, o ar frio da manhã entrou com a sua superior.
- Bom dia Bertha. - A mulher sorriu e entrou no seu escritório.
A sua patroa era alguém muito reservada, para além das suas funcionárias apenas a chefe do café do lado, entrava no seu escritório.
Não havia muito movimento entre as 8:30 e o meio dia, a tarde é que as pessoas pareciam aderir mais a este tipo de negócio, e como sempre chegavam todas a mesma hora.
Ami estava sozinha no atendimento hoje, secretamente rezou para que as pessoas ficassem em casa. Até porque...com este frio, o que estariam a fazer na rua...
A campainha da entrada tocou ao mesmo momento, sorriu a pessoa que entrou e colocou uma mão no bolso.
- Bom dia! - Cumprimentou
- Bom dia. - A mulher não parecia muito simpática.
- Esteja a vontade. - Mesmo que o cliente não seja simpatico, quem serve tem de ser imparcial.
A mulher não respondeu, seguindo o seu caminho até uns casacos na nova coleção.
Lumine aproveitou para checar o telefone, era Atlas.
- Desculpa adormeci. - sorriu ao ler.
- Está tudo bem, desconfiei que fosse isso. Como estás?
-Vens cá a casa está noite? Estou bem.
-Claro.
Rapidamente Ami colocou o telefone voltado no balcão, a mulher aproxima-se com um casaco.
- São 29,99 por favor. - Após passar e retirar os alarmes da peça de roupa, informou a cliente do valor da compra.
- Quero um saco. - Lumine reformulou o valor
- 30 euros e 9 cêntimos porfavor. - A nova política do governo exigia que os vendedores cobrassem pelos sacos, fossem eles de plástico ou papel, afim de acabar com a poluição.
Mas as pessoas apenas se limitavam a pagar mais 0.10 cêntimos e partiam na mesma.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Vermelho Vinho
RomanceAmi tinha uma relação estável e feliz com Atlas, já haviam falado em arranjar casa, ter filhos, os planos normais de uma família. Porém por vezes Ami sentia falta de alguma coisa, algum sentimento alguma atenção específica da parte do parceiro. Conh...