O cheiro de pólvora indicava o bombardeio recente naquela área. Feridos, muitos deles desesperados por ajuda naquele ambiente hostil e cinzento, crianças choram ao lado dos corpos dos pais que não sobreviveram ao ataque, lamúrias eram escutadas aos quatro cantos da rua estreita. Era cruel o que fizeram com aquelas pessoas, como se não valessem nada. Era uma guerra injusta, isso era fato. A Rússia tinha um poder de fogo maior do que a pequena Ucrânia, não precisava saber muito de política para entender a situação atual. Alguns governantes temiam que pouco a pouco aquela guerra torna-se algo de potência mundial -, e aquele medo tornava-se real a cada dia que passava e a Rússia recusava-se recuar.Vez ou outra, sempre escutava as histórias da segunda guerra que meu avô costumava me contar. Gomes Veracruz foi considerado um dos maiores heróis. Latino-americana, voluntário nas forças armadas para ajudar o país onde residia a pouco tempo, praticamente enviado para morrer. Meu avô me contou sobre as consequências de uma guerra, do que o ser humano teria coragem de fazer por alguns míseros anos de poder. E agora, vendo tudo diante dos meus olhos, cada lamúria, cada grito de dor -, que eu tenho certeza que ficará guardado na memória até meus últimos dias de vida. Tornou tudo mais concreto.
Gomes tivera um fim trágico, morreu aos 100 anos, solitária na velha cabana localizada na costa da Califórnia. Serviu sem medo algum o exercício durante 61 anos. Para mim, ele era uma lenda.
O nó da minha garganta apertou quando escutei as lamúrias de uma garotinha no colo de um dos soldados, implorando para não ser separada do pai morto entre os escombros da casa destruída. Apertei as mãos sobre o fuzil torcendo o nariz, incomodada com a poeira que subia quando a ventania gélida daquela manhã soprava. Caminhei um pouco a frente do pelotão, à procura de mais sobreviventes naquela área.
Dobrei um pouco os joelhos, inclinando o tronco para frente levando o fuzil que carregava a altura do rosto engatilhando-o. Afastei-me mais do que deveria, bisbilhotando uma viela deserta e que a luz solar mal iluminava. Decidir ir mais afrente, a procura de algum sobrevive.
Mordi a ponta da língua, escutando o ruído irritante do Walk talk
- Onde está Veracruz? - A voz exasperada soou barulhenta através do aparelho velho. Sabia quem era apenas pelo timbre firme e rude.
Apertei o botão soltando uma lufada de ar
- Está tudo sobre controle, senhor!
Respondi de forma cordial, prosseguindo a frente a rua sem saída.
- Perguntei onde está, não se está tudo bem, porra! - Falou exaltado - Tem uma bomba implantada por aqui, Veracruz! Volte para onde está o pelotão.
O tom de voz aos poucos abaixou, tornando-se calma aos poucos. Não o respondi, decidi seguir em frente. Havia alguém escondido ali debaixo de alguns destroços, eu não estava louca. Escutava o soluço baixo e pedidos de socorro falhos.
Apertei os lábios ao escutar mais uma vez o barulho do walk talk. Arrependi-me amargamente em silêncio.
- Volte para cá agora, Veracruz! É uma ordem! - Ditou brado, com a respiração descontrolada.
Antes que pudesse respondê-lo, um grito abafado percorreu aquele beco, arrepiando-me por completo. Abaixei a guarda, largando o fuzil deixando-o pendurado ao lado do corpo. Desci a máscara que usava, rumando mais adentro. Mas, antes mesmo de dar o primeiro passo, fui puxada para trás chocando as costas com um corpo rígido.
- Eu mandei você voltar pro seu posto, Veracruz! Isso aqui não é a porra uma caça ao tesouro - Soou o mais rude que conseguiu, chocando a respiração densa contra minha bochecha.
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SKYFALL - Jeon Jungkook
RomanceTalvez, aquele fosse o fim para Scarlett Veracruz. Voluntária nas forças armadas dos Estados Unidos e enviada para ajudar a Ucrânia contra a Rússia, viu o mundo cair diante dos olhos quando reencontrou Jeon Jungkook, um antigo amor que deixou escapa...