Aquela era pra ter sido uma das noites mais felizes das vidas dos melhores amigos
Baekhyun e Chanyeol, que comemoravam o sucesso de mais uma ópera. Os dois jovens
estavam unidos desde a infância, quando ainda viviam sob o mesmo teto de um abrigo para
crianças órfãs. Desde o começo, a música foi o que os uniu, era extremamente comum
encontrá-los entoando cânticos pelos cômodos humildes a qualquer hora do dia ou da noite.
Eles diziam que a música poderia transportá-los para outro lugar, para outra época e até
trazer novos sentimentos, tal como a tão cobiçada felicidade. Naquele momento, no auge
dos seus vinte e poucos anos, Baekhyun percebia que o seu companheiro de longa data
havia encontrado o seu lugar no mundo, alguém para compartilhar a vida e dividir esse
sentimento nobre que é o amor. Ele não poderia ser egoísta ao ponto de se incomodar,
porém, os seus sentimentos estavam em completa confusão. Era inevitável para si não
fantasiar com o rapaz mais alto, visto que ambos não se desgrudavam por nada e, por isso,
saber que em breve chegaria a hora de separá-los o entristecia.
Do outro lado do salão de festas, estava Chanyeol acompanhado de Sehun, o violinista que
conseguiu tocar o seu coração com a mesma maestria que fazia durante as orquestras
sinfônicas. Enquanto o Byun observa o casal de noivos sorridentes, mais uma taça de vinho
é servida em sua direção. A culpa não seria do garçom se algo de ruim acontecesse; estava
apenas atendendo o pedido de quem solicitou pelo bufê. As pessoas só viraram a atenção
para o possível problema quando a bela taça de cristal se estilhaçou em pequenas partes
contra o chão lustrado.
- Já chega de bebidas por hoje, não acha? - O maior dizia estampando um olhar possesso
e um tom de voz que não condizia com o que os amigos estavam acostumados a se tratar.
- Até parece que você se importa, Chanyeol, vai curtir a festa com o seu noivinho, vai. - Ele
cuspia as palavras carregadas de mágoa e ressentimento.
- Se eu não me importasse, não estaria aqui te vendo prestar esse papel ridículo. Acorda
pra vida, cara! Se continuar agindo com tanta imaturidade vai acabar afastando todos de
perto, até mesmo eu!
Um soco doeria menos do que aquelas palavras. Na mente de Baekhyun ele se
perguntava:
"Cadê aquele Chanyeol que prometeu ficar do meu lado para sempre?"
"Cadê aquele rapaz doce que roubou o meu primeiro beijo aos quinze anos de idade?"
- Quer ajuda, Chan? - Sehun se aproxima, compadecido com a situação. - Nós podemos
levá-lo até uma pousada próxima daqui. Não é nada que uma noite de sono não resolva.
O mais novo tenta se aproximar para ajudar, mas recebe um tapa ardido numa das mãos.
- Não preciso de você, é tudo culpa sua! Você quer roubar o Chanyeol de mim, quer me
deixar sozinho no mundo... - A voz de Baekhyun enfraquecia a cada palavra proferida, o nó
na garganta começava a surgir porque ele sabia que o amigo não o entenderia.
Os noivos trocaram olhares cúmplices por uns instantes e o Oh entende que é melhor se
retirar dali. Enquanto que os dois amigos andavam juntos para longe do salão, era nítido
que necessitavam de privacidade para terem uma conversa esclarecedora. Assim que
chegaram numa área afastada, eles se encostaram numa cerca que dava para a vista da
praia. O menor sumiu quando o corpo do outro se juntou ao seu, naquele contato íntimo que
o fazia arfar facilmente.
- O que tá acontecendo, uh? - As mãos grandes desceram pela cintura até o quadril alheio,
deixando um aperto firme na região. - Precisando de outro trato?
