As pálpebras se abriram em um choque, como se há segundos estivesse tentando escapar de um pesadelo sangrento, algo que o fez voltar a realidade, arfante. O peso sobre o peito, fez logo recordar da armadura que vestia, o cheiro da pólvora que se alastrou em seus pulmões fez lembrar das armas inimigas, o som dos murmúrios e rezas em sussurros clamando por piedade o fez entender onde estava.
A falha tentativa de ficar sobre os pés, as mãos dormentes, a visão ofuscada pela imensidão dublada, e logo os fleches na memória de como ficou nesse deplorável estado. A guerra sobre o solo nunca fora seu lugar, lutava sobre as densas nuvens e seus trovões que estremeciam os céus. Montado sobre as criaturas aladas, indestrutíveis como as mais fortes muralhas, feras do fogo. Nunca domadas, mas sim entendidas. Seres místicos, poderosos com sua força sob-humana, usados pelos cavaleiros nas grandes guerras, imbatíveis.
Lutou, empunhando de flechas mortais, com a mira certeira como o destino, ceifando aqueles, que como a si, não tinham culpa ou escolha de estar naquela batalha. A armadura banhada de prata polida, refletia as chamas ferventes da besta feroz. Seu nome, coberto de gloria pela bravura de um exército triunfante com seus guerreiros impecáveis.
Jurou, diante ao seu Rei, assim como outros milhares de seus companheiros, lutaria com sua alma, daria sua vida pela honra de um reino que mal se importava com sua mera existência. Pronto para defender não a si, mas as terras de um homem, cujo se dizia Rei, título não merecido, justificado pelas falsas profecias. Seus olhos, testemunharam inúmeras perdas, e ponderava como não fora sua vez. Amigos queridos, onde foram mortos diante de si. A cada flecha certeira, era uma vingança, descontando o ódio, em outro alguém que era movido por seus mesmos motivos.
A dor aguda, ardendo dentre as costelas o fez lembrar como despencou dos céus de glória para o solo sujo, coberto pelo o manto penumbre da morte, a terra manchada de sangue, repleta de corpos, inimigos que tinham repulsa do reino oposto, agora sobre postos em montes, sem vida. Forçou-se para apenas levar a mão direita sobre onde jazia o coração. Já sabendo, mas ainda querendo provar o que lhe levou a escória. Uma flecha, tão certeira como as que dominava, atravessada dentre a armadura de prata, a ponta de aço, entre as costelas, cravada na carne. Desacreditado, levou a palma rente as olhos, manchando a imensidão alva com a cor rubra de seu sangue.Os lábios secos, curvaram em um sorriso, achando irônico estar na mesma situação que deixou seus incontáveis alvos, incrédulo, as esferas acinzentadas dilataram-se com as fracas lágrimas que se formavam. O cenho franzido com o sentimento novo, o medo, diluído na dor angustiante.
Um guerreiro quebrado, uma alma manchada, agora ceifada.
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Cavaleiro dos céus
FantasyAs pálpebras se abriram em um choque, como se há segundos estivesse tentando escapar de um pesadelo sangrento, algo que o fez voltar a realidade, arfante.