Sanches
Coloco o cabelo dela por trás da orelha, ouvindo ela falar comigo sobre a viagem dela, desço as mãos pra cintura e cravo minha visão pra frente, vendo o carro que o Eziel foi levar a Tiana, subir de novo, entrando na rua da minha casa. Volto a olhar pra Mirian na minha frente, escutando ela ainda falando sobre o iphone que ela quer.
Eu: Vou mandar levar, se der pra comprar hoje, eu compro - seguro no rosto dela, dando um beijo e outro no cantinho da boca, ouvindo ela rir - Quer mais o que? - ela nega e eu estreito os olhos - Nada? Te mandei embora pra ir lá em baixo, só não mandei subir de novo, porque tava ocupado, escolhe outra coisa pra eu te recompensar.
Mirian: Quero mais nada não, só isso mesmo - ela segura no meu pingente e eu desvio o olhar pro lado, focando no Eziel com uma perna fora do carro - Lembrei, queria um tênis igual aquele outro, que você tava hoje de manhã - eu resmungo baixo, olhando a movimentação lá na esquina - Ouviu? Um tênis personalizado da Tiana.
Eu: Pede outra coisa, aquele não - ela me olha por cima e eu nego com a cabeça, soltando a cintura dela pra passar a mão na boca - Te disse que não ia te dar um tênis daquele, não vou tá justificando, se quiser um, tu pode comprar, mas de mim não vai ter - falo baixo, vendo ela assentir - Tô falando na calma pra tu entender melhor, sabe como funciona comigo.
Mirian: Eu sei, Sanches - ela se afasta um pouco, olhando pra amiga e eu cruzo os braços - Sei das regras, sei que você não gosta de insistência, também tô ligada que não posso aparecer, sem você saber - eu confirmo, sentindo falta do meu chiclete - Só vim aqui, porque esqueci a bolsa que nem é minha, é da Paula, mas não venho sem te avisar e não mando mensagem também.
Eu olho ela falando baixo e só confirmo, não rendendo muito assunto. Gosto de ser muito claro nas minhas palavras, é isso ou aquilo, não tem mais, nem menos. Uma coisa que eu sempre deixei claro é o funcionamento disso aqui, não gosto que fique mandando mensagem, até porque eu nem sei mexer no celular e nem preciso na cadeia. Mas tenho regras quanto a isso também, não quero que venha na minha casa sem me avisar, eu me envolvo, mas imponho limites, tenho compromisso com ninguém.
Pior coisa é gente no pé, então é na conversa que se resolve, nenhuma delas age como se fosse minha mulher, porque eu não dou palco pra ser, trato bem, porque eu sou desse jeito, é só não confundir as coisas. E se quiser cantar como se fosse minha mulher, eu corto na hora, é obrigado pelo tempo comigo e tchau, como fiz com a doutora.
Eu: Certinho, é isso e acabou, só não leva pro coração, falei uma vez e tu não se tocou - ela dobra a blusinha na barriga e eu chamo o Eziel - Como foi lá? Tudo tranquilo ou a princesa foi falando muito?
Eziel: Falou nada não, muito na postura - ele ajeita a camisa vermelha nos ombros, voltando a mão pra cintura ignorante - Só deu ruim lá na rua, tá cheio de gente apoiando ela, doutora tá corrida da favela e nem sabe, no mais é só isso mermo.
Eu olho e franzo meu rosto, foi uma confusão do caralho, nunca vi tanta gente pra apoiar briga de ninguém, botar lenha pra queimar é o que mais tem, mas ali era só gente apoiando a Tiana e a amiga dela. Sorte que eu tô calmo, se fosse antigamente eu nem conversava, pra começo de história eu nem descia, se eu sou patrão, a coisa boa de ter esse status é não botar a mão na massa, eu mando fazer e só espero a ligação.
Quem tem dinheiro, não trabalha.
Papig: Cuidado pra não cair, Paula Tejano! - ele grita em cima da pedreira, pulando a pedra grande com o fuzil na mão e a amiga da Mirian dá risada - Tá tranquilo, esqueci que vaso ruim não quebra.
Paula: Fala muito, Papig! - ela sorri, ajeitando o cabelo ruivo, olhando pra mim - Nem rendo, porque eu tenho postura pra lidar com suas gracinhas - ele grita, rindo dela - Sou diferente das iguais.
