PRÓLOGO

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ADAM MILLER

5 ANOS ANTES



— Onde diabos estou? — balbucio enquanto vivencio um raro momento de consciência.

Abro os olhos e a luz golpeia minha visão com força, fazendo minha cabeça latejar. Porra. Eu os fechos imediatamente. Sinto novamente os calafrios e arrepios que me acordaram irradiar pelos meus músculos tensos e doloridos.

Por que está tão gelado?

Abro os olhos de novo, desta vez lentamente, tentando me acostumar com a luz do sol que entra pelas grandes janelas. Conforme vou analisando o local, percebo que estou em casa, deitado no chão da sala. Não desmaiado em um bar qualquer, sufocando em meu próprio vômito.

Sento-me de uma vez só, minha cabeça latejante gira e meu estômago se remexer, embolando, sinto a bile em minha garganta, mas me forço a engoli-la enquanto levanto e cambaleio rumo ao banheiro quando minha bexiga dar sinais de que estar para explodir.

O som de algo se quebrando chama minha atenção. Inferno! Esbarrei na mesa de centro e uma garrafa de whisky que estava ali foi ao chão. Líquido e cacos de vidro estão por todas a parte, mas não me incomodo com a bagunça. Nada importa. Nada!

Depois que esvazio minha bexiga, olho para o espelho sobre a pia.

Um idiota, fedido, com a barba por fazer, com grandes olhos escuros feridos e inchados e de feições sombrias, me encara de volta.

— Babaca estupido! — brado antes de socar o espelho, estilhaçando-o. Sinto as lascas do vidro cortarem minha pele, mas não dou a mínima nem para a dor, nem para meu próprio sangue pingando sobre a bancada de mármore. Só não quero ter que continuar olhando para minha imagem miserável.

De volta à sala, desabo no sofá, olhando para o teto com os dentes cerrados e a respiração entrecortada. Merda! Eu detesto esses momentos de lucidez. Eles são horríveis. Fecho os olhos e respiro fundo, numa busca desesperada de um pouco de alivio da agonia do pensar, mas meu cérebro não deixa.

Raiva, ódio e fúria, se emaranha dentro da minha cabeça. Eu me encolho no sofá ao sentir uma dor brutal irromper meu peito, minhas vísceras se contorcendo ao pensar nela.

Não pense nela. Não pense. Não. Pense. Caralho!

Dizem que o amor nos torna cego.

E é verdade, eu estava tão malditamente apaixonado por Meghan, que não percebi que todo o amor que ela dizia sentir por mim não passava de uma grande mentira. De uma grande farsa. De um plano ardiloso. Porra! Não percebi que ela tinha outro interesse além de mim...a minha herança.

Será que eu a odeio? Ou odeio a mim mesmo?

Concluído que o único estupido da história sou eu mesmo, levanto-me e vou em passos rápidos até a cozinha. A minha barriga ronca enquanto remexo os armários, não lembro da última vez que comi. Talvez há três dias, não sei. É o álcool que vem me alimentando, me anestesiando. Quando encontro o uísque. Imediatamente arranco a tampa e bebo direto da garrafa, em goles longos, o líquido sequer faz arder minha garganta.

Apoiado no balcão de mármore frio, sorrio amargamente da ironia de que até pouco tempo, eu raramente bebia. Apenas uma taça de champagne em eventos formais, uma cerveja enquanto assistia a um jogo de beisebol. Ou uma ou duas taças de vinho nos jantares em família.

Você não pode fazer isso para sempre. Levante-se. Supere.

Dou outro gole na garrafa, esmagando a pequena voz da razão.

Eu estou pouco me fodendo se pareço um viciado. O antigo eu, que não bebia, era um homem diferente – era burro e ingênuo demais.

— Não mais! — berro.

Aqui jaz o Adam Miller que confiava cegamente em qualquer pessoa, que acreditava em amor e que tinha sonho de construir uma linda casa com um imenso jardim, onde duas crianças correriam pela grama, enquanto brincávamos com bolhas de sabão e a minha esposa sorria da varanda.

Um paraíso. Uma família perfeita.

Viro novamente a garrafa, precisando me esquecer, antes que as vozes em minha cabeça me deixem louco e a dor em meu peito me mate.

Não que eu ligue.

Seria um bom fim.

Muito melhor do que lidar com as emoções delirantes do ódio e da raiva. Ou ter que suportar a dor visceral da mentira.

Começando a sentir o consolo que o álcool me causa, antes de ser levado para a escuridão, suspiro e faço uma promessa:

— Nunca mais meu coração vai pertencer à porra de mulher nenhuma.


ACORDO COM O BILIONÁRIO: UMA HERDEIRA INESPERADAOnde histórias criam vida. Descubra agora