| O Primeiro Jogo |

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Capítulo 1 ..

A sala de imprensa estava fervendo, lotada de jornalistas, câmeras posicionadas estrategicamente e o murmúrio ansioso dos profissionais que aguardavam. As paredes tinham pôsteres do clube, exibindo rostos icônicos de jogadores do passado. Era um ambiente que transbordava glória e tradição, e Lucas sabia que aquela atmosfera pressionava o novo astro do time a estar à altura.

Lucas estava parado no corredor, logo ao lado da entrada da sala de imprensa, ajeitando a gravata pela terceira vez, como fazia quando estava nervoso. Ele sabia que o atraso não era um bom começo, ainda mais porque seria o primeiro encontro com Rafael, o jogador que ele acabara de assumir como cliente. Vendo as horas passarem, ele fechou os olhos por um instante, controlando a impaciência e pensativo se ligaria novamente para aquele idiota que parecia está o ignorando.

Foi então que ouviu passos lentos e confiantes se aproximando. Ao abrir os olhos, ele avistou Rafael: alto, ombros largos, pele bronzeada. Usava uma camiseta justa que parecia realçar a musculatura e um boné preto virado para trás, que dava um ar casual demais para uma coletiva de imprensa. Rafael abriu um sorriso encantador ao notar o assessor e, em um gesto brincalhão, deu uma piscadela, como se quisesse quebrar o gelo com facilidade.

Lucas sentiu o corpo endurecer. O contraste entre eles era gritante: Lucas, de terno e gravata, postura ereta e olhos atentos, transmitia uma seriedade que parecia em desacordo com o estilo despreocupado do jogador.

— Você está atrasado ! — diz mostrando a hora no relógio chique em seu pulso.

— Ei, cheguei. Relaxa aí, cara, ainda tá cedo – disse Rafael, como se fossem velhos amigos e ignorando completamente a formalidade que Lucas prezava.

Lucas inspirou profundamente, sentindo os ombros tensos. Ele cruzou os braços, deixando claro que não estava impressionado.

— Não estamos em horário de lazer, Rafael. Cada minuto conta – respondeu ele, com uma voz firme e controlada, embora seus olhos revelassem impaciência. – Quanto mais cedo terminarmos, mais rápido você pode voltar para o que quer que seja que planeja fazer.

Rafael riu suavemente, como se Lucas acabasse de contar uma piada ótima. Ele ajeitou o boné e deu de ombros, os olhos ainda brilhando com aquela provocação inocente.

— Cara, você parece está a dois segundos de explodir — comentou Rafael, cruzando os braços de um jeito relaxado, como se quisesse diminuir a tensão. – Já tentou relaxar? A imprensa adora um cara leve, sabia?

Lucas sentiu uma pontada de exasperação. Soltou um suspiro curto e olhou para o jogador como se estivesse tentando entender com que tipo de pessoa teria de lidar.

— A imprensa adora um jogador focado, que leva a carreira a sério – disse Lucas, seu tom levemente gelado. – E eu sou pago para garantir que você seja exatamente isso.

Rafael inclinou a cabeça, o sorriso perdendo parte do brilho. Por um instante, seus olhos se estreitaram, parecendo incomodados. Mas então ele relaxou e, com um suspiro, seu sorriso voltou.

— Entendi, chefe. Então, o que eu tenho que fazer pra você me dar um desconto hoje?

Lucas não pôde evitar uma risada seca.

— Cumprir sua parte, Rafael. Só isso – disse ele, caminhando em direção à sala de imprensa, sem esperar pela reação do jogador. Ele sentia a presença de Rafael logo atrás, o que de algum modo o deixava ciente de cada passo que dava, cada movimento de seu próprio corpo.

Quando Rafael finalmente assumiu seu lugar em frente às câmeras, Lucas observou-o de perto. Rafael parecia entrar em um personagem diferente: sorria na medida certa, respondia as perguntas com um toque de humor e, de vez em quando, oferecia aquele olhar confiante que parecia derreter todos os repórteres. Lucas, de braços cruzados ao fundo da sala, começou a entender o fascínio que aquele jogador exercia sobre todos. Era inegável que Rafael sabia encantar.

Mas, em um momento, enquanto os jornalistas disparavam suas perguntas, Lucas notou uma leve mudança. Rafael desviou o olhar para o chão por uma fração de segundo, e seu sorriso desapareceu brevemente. Um cansaço sutil pareceu se revelar em seus olhos. Lucas não sabia ao certo se fora algo que apenas ele percebera ou se Rafael era um ótimo ator que conhecia bem seus limites.

Quando a entrevista terminou, Rafael se afastou das câmeras, soltando um suspiro de alívio e tirando o boné, bagunçando o próprio cabelo. Era como se, agora, estivesse de volta a ser quem realmente era, sem precisar bancar o papel do jogador perfeito.

Lucas se aproximou, ainda com os braços cruzados, observando-o com atenção.

— Achei que você gostasse do brilho das câmeras – comentou Lucas, com um tom levemente intrigado.

Rafael deu uma risada suave e abaixou o olhar, parecendo pensar na resposta.

— Talvez eu só faça o que todos esperam. No fundo, é o que o público quer, certo? – ele respondeu, e havia um toque de melancolia na voz que Lucas não esperava ouvir.

Por um instante, Lucas ficou em silêncio, sentindo algo se remexer dentro de si. Era como se estivesse conhecendo um lado inesperado daquele jogador famoso e brincalhão. Antes que pudesse formular uma resposta, Rafael ergueu a cabeça, e seu sorriso provocador voltou, mais vibrante do que nunca.

— E aí, chefe, quer dar uma volta? Aposto que você precisa relaxar – disse Rafael, dando um leve empurrão no ombro de Lucas, como se já fossem amigos.

Lucas soltou um riso incrédulo e balançou a cabeça.

— Conheço sua fama Sr.Rider, e você não faz meu tipo, mesmo se quissesse. Não preciso de mais motivos para dor de cabeça.

Rafael riu alto com a resposta do assessor e se virou para o corredor, ajeitando o boné novamente.

— Então tá, chefe. Mas um dia você vai acabar cedendo. Anota aí.

Enquanto Rafael se afastava, Lucas ficou parado, sentindo algo que misturava curiosidade e irritação. Uma de suas várias qualidades, era saber ler pessoas e ele sabia que aquele jogador seria um desafio. Mas, pela primeira vez,  se perguntou se o maior desafio seria realmente mantê-lo sob controle – ou controlar a própria vontade de descobrir quem, de fato, era Rafael por trás daquela fachada.

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