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Aquela manhã estava sendo de certa forma magnífica, enquanto dirigia sobre as movimentadas ruas de Seul eu refletia sobre todas as coisas que já havia me ocorrido, sobre as decisões que tomei, sobre como um simples ato ou escolha pode interferir em toda sua vida, pensei em todas as minhas escolhas, em todos os meus altos e baixos, enquanto olhava cada rosto desconhecido por mim imaginava cada luta, cada sofrimento que aquelas pessoas carregavam por debaixo de cada sorriso, cada máscara.

Histórias por mim desconhecidas, mas tão reais e vívidas.

Enquanto dirigia ao local que havia marcado com Yoongi, eu olhava cada vitrine procurando por mas lembranças para minha avó, nas vitrines haviam colares, sapatos, bolsas, coisas caras e chamativas o que de certo modo me deixavam triste e enojado.

As pessoas não sabem mais aproveitar as coisas simples da vida?

Assim que chego ao local vejo Yoongi escorado em uma parede qualquer, como sempre o mais baixo estava vestindo suas roupas soltas e sem cores alguma, ele estava segurando uma caixa de porte médio em suas mãos, assim que o mesmo me vê ele abre um grande sorriso e anda em minha direção.

"Está atrasado Kim." Seu tom de voz possuía um certo sarcasmo.

"Você sabe como o trânsito fica a essa hora da manhã."

"Sei bem, mas, aqui está a encomenda que preciso que leve."

Ele disse me estendendo a caixa de cor branca, eu estendo o braços para pega-la, não era pesada e nem leve era apenas normal. Na caixa havia um pequeno adesivo com um destinatário, eu geralmente não sou uma pessoa curiosa, mas ali minha ansiedade me perturbava o subconsciente, e sutilmente acabei por ler a quem a caixa seria entregue.

Jung Hoseok.

"Jung Hoseok?" Indaguei olhando para o mesmo com o semblante confuso.

"Meu amigo." Ele respondeu suave me olhando.

Não me atrevi a perguntar quem era, afinal, já havia invadido muito seu espaço pessoal certo? Ficamos ali conversando por mais algum tempo até que meu celular marcasse que eram exatas 11:17.

Estava deveras atrasado, e também desesperado!

Me despedi de Yoongi rapidamente, logo voltei ao meu carro dando a partida e saindo dali, havia programado tudo para que nada saísse dos trilhos, mas Yoongi tinha uma lábia tão boa que me prendia em suas conversas, as vezes os temas eram sem graça e até mesmo fúteis, mas ele sabia me fazer prestar atenção em tudo que o mesmo dizia. Maldito conhecimento em hein Yoongi!

Eu ia pela avenida dirigindo como um louco, nunca na minha vida atravessaria um sinal vermelho mas já fiz isso umas duas vezes em menos de dez minutos. Eu estava com a cabeça a mil, não poderia perder aquele voo pois somente ele ia para Gwacheon direto, minhas mãos suavam e eu me repreendia mentalmente por tamanha irresponsabilidade.

Cheguei ao aeroporto às 11:38, por sorte consegui fazer meu check-in a tempo, mas tive que pagar a mais, essas companhias áreas só me roubam. Fui diretamente para o meu acento já relaxando ao sentir aquele frio da aeronave, olhei para a janela e via as pessoas entrando parcialmente, eu gostava de notar esses meros detalhes, a empolgação no rosto das crianças, a felicidade de jovens e ansiedades dos mais velhos, era viciante sentir essas sensações.

Não demorou muito para que todos estivessem em seus devidos acentos e as aeromoças começarem todo o procedimento de segurança, assim que a aeronave saiu do seu local e começou a planar meu estomago se apertou dentro de mim me dando aquela sensação que não sei dizer se gostava ou não. Suspirei fundo e olhei para a janela vendo as coisas diminuírem a cada minuto que nos distanciávamos, botei meus fones de ouvido e apertei em uma playlist qualquer, apenas queria relaxar.

