capítulo 4.

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ー O que?! Por quê?!

Sua colega se levantou com o rosto já em lágrimas, as bochechas vermelhas em susto, raiva e tristeza.

ー Você errou o andamento, está atrasada.

ー Assim como todo mundo!

ー Quer dizer que você quer que eu demita todo mundo junto com você?

O salão ficou quieto.

ー Me dê mais uma chance, eu consigo fazer melhor.

O homem desceu do degrau que permanecia para regê-los, com a batuta na mão, pegou a partitura de sua colega e a entregou.

ー É a primeira vez que você toca Tchaikovsky?

ー Não, senhor.

ー É a primeira vez que você toca essa música?

Sua colega espremeu os lábios.

ー Não.

ー Há quanto tempo vocês estão estudando essa peça?

Ninguém queria responder. Talvez por não ousarem, talvez por não quererem admitir que tiveram tempo suficiente para estarem preparados, talvez por não quererem lhe dar razão ou validar seus insultos, mas todos permaneceram em silêncio.

ー Um mês. ー Respondeu So-eun.

Os olhos negros de Lee Soo-hyuk pousaram sobre os seus, e com confiança ela os segurou, absortos em sobriedade e sensatez.

ー Um mês. ー Ele repetiu. ー O concerto de meio de ano é daqui a dois meses e vocês estão tocando essa música há um mês. O andamento das segundas vozes não está nem parecido com o escrito nessas linhas. Quanto tempo mais você quer que eu espere para que você acerte isso?

Lee Soo-hyuk caminhava entre todos, esperando uma solução que ele sabia que não viria.

ー Pegue suas coisas e saia.

Caminhou de volta para seu lugar na frente de todos enquanto encarava despreocupado o livro de partituras de sua colega. Esta, de cabeça baixa, desapareceu diante dos olhos de todos na direção do camarim. Sem despedidas ou abraços, não havia sequer tempo para lamentar a saída de um membro. A batuta na mão do tirano estava logo de pé, sua face expressava ansiedade para que todos posicionassem seus instrumentos, e assim todos o fizeram. So-eun não sabia o que pensar. Um mês para algumas peças era muito pouco, mas no mundo da música clássica você precisava quitar essas expectativas. Expectativas essas que muitas vezes eram inumanas. Esperavam que humanos aprendessem peças longas e tocadas perfeitamente, mas ignoravam o fator humano. Aspectos emocionais, psicológicos, sociais. Coisas inseparáveis do ser humano, mas que eles esperavam que fossem ignorados. Como se musicistas não tivessem uma vida fora da música. E na verdade, era isso que eles queriam. Que eles vivessem plenamente e somente para a música. E mesmo que So-eun amasse este mundo, sabia que isso era impossível. Tudo que é demais torna-se exaustivo. Mesmo ela, que passava horas tocando sem notar a diferença de um minuto para trinta, precisava de descanso, precisava de um tempo sem notas na sua cabeça, sem cordas para sentir, sem um arco para controlar, sem uma disciplina para manter. Viver de música era diferente de respirar música. Seres humanos não respiram nada além de ar, o resto é opcional. Logo, a música podia ser muita coisa, mas não poderia e nem deveria ser a única coisa pela qual alguém existe.

Contudo, será que precisava chegar a esse ponto? Demitir alguém de modo tão desleixado. Como se todo o esforço dela não valesse nada. Será que precisava expor assim? Humilhá-la, não dar tempo nem mesmo de seus colegas a confortarem. So-eun não podia imaginar que mesmo com toda a sua dedicação, as horas que todos eles passaram na faculdade, aguentando os abusos dos professores, apenas validaria que eles aguentam tal tratamento para que os futuros superiores fizessem o mesmo depois. Aguentaram, mas a que preço? E por quanto tempo mais conseguiriam? Este também cobraria o valor mais tarde? Como seria? Quando seria? Tocaram. Repetiram várias vezes. Ouviram mais comentários desagradáveis. Repetiram de novo. E mais uma manhã passou com costas doendo, dedos latejando, cabeças girando e pulmões cansados. So-eun estava guardando seu violino no estojo quando ouviu a voz grave perto de si.

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