Capítulo 1 - Lago

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O tempo está nublado. Michéle observa os patos a nadar pelo pequeno lago. O milho que estava em sua mão caí. Só percebeu o acontecido quando uma sombra preta apareceu em sua frente.

      ― Seu milho, senhorita ― uma mão cadavérica estende-se em sua direção.

      ― O-oh ― pega-o rapidamente. ― Obrigada ― desvia o olhar. As pernas começam a sacudir. Os patos haviam desaparecido.

      ― Precisa de algo? Tenho alguns produtos à venda ― um baú aparece à sua frente.

      Michéle levanta o olhar. Uma caixa de música, um anel, um colar, uma boneca de pano, um perfume e um relógio de pulso enferrujado embalavam a superfície do baú. Franziu o cenho: ― por que vende um relógio enferrujado?

      O homem de capa preta pega o relógio em mãos: ― pois esse é uma relíquia. Passou pelos punhos de Faraó até a Rainha Elizabeth II ― é possível distinguir um sorriso malicioso em meio às sombras.

      O cenho de Michéle franze ainda mais. Como que no tempo de Faraó tinha relógio de pulso? E quem é essa tal de Rainha? Este homem está realmente bem?

      ― Não, obrigada ― um sorriso leve transporta-se em seus lábios.

      Mas o homem não reage. Apenas fica parado como estava, segurando o relógio com uma mão e o baú aberto com a outra. Ela dá um impulso para levantar-se, mas um vento forte empurra-a de volta para o banco. O homem abre a boca.

      ― Ah, por que não? Esse relógio é um clássico imperdível, de pequeno valor mas muito importante. Como lhe falei, passou pelos pulsos de Faraó e da Rainha Elizabeth II, grandes governantes. Não deseja ter essa glória também? Se desejar, faço-lhe um desconto - o relógio é erguido na frente de sua visão.

      Michéle olha para os lados e não vê ninguém por perto. Olha para o céu, mais nublado do que antes. Olha para o lago, sem uma sombra de vida marinha. Suspira.

      ― Quanto é? ― Esbraveja.

      ― Para você, são dois francos ― a mão coloca o baú no chão.

      Ela pegou duas moedas do bolso interno de seu vestido e passou rapidamente para a mão cor de leite. O seu mais novo e velho relógio é passado para sua mão.

      O baú some na escuridão da capa surrada: ― Foi um prazer fazer negócios com você - ele estende a mão que segurava o relógio. Michéle aperta-a, sentindo uma queimação no meio da palma.

      Quando o homem finalmente vira as costas, ela coloca a palma quente no peito vacilante. Quem diabos é esse homem? Não faço a menor ideia.

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A MORTE NOS PONTEIROSOnde histórias criam vida. Descubra agora