- N-Não… - Os braços do Byun se esticaram para envolvê-lo ao redor do pescoço. - Só
cansei disso. Quero ficar contigo pra sempe. Eu que deveria ser o seu noivo, não ele.
- Sabe que não funciona assim. Nós dois não temos futuro algum juntos. - O Park estalou a
língua, debochado. - Além do mais, você parecia tão satisfeito quando eu metia sem parar
no seu rabo.
- Eu fico satisfeito nesse sentido, sabe que foi o único homem que permiti que me tocasse
assim… Mas eu quero ir além, quero acordar do seu lado todas as manhãs, poder te
desejar um bom dia, tomar café e depois sairmos para trabalhar juntos.
O tímido sorriso apaixonado ia morrendo conforme a risada alheia se tornava mais alta.
- Qual é, Baek? Nessa idade e ainda sonhando com o príncipe encantado? Eu com certeza
não sou esse cara. - Ele deu de ombros, nenhum pouco afetado por aquelas palavras. -
Agora vai me dizer que tá apaixonadinho e com ciúmes do Sehun?
- E-Estou… eu te amo, sempre te amei. Pensei que soubesse. - Baekhyun encostou a
cabeça no seu peitoral, esperando receber um abraço apertado, que nunca veio. Ao invés
disso, recebeu um empurrão pelos ombros que desgrudou os corpos.
- Patético, vou acreditar que é efeito da sua bebedeira.
Era verdade que estava embriagado, mas tudo o que foi dito era o que estava preso em
seu coração por anos. Ver Chanyeol dar as costas para si e para os seus sentimentos o
quebrava. O Byun correu para abraçá-lo por trás, o impedindo de ir embora.
- Yeol! Não me abandone, por favor. Nós podemos ter sucesso juntos. Não vê como tudo
anda correndo bem? As nossas vozes harmonizadas rendem milhares de aplausos.
- E se um dia nós não pudermos cantar? E se um dia se cansarem da gente? Entenda que
estando com o Oh eu terei estabilidade e uma vida tranquila. Ele vive da música por opção,
mas se precisar tem uma rede de hospitais da família a disposição.
O menor se calou. Era inegável que não poderia competir com Sehun nesse quesito, pois
não tinha um sobrenome importante, heranças ou bens materiais. Possuía apenas a sua
voz tão adorada, e um amor inigualável para oferecer. Talvez não fosse o suficiente.
- Vou voltar pra festa. - O Park disse, deixando o outro abatido para trás.
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Ambos voltaram para o salão de festas, separadamente. Ao mesmo tempo que um ia de
encontro ao noivo, o outro voltava para as bebidas à procura de uma dose mais forte, como
a de uísque. As pessoas ali presentes já não se importavam com o que o Byun fazia, ele se
sentou numa mesa afastada onde podia encher um copo atrás do outro e observá-lo.
- Esse estúpido… interesseiro… - Resmungou para si mesmo, sentindo a garganta
queimar, sem saber se era pelo álcool ou pela vontade de chorar.
- Se afundar desse jeito não vai resolver nada, querido. - Uma voz feminina alcançou a
audição conturbada do rapaz.
- Sim, nós podemos te ajudar a se livrar desse sofrimento, se desejar. - Mais uma voz
feminina, desconhecida como a anterior.
Por instinto, ele coçou os olhos, pensando que fosse a sua mente lhe pregando peças. No
entanto, viu que não era quando as duas moças trajando vestidos esvoaçantes puxaram
cadeiras para sentar perto dele.
- Byun Baekhyun. - Uma delas começou, a de cabelos loiros. - Por que alguém com uma
voz tão bela e com um futuro tão brilhante estaria se lamentando por um simples rapaz?
- Não se trata de qualquer um. - Ele voltava a bebericar em seu copo, em seguida
balançando a cabeça em negação.
- Sabemos disso. Você o ama, não é? - Perguntou a outra que tinha cabelos longos e
escuros.
Baekhyun assentiu levemente.