O sol batendo no vidro a minha frente, o clima agradável, o silêncio acolhedor e a batida da música em meu interior me fez pensar em diversas coisas até perceber que em minha mente se formava versos de uma música, peguei um pequeno bloco de notas e comecei a escrever.

"I can't explain, it's all going on in my mind"

"I can't say, this problem isn't yours, it's mine"

"But this cold inside my heart, I need a fight but I feel weak"

"I can't deny this is the end of my time"

Os pensamentos que invadem minha mente são os mais leves e pesados possíveis, eu apenas queria entender o porque de sentir isso, essa dor sufocante e ao mesmo tempo inexistente, eu me sentia estranho, incompleto, vazio.

Fiquei ali em meus pensamentos até chegarmos no destino final, assim que sai daquela aeronave fui buscar meus pertences e pedir um táxi, estava ansioso e inquieto, um sorriso que ia de orelha a orelha, olhava os campos e plantações, as crianças brincando, a atmosfera estava calma e leve, respirava fundo sentindo aquele ar puro de campo me sentindo vivo

Assim que o veículo parou em frente a um restaurante de porte médio cheio de pessoas, eu senti aquele cheiro, aquele barulho, aquela memoria tão antiga voltando a tona me trazendo a realidade, eu paguei rapidamente o motorista do táxi e me direcionei ao estabelecimento indo diretamente para a cozinha, tento fazer o mínimo de barulho possível e assim que passo porta a dentro do cômodo vejo a senhora de cabelos brancos de costa para mim mexendo em uma grande panela de barro, estava linda como sempre com suas vestes floridas e seu chapéu de palha, seu avental lilás, exatamente como sempre foi.

Cuidadosamente eu vou até sua direção e coloco minhas mãos em seus olhos, sinto seu susto e logo ela começa a rir.

"Poxa quem poderá ser?" Ela diz enquanto se vira para mim.

"Bom dia vovó!" Eu abro meu braços. "Cheguei tarde demais para o almoço?"

Eu vi um sorriso surgir em seu rosto maduro, seus olhos se fecharem e ela me dar o melhor abraço que recebi até hoje, seu rosto contra o meu peito, sua respiração acelerada, suas mão me apertando fortemente, aquilo me fazia muito bem.

Assim que nos separamos eu vejo seus olhos brilhantes indicando que a mesma estava prestes a chorar e eu não estava tão diferente, eu sorria feito um idiota quando vê seu amor, e eu era mesmo, eu era um idiota apaixonado vendo a mulher me criou até o que sou hoje.

"Achei que tinha se enjoado de mim, nunca mais veio aqui." Ela disse enquanto dava um tapa leve em meu braço, e eu a olho sorrindo.

"Sabe como é o meu trabalho, e além do mais eu nunca me cansaria de ver você!" Indaguei dando um beijo em sua testa. "Eu quero ficar com a senhora até ficar velhinho, quero fofocar com você quando o entardecer vir na sacada tomando uma xícara de café."

"Meu neto querido, deve estar cansado, vou preparar um prato de comida para você, enquanto isso vá descansar e se acomodar." Ela disse me guiando para a casa que ficava na parte de trás do restaurante.

Eu sorri vendo sua empolgação estava cansando mesmo então achei melhor fazer o que ela havia me dito, fui até o quarto que eu sempre ficava e comecei a desfazer as malas, tomei um banho rápido e fui me trocar, vesti uma calça jeans e uma blusa larga branca, um tênis simples e fui até a parte de fora da casa vendo o jardim grande que a senhorinha tinha tanto apego.

Fui caminhando até a parte mais afastada sentindo a brisa fria e gostosa batendo em meu rosto me fazendo sentir um tremor por todo o meu corpo, ali havia duas cadeira e uma mesa, mas o mais estranho era quem estava ali, um garoto de cabelos castanhos claros, estava regando as flores de costa para mim, sua presença me deixou um tanto assustado.

"Olá?" Perguntei o vendo dar um pequeno pulo pelo susto e logo se virar para mim, deixando o regador azul claro cair de sua mão.

"Que susto!" Ele suspirou pesado pondo sua mão no peito.

way for two!Onde histórias criam vida. Descubra agora