Forasteiro

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- Olha para isso, essa comida tá uma porcaria, como sempre.

- Seria melhor servir isso aos porcos e nos dar a lavagem para comer.

Nami odiava com todas suas forças os capangas de Arlong, os três eram sujos, feios e muito irritantes. Ela realmente sentia a vontade de servir lavagem de porco para eles, mas se segurava, afinal, precisava do serviço. Geralmente, quando eles enchiam muito o saco dela, Nami simplesmente "derruba" algo na cabeça deles, ou fingia tropeçar só para jogar água quente em cima deles.

No final, nada iria acontecer com ela, pois, por mais que Arlong fosse um crápula, ele admirava a perseverança de Nami, por isso nunca a punia por nada. Porém, nesse dia em específico, ela estava mais calada que o normal, não expressava nada além de uma feição apática.

- Mais calma, rapazes, não precisam exagerar tanto com ela. Nami já faz muito de cozinhar para vocês folgados, que deveriam estar cobrando aluguel ao invés de sentados reclamando. - O homem alto sentado na ponta da mesa disse com uma voz rouca, fazendo os capangas se calarem imediatamente. - Pode se retirar agora, garota, já é trabalho o suficiente. Não se esqueça de suas tarefas da tarde. - Ele dispensou Nami com um gesto da mão.

Ela saiu andando calmamente, então, quando percebeu que estava longe o suficiente deles, começou a andar mais rápido, atravessou o rancho em direção a uma pequena cabana no meio do campo, próximo ao celeiro, onde ela dormia geralmente.

Abriu a porta pesada do celeiro e subiu até o segundo andar, lá era um local seguro, Arlong e os outros deixavam tudo que tinha relação aos animais sob os cuidados da ruiva, então nem pensavam em ir até o celeiro.

Escondido no canto, atrás de fardos de feno, o moreno estava cochilando, ele ainda não tinha acordado. Por sorte, Nami conseguiu trazer ele a tempo, limpou a ferida com água limpa e álcool, sem Arlong saber, pegou alguns medicamentos na mansão do rancho e voltou antes de fazer o café da manhã. Assim ela conseguiu tirar o estilhaço de bala do ombro dele e deu pontos, passando um curativo por cima e então, colocando o rapaz em cima de uma pilha de feno para descansar.

Ela aproveitou que estava na mansão antes e pegou escondida uma camiseta de algodão do Chew, ele nem ia reparar que sumiu. Ela deixou a roupa dobrada ao lado dele, assim que ele acordasse poderia se vestir, mas no momento, o ideal era deixar ele repousar e deixar o ferimento melhorar. Nami se sentou ao lado dele, observando a respiração serena. A garota buscou no meio do feno algo, tirando um livro médio.

Arlong não fazia ideia disso, mas Nami sabia ler, teve educação básica de sua mãe, algo raro por aquelas bandas. Ela lia muito, livros geográficos principalmente, e um dia talvez, ela conseguisse viajar por todos os mapas que ela viu nas folhas de papel. Porém, no momento, seu maior objetivo era trabalhar para manter sua família viva.

Ela começou a folhear vagarosamente o livro, observando atentamente cada detalhe dos mapas. Ela abaixou um pouco o livro de seu campo de visão apenas para perceber os olhos semi-abertos do moreno deitado, as pupilas fitando o teto do celeiro, tentando entender onde estava, buscar em sua memória resquícios de informação do que tinha se passado, os olhos ávidos passearam pelo monte de feno e se encontraram com as pupilas da ruiva. Foi quando os olhos dele subitamente se abriram com tudo, o rapaz dando um pulo, batendo a cabeça com força numa das vigas da parte mais baixa do telhado.

Levou uma mão até a testa, onde tinha sofrido a pancada.

- Ei, vai com calma, Forasteiro, não quer ficar pior do que já está. - Ela disse rindo enquanto escondia o livro de volta no local. Nami percebeu o olhar confuso dele, mas quando ele se mexeu um pouco e sentiu a fisgada de dor no ombro, parecia que tinha entendido tudo.

- O que aconteceu comigo? - Ele disse, coçando a cabeça, tentando recordar algo.

