Como a minha vida virou de cabeça para baixo tão rápido assim? Quer dizer, eu tinha tudo, um casamento incrível e um marido maravilhoso, uma menininha linda que tem os olhos do pai dela. Em poucos meses tudo desmoronou, a última coisa que me sobrou, acabou sendo meu trabalho, é nisso que estou concentrando todos os meus esforços, na tentativa esperançosa de não surtar ou entrar em uma crise existencial, eu simplesmente não posso deixar o sentimento de culpa ou impotência me consumir. Mas como dizem, nada nunca está tão ruim que não possa piorar, não é mesmo?
Estacionei meu carro na porta de entrada da empresa, parei e suspirei, mais um dia de trabalho, coloquei alguns fios de cabelo bagunçados em seu devido canto, o horário era mais cedo que o habitual e eu estava mais arrumada do que de costume, teremos uma reunião bem importante com o presidente da empresa.
- Bom dia, senhora Grayson - O porteiro disse em um tom de simpatia anormal, deve ser pela visita que teremos mais tarde
- Olá, bom dia - Falei sorrindo para ele enquanto passava pela recepção, todos ali ainda me chamam de senhora, engulo seco sempre que escuto
Passei pelo espelho olhando se estava tudo certinho, meu scarpin preto, calça pantalona também preta e uma camisa branca social. Entrei na sala de reuniões, quase todos estavam ali presentes, dentre eles, Jensen Huang, o presidente da Nvidia Corporation. "Senhora Grayson", me cumprimentou à distância, sorrindo e acenando com a cabeça. Sentei em minha cadeira enquanto esperávamos pelo início da reunião. Minha mente se perdia em meio aos milhares de pensamentos que me bombardeavam, todos eles sobre Nate, meu ex-marido, enquanto isso eu perdia os detalhes daquela reunião, mas sabia exatamente do que se tratava, seremos os novos patrocinadores da equipe de Fórmula 1 Scuderia Ferrari. Na verdade, nós seremos os maiores patrocinadores que eles tiveram em toda sua história e claro que com todo esse dinheiro, vem também as regras para usufruir dele.
- Maya, você será responsável pelos pilotos - Falou umas das assistentes de Jensen, ela quem estava distribuindo as funções de cada um
- Mas responsável em que sentido? - Eu perguntei olhando diretamente para Jensen, preciso entender melhor o que querem de mim
- Bom, eu darei 200 milhões a eles. Fora dezenas de outros benefícios e vantagens... só cuide para que os dois não manchem o nome da minha empresa - Jensen respondeu
- Eu serei a babá então? - Eu questionei ele, mesmo sabendo a resposta, pensando em como achei que as coisas não tinham como piorar mais
- Sim, querida, você será a babá deles, se assim você quiser chamar - Me respondeu em tom de sarcasmo a assistente que distribuía funções
Eu tinha saído do meu último trabalho por um motivo muito parecido com esse, sempre trabalhei com relações públicas e sou uma das melhores, mas com o casamento, uma bebê, uma casa.. as viagens, as festas, os eventos não cabiam mais na minha vida e por isso acabei me mudando pra cá e aceitando esse trabalho, na esperança das coisas serem mais tranquilas e realmente estavam sendo, até esse momento. E estou voltando a tudo isso novamente, quero dizer, eu terei basicamente que acompanhá-los em tudo, principalmente nas corridas. Minha mente se perdia outra vez em pensamentos, mas dessa vez sobre como ser babá de pilotos vai complicar mais ainda minha vida. Mais três pessoas receberam funções de acompanhar a equipe, mas em outros setores.
- Bom, os pilotos, o chefe da equipe e mais alguns funcionários estão vindo nos visitar e conhecer, acho que devem estar chegando - Falou Jensen, dando por encerrada a reunião
Jensen sempre se mostrou ser alucinado pela Fórmula 1, principalmente pela Ferrari, ele tinha até mesmo um carro de corrida na sala de estar da sua casa, então não era uma surpresa nenhuma para nós ele está patrocinando com um valor tão alto assim. Eu escutava as pessoas comentando entre si animadas e empolgadas com essa nova parceria e eu só conseguia pensar em "ótimo, porque não trocam de trabalho comigo então?" Levantei e caminhei até a porta, deixando todos ali para trás, precisava de ar puro. Minha mente estava em modo automático, simplesmente estava seguindo para sair da empresa.
Puxei uma das portas no exato momento em que um cara empurrou, ele estava distraído conversando animado com outro alguém que caminhava um pouco atrás dele, não deve ter me visto, mas com a força que eu puxei e que ele empurrou, a enorme porta de vidro atingiu diretamente minha testa. Com o impacto dei dois passos para trás e por estar de salto alto acabei caindo de bunda no chão, eu sentia um líquido quente escorrer pelo meu rosto.
- Que droga! - Eu xinguei levando a mão ao rosto e constando que era sangue, minha cabeça doía e eu não conseguia olhar pra quem me atingiu- Eu te ajudo, vem.. - Falou uma figura de vermelho que surgiu em minha frente, me estendendo a mão
Não pensei duas vezes, apenas aceitei a mão que havia sido estendida para mim, minha visão estava borrada e eu não conseguia ver quem era, ao mesmo tempo que me estendeu uma mão, a outra veio em minha cintura me dando apoio para levantar. Minha cabeça doía e imagino que devo ter apagado ou simplesmente não lembro como acabei no ambulatório da empresa, eu não lembro de ter entrado ali, nem mesmo de ter andado até ali.
- O que aconteceu? - Eu perguntei ainda meio área, sem ter muita noção do que estava acontecendo, estava apenas eu e o médico ali
- Parece que você sofreu uma concussão leve pela pancada, não deve ser nada demais - O médico disse tentando me tranquilizar
- Que pancada? - Eu perguntei mais uma vez, talvez assim ele entende que realmente não sei o que está acontecendo
- Bom, você estava saindo, alguém estava entrando, a porta te atingiu em cheio e cortou um pouco sua testa, levou alguns pontos, mas acredito que não vá ficar nenhuma cicatriz - Ele explicou a situação
- Pode me dar algo para dor, um remédio ou algo assim? Parece que minha cabeça vai explodir - Eu questionei enquanto tocava de leve minha testa que estava inchada
Ele me deu alguns comprimidos e um pouco de água, prontamente tomei todos e continuei sentada ali, eu não sabia quem tinha me atingido com a porta, como eu tinha vindo parar aqui, deu um branco na minha mente. Minha camisa branca tinha pequenas manchas de sangue... então o vermelho do sangue automaticamente me lembrou da Ferrari, eles estão vindo pra cá ou estão aqui, eu deveria acompanhá-los na visita pela empresa. Forcei um pouco para levantar da maca, mas não deu certo, minha bunda doía e minha mão também, talvez pela queda.
- Oi - Escutei uma voz masculina e levantei um pouco a cabeça procurando pelo dono, um homem moreno, de cabelos pretos e olhos castanhos, um dos pilotos da Ferrari
- Oi, Carlos - Falei enquanto tentava mais uma vez levantar para cumprimentá-lo da maneira certa, mas não tive sucesso
- Pode continuar sentada, tudo bem.. - Carlos disse, minha cara de dor deve ter me denunciado - Foi um tombo feio, você está bem?
- Foi você? - Eu questionei apontando para testa, que eu não tinha visto ainda, mas realmente deve estar bem feio - Estou bem, só um pouco de dor, mas nada que remédios não resolvam
- Não, eu não. Charles quem te deu esse presente de boas vindas - Carlos disse dando uma risada e eu o acompanhei - Ele pediu desculpas, disse que sente muito, mas não pode vir aqui
- Fale para ele que está tudo bem, nada demais - Eu disse dando um sorriso sincero
Carlos se despediu simpático, saiu da sala deixando a porta entreaberta. E de novo eu penso "quando eu acho que as coisas não podem piorar, elas simplesmente vão e me mostram que podem sim, elas sempre podem piorar, melhorar talvez não, mas piorar sim". Continuei sentada e coloquei uma pequena bolsa de gelo que o médico havia deixado ali para mim.
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Money Rules | Charles Leclerc
FanfictionMaya Grayson, americana, 28 anos e diretora de relações públicas da Nvidia Corporation, a mais nova e maior patrocinadora da Scuderia Ferrari. E além de lidar com seu divórcio recente, Maya terá que ser babá de dois pilotos de Fórmula 1, pois a emp...