Capítulo 239 - 5 Boias 76 - Nenhum

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Era um inferno.

Embora Lin Chen nunca tivesse tido uma imaginação precisa de um conceito tão irreal, ele pensou que se o inferno realmente existisse no mundo, deveria ser assim.

O quarto inteiro estava silencioso e arrumado, como um quarto comum de uma casa de repouso. A janela estava entreaberta e as cortinas parcialmente fechadas, com uma brisa suave levantando a bainha das cortinas. A forte luz do sol incidia sobre a mesinha de centro ao lado da cama, aparentemente sem nenhuma área escura, exceto os dois idosos na cama.

Porém, para ser mais preciso, eles não eram vivos nem humanos, mas dois cadáveres.

Os corpos estavam cobertos por dois finos lençóis brancos cuidadosamente dobrados, alinhando-se perfeitamente com as clavículas dos idosos.

E um pouco mais acima, havia pescoços que lembravam cascas de árvores mortas.

É claro que a descrição da casca de árvore morta era imaginação de Lin Chen, já que os pescoços dos dois idosos foram abertos, formando cortes profundos e escuros. O sangue escorria das feridas, encharcando seus pescoços e escorrendo, manchando os lençóis brancos como a neve, formando uma grande e vibrante mancha de tinta vermelha. Sob a luz do sol, o sangue vermelho-acastanhado parecia emitir vapor, como se pudesse evaporar a forma de suas almas.

Lin Chen não sabia como conseguiu se aproximar da cabeceira, mas parecia que o potencial humano sempre era maior do que ele imaginava.

Ao se aproximar, percebeu por que ainda conseguia sentir a presença dos vivos.

Porque os olhos do falecido estavam abertos e os dois idosos olhavam pacificamente para o teto. O branco dos olhos era tingido de uma cor marrom-amarelada, enquanto as pupilas eram completamente pretas, desprovidas de qualquer emoção, vazias como se pudessem consumir a alma. Era como se o corte na garganta não fosse letal - a verdadeira causa da morte foi a vida duradoura, empobrecida e de mau gosto que tiveram. Eles deveriam ter morrido há muito tempo, mas foram mantidos à força neste mundo.

O vento da beira do lago e dos campos soprava pela janela, trazendo um cheiro fraco e escaldante que só poderia vir da longa exposição ao sol. Lin Chen não sabia se tinha tropeçado, mas se agarrou com força à mesinha de cabeceira, parando na frente dos dois idosos, olhando-os atentamente.

Naquele momento, todos os sentidos de Lin Chen estavam extremamente aguçados, até mesmo ampliados várias vezes.

Os policiais, que chegaram um pouco mais tarde, entraram correndo com passos ressoando como trovões.

As portas do final do corredor foram sendo abertas uma após a outra, com breves pausas entre cada porta, e então outra se seguiria. Aos poucos, o som das portas se abrindo foi ficando cada vez mais lento, como se ninguém tivesse coragem de continuar.

No final, todos os passos pararam do lado de fora da porta do quarto onde Lin Chen estava.

Lin Chen ergueu a cabeça e viu muitos pares de olhos chocados, incrédulos e desesperados na porta. As emoções naqueles olhares eram muito complexas. Eles hesitaram por um momento, e a garganta de cada pessoa parecia engasgada, incapaz de falar primeiro.

O que aconteceu? Como as coisas puderam acabar assim

E o que realmente trouxe Lin Chen de volta à realidade foi o som de passos que vieram por último. Era o jovem oficial, aquele que correu para a casa de repouso antes de todos os outros. Lin Chen lembrou que seu nome era Li Nuo.

Os olhos de Li Nuo estavam injetados e ele cobriu a boca. O cheiro intenso de sangue era obviamente insuportável para um oficial de patrulha comum. Lin Chen pensou momentaneamente que Li Nuo poderia sair correndo e vomitar. No entanto, para sua surpresa, Li Nuo conseguiu se controlar. Com uma voz rouca que indicava que ele já havia chorado há algum tempo, Li Nuo lhe disse: "Consultor Lin"

Psicologia Criminal - Parte 2  [Pt-Br]Onde histórias criam vida. Descubra agora