Shades of Cool

01 - Carmen

O rosto angelical de um jovem rapaz, com os lábios rosados e sobrancelhas