Sanches
Apoio os dois cotovelos no parapeito da varanda do hotel, olhando a pista larga e o mar mais a frente. Trago o baseado até a boca, batendo os dedos no ritmo da música baixa, que toca dentro do quarto e fico olhando o carro da polícia rondando o Fasano de 5 em 5 minutos. Me inclino pra frente, vendo o Eziel aparecendo na entrada do hotel, gritando pra eu ouvir daqui.
Eziel: Se tu descer é só pra ser preso, patrão - ouço o eco da voz dele e os três carros passam de novo - Vazaram algum bagulho por aí, tá tudo fudido na medida do possível, mas é fé.
Eu: Daqui a pouco eles vão embora, tem problema não - falo mais alto, sentindo o vento frio da noite e a música chega numa partezinha boa - Só não aceito ser preso no Fasano e não ter cobertura da prisão, aí fica feio pra mim.
Papig: Tu vai ver a cobertura da prisão, vai brincando mermo - passo a mão no bigode e dou risada, olhando pro mar - Tino Júnior vai te destruir na mídia, patrão.
Ouço as risadas lá em baixo e seguro o baseado entre o dedo indicador e médio, sentindo a onda batendo desde que eu fumei com a princesa. Acompanho os carros da polícia passando e respiro devagar, sentindo o cheiro do mar batendo aqui, misturando com o cheiro do meu baseado. Minha calma é essência, mas a verdade é que o Sanches não é nada sem o chiclete e a maconha dele, são os meus segredos de paz.
Olho por cima do ombro, vendo a Tiana deitada na cama, tá assim desde que saiu do banho, eu nem falei nada ainda, tô só dando um tempo aqui fora, enquanto ela tá deitada, ouvindo a música que ela colocou. Vejo a bunda grande pra cima e foco na marquinha do biquíni dela, que eu acho linda, gosto mais dessa que da outra que faz com fita. Ela coloca as duas pernas pra cima e fica balançando até bater na papada da bunda.
Papig: Patrão, é melhor tu entrar até eles irem embora, porque tá só aumentando o número de viatura, papo reto - olho pro outro lado da via, vendo as três viaturas com o giroflex ligado - Alguém denunciou ou te viu passando, porque tá cheio de viatura e é busca.
Eu: Relaxa, aqui dentro não dá em nada não, no máximo um policial sobe, mas tá tranquilo - me inclino sobre o parapeito, vendo ele, Eziel, Fontes e W7 lá em baixo - Qualquer coisa, eu chamo o jatinho e vou embora lá pelo terraço do hotel, só assim, porque de moto não dá.
Sinto o vento gélido batendo contra o meu corpo e me arrepio todo, mas fumo pra aquecer o corpo e a mente, enquanto escuto a música que a Tiana colocou. Parece música de maconheiro, pelo menos a sensação que passa é essa, a calma é o que mais me prende na música.
Mas tudo porque eu gosto de sentir o gosto
Da gente brindando muito e dividindo pouco
Eu, sagitariano e ela, escorpiana
Ela bate e ama, ela toca e mama
Era pra ser mais um romance, mas nós dois faz drama
Antes da parte do pornô que a gente faz na camaBato na ponta do baseado, tirando as cinzas e tiro os cotovelos do parapeito, olhando pra pista pela última vez. Só agora tá caindo a ficha de como vai ser minha vida a partir de hoje, fugindo até o dia que não der mais.
E o mais sinistro é que tu sabe que elas me quer
E eu sei que eles te quer, mas nós dois só se quer
Cantando a nossa música, transando num hotel
A gente chora, porque eu preciso ir embora
Me chama de bebê, que hoje eu vou beber a água do seu corpo e a gente vai começar tudo de novo...Chego no quarto com as luzes desligadas, só tá iluminado pela lua lá fora, mas dá pra enxergar tudo aqui dentro. Olho pra Tiana mexendo na pulseirinha no braço dela e me deito na cama, vendo ela fechar os olhos, virando o rosto pro outro lado.