- O que acharia de matar o que sente de uma só vez? - A loira volta a perguntar, agora com
um sorriso indescritível nos lábios.
- Nós duas vimos que esse fim será necessário para que comece a viver de verdade.
Enquanto estiver preso em Chanyeol, nunca será feliz.
Apesar de chapado, ele arqueia as sobrancelhas, confuso.
- Como nos conheceram? Assistiram a nossa apresentação?
Elas se entreolharam.
- Sim, mas também vimos o que tem dentro do seu coração, Byun. - Uma delas aponta
para o casal distante. - E no deles também.
- Acho que eu não entendi.
- Podemos ver o coração humano, cada memória, sentimento, angústia… Podemos ver
que tanto você quanto o outro rapaz estão sendo enganados pelo Park. Ele não gosta de
ninguém, somente dele próprio.
- Vocês são bruxas ou videntes, por acaso? - Uma gargalhada incrédula escapou da sua
garganta.
Outra vez elas trocaram olhares cúmplices.
- Preferimos nos intitular de outra maneira. Te contaremos depois, se aceitar a nossa
proposta. - A moça enrolou uma mecha dourada no dedo.
Ele engoliu seco ao perceber que elas falavam sério.
- Então vocês vão me ajudar a esquecer do Chanyeol? É algum tipo de ritual secreto? É
que eu tenho medo de me envolver com o desconhecido. - Baekhyun perguntou com toda a
sua ingenuidade.
- Não se preocupe com os nossos métodos, apenas garanta que vão estar juntos naquele
quiosque afastado daqui dez minutos.
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Mesmo a contragosto de Chanyeol, Baekhyun consegue roubá-lo de Sehun e das outras
pessoas importantes. O baixinho vai o arrastando pelo braço com dificuldade, rumo ao
quiosque destinado pelas moças. Assim que pararam de andar, o mais alto - enfezado -
volta a querer discutir.
- Que merda, Baek! Me trouxe aqui pra quê? Vai fazer mais uma das suas declarações
ridículas?!
Ele não respondeu, só sentiu que precisava dar um último beijo no rapaz que tanto amou.
E foi o que fez, ficou nas pontas dos pés para tomar os lábios macios de Chanyeol pela
última vez. Idêntico ao primeiro selar inocente que deram quando mais novos, quando o
Byun suspirava ao vê-lo tocar o violão antigo do abrigo que moravam.
- Muito bem, Baekhyun! Cumpriu com a sua parte, agora nós faremos a nossa. - A morena
sorria, e caminhava de mãos dadas para o meio da praia acompanhada pela outra.
- Baek, quem são essas duas? - Chanyeol franziu o cenho.
- Elas vão me ajudar a te esquecer, Yeol, parece que sabem uma magia, um ritual, sei lá. -
O outro o encarou com desprezo. - Não me olhe como se eu tivesse enlouquecido. Não
tenho nada a perder, porque você nunca vai me amar.
- Eu que não vou participar dessa porcaria. - Ele tenta se virar, mas as suas pernas param
de se mover assim que as vozes melodiosas o alcançam.
Era uma melodia bonita que desprendia dos lábios rosados daquelas garotas misteriosas.
O corpo de Chanyeol reagiu de uma maneira única; a sua cabeça tombou para trás e os
olhos rolaram em êxtase, enquanto os seus pés ligeiramente caminharam em direção ao
mar. Já para Baekhyun, a reação foi outra. Ele desejou cantar junto delas, cantar até ficar
sem voz no dia seguinte. Afinal, cantar era tudo que restaria para si dali em diante,
inconscientemente aquela seria a única canção que importaria.
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Historietas Assombradas Para Crianças Mal Criadas
HorrorSejam todos bem vindos a uma coletânea de contos tão aterrorizante que irão fazer vocês chorarem pedindo pela mamãe. Sejam todos bem vindos às Historietas Assombradas.