- Te achei caído, com um buraco de tiro no ombro. - Os olhos dele se arregalaram, ele se recordou ao ouvir a palavra "tiro", era verdade, ele estava com o bando dele, num tiroteio contra o Xerife, no meio da tempestade de areia, e então ele se lembrou da dor latejante e do cheiro metálico do sangue

- Cadê o meu cavalo? - Ele disse, começando a querer se levantar.

- Lá embaixo, na cocheira, junto aos animais daqui, eu cuidei dele pra você. Ei, ei, aonde pensa que vai? - Ela segurou ele pelo braço esquerdo enquanto ele se levantava, se esquecendo que o ferimento era no ombro desse lado, o fazendo se encolher de dor novamente. - Ah, foi mal.

- Eu... Eu preciso encontrar meu bando. Eu tenho que achar eles... - Começou a se levantar novamente.

- Eu não posso permitir que você vá saindo assim enquanto continua ferido e tão fraco, vai demorar no mínimo uma semana pra sua recuperação. Melhor ficar por aqui.

Ele pareceu entender que era loucura sair cavalgando ferido e sem ter um rumo.

- Que região a gente tá? - Ele olhou fixamente para os olhos dela.

- Estamos nas planícies de Thunder Gulch, acima do Rio Crimson.

- Pra que lado fica Bounty Falls?

- A cidade? Seguindo rio abaixo, dá mais ou menos duas horas de viagem a cavalo. - Ela pensou um pouco. - Você quer dizer que veio de lá? Você viajou duas horas com um tiro no ombro, e ainda assim não morreu.

- Eu sou resistente. - Ele relaxou no feno, dando um risinho para ela. - Você vai pra cidade sempre?

- Amanhã eu vou. Se você estiver melhor, posso dar um jeito de te levar escondido na carroça. - Ela viu que ele fechou os olhos, ficou tranquilo deitado no feno. - Aliás, como você levou esse tiro? Foi assaltado na estrada?

Ela percebeu que ele franziu o cenho, mas não sabia o motivo.

- Não... Mas acho que a gente pode dizer que foi algo assim. - Dessa vez Nami franziu o cenho. - Eu sou o Luffy. - Estendeu a mão.

- Nami. - Ela retornou o cumprimento.

- Você é a dona da fazenda? - Ele apontou o dedo para baixo.

- Só trabalho aqui.

- Bom, valeu por me salvar, ruiva. - Ele abriu um sorriso para ela, um sorriso adorável.

- Não tem de que. - Ela ficou feliz por receber um sorriso, não via um a tempo.

- Tem comida por aí? To morrendo de fome. - O rapaz se sentou no feno com uma mão no estômago

- Vou procurar algo pra você.

--*--

- Não podemos ficar aqui parados, o Luffy tá por aí. - O de lenço marrom, com um enorme nariz, disse.

- É perigoso sair da gruta agora, aquele Xerife ainda tá procurando a gente. - O de lenço amarelo fumava um cigarro sentado em cima de uma pedra.

- O nosso Líder desapareceu, pode ter levado um tiro ou sido pego, precisamos de qualquer jeito ir atrás dele, até onde sabemos ele pode estar morto, e se estiver, eu não tenho motivos pra continuar com essa vida de roubo. - O de lenço verde, com uma cicatriz que passava pelo olho esquerdo, esbravejou.

- Quem diria que um roubo a um trem acabaria assim. - O de lenço marrom falou.

- Certo, já que queremos nos arriscar e nos entregarmos de bandeja pro Xerife, vamos voltar pra Bounty Falls, lá a gente procura pelo Luffy, se não encontrarmos ninguém num caixão ou atrás das grades, nós voltamos pro esconderijo e esperamos ele. - Largou o cigarro e pegou as armas em cima das pedras, pegou um poncho e se cobriu, saindo andando, um som metálico saindo das esporas nas botas.

- Vamos, Usopp, prepara seu cavalo. - O com a cicatriz pegou uma espingarda no canto, levando ela nas mãos para fora da gruta.

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⏰ Última atualização: Oct 23, 2023 ⏰

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