A vida se faz
Em vermelho,
Na tenuidade das linhas
Dos caminhos contornados,
Pois o viver se satisfaz
Sem rumo, sem conselho,
Da tua voracidade, da minha,
De todos os apaixonados.
Quando é vermelho que contorna,
O pintor tende a borrar
E, onde se amaria,
Diversos amores são manchados.
Vermelho é limite que torna
Ilimitados os desvios para beijar,
Borrar os lábios dos mais bem amados
E formar a cor da selvageria
Nos corações mais bem aventurados.
A cor saltitante
Se destonifica
De linha em linha,
Porque o seu rastro não limpa.
Com tom exuberante,
Pinta-se.
De corpo em corpo,
a exuberância caminha,
Desimportando-se
Com tudo que a sinta.
Picante.
Ao invés de amar, arde
E degrada os tecidos tingidos
Pela chama rastejante.
O amor se faz
Em vermelho,
Mas faz-se tarde
Com os tons perdidos,
Com sua cor deixada
Naquilo que nunca pode pintar.
Assim, amar,
em cinzas se desfaz
E cultiva beijos num terreno baldio,
Pela cor, esquecidos,
A mesma apagada
Com a qual me tingiu.
