Conto 2 - Trens

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O trem balançava e me deixava um pouco enjoada.

Minha mãe sempre avisou sobre ler em trens, mas eu simplesmente não consigo evitar, o livro está na melhor parte!

Ergo o olhar do livro para não vomitar em cima do livro e olho em volta.

Há poucas pessoas, por ser feriado e no meio da tarde o movimento é pouco.
Agradeço mentalmente por isso, lugares cheios me deixam sufocada.

O trem para mais uma vez e eu respiro fundo, quando olho para a entrada do trem vejo um rapaz que parece ter a minha idade. Seu cabelo é acobreado e está sendo quase todo preenchido pelo boné que ele usa, não consigo ver seus olhos por conta dos seus óculos-escuros.

Ele se aproxima e me percebe o encarando.

Nossa, ele é alto, muito alto!

Ele me encara e sua cabeça se inclina um pouco.

Desvio meu olhar e pego o livro abrindo em uma página aleatória. Meu rosto estava quente e eu sentia meu coração bater rapidamente.

Droga! Por que eu fiquei olhando?

Escuto um barulho próximo e abaixo o livro.

O rapaz sentou na minha frente!

Ele encosta o braço na janela e apoia a bochecha encarando a paisagem.

Volto a ler.

— Com licença — Abaixo o livro e o encaro novamente. Sua voz é suave e seu tom é baixo — Sei que pode soar estranho, mas... — Ele limpa a garganta antes de continuar: — Pode me dizer o que achou?

O olho confusa e ele nota minha confusão e ri baixo apontando para o livro.

— Estou com ele na minha lista de leitura e quero comprá-lo, mas não sei se é bom o suficiente e tenho medo de ser só gasto de dinheiro — Dá de ombros.

Sinto meu interruptor ser ligado.

— Tá brincando!? — Digo alto — Super recomendo! É o meu favorito! “O nascer das flores" era para ser destaque número um nas livrarias. Acho que essa é bem a enésima vez que eu o leio, simplesmente amo e é o meu favorito dentre todos — Suspiro apaixonadamente.

Ele sorri novamente.

— Posso ver? — Concordo e entrego o livro em suas mãos — Angel? — Ele lê o meu nome assinado na primeira página e sorri.

Coro violentamente e levo as mãos ao rosto.

— Na verdade, é só um apelido... Meu nome é Angelika. Com "K" — Sorrio quando percebo seu sorriso de lado.

— Angelika? — Balanço a cabeça e dou de ombros.

— Meus pais complicaram a minha vida, sempre que alguém vai escrever, escreve com "C" e eu sempre tenho que corrigir — Reviro os olhos, ele concorda e volta o olhar para o livro.

— Interessante... — Diz com o olhar virado para o livro.

Um tempo depois, ele devolve o livro e ficamos em silêncio.

Coloco o fone de ouvido e apoio a cabeça na janela.

Não sei quando adormeci, mas sei que quando eu acordo vejo meu exemplar de "O nascer das flores" no meu colo e o estranho não está mais na minha frente.

— Devo ter dormido lendo ele — Digo me ajeitando e esfregando os olhos.

Pego meu exemplar e vejo uma rosa marcando a primeira página e a abro sentindo meu coração bater fortemente e meu rosto corar violentamente.

“Não sabe o quão feliz estou por você gostar do meu livro!
Sai de casa hoje no intuito de falar com meu editor para parar com as cópias do meu livro, já que ele não está tendo lucro para mim, pois as pessoas não gostam. Fiquei chateado e até achei minha escrita péssima para alguém ler. Sabe, as pessoas me subestimam por ser um escritor que escreveu um livro sobre poesias românticas, elas acham que eu não consigo "passar toda a essência".
Mas você, Angelika com "K", favoritou meu livro e quando você disse que era seu favorito, não pude deixar de me sentir orgulhoso do meu trabalho.
Muito obrigado por ler meu livro, mesmo ele sendo uma causa perdida.
Muito obrigado mesmo.
Gostei muito da sua companhia hoje e gostei das suas palavras, gostaria de tomar um café comigo qualquer dia desses? Fale com meus editores se quiser.
Vou adorar sua companhia!

Atenciosamente,

Noah Flint."

Meu autor favorito estava na minha frente e eu simplesmente dormi? Por tão injusto, vida!?

Pelo menos ele me convidou para sair!

Estou ansiosa!

Mil E Um Contos Para Serem Lidos E RelidosOnde histórias criam vida. Descubra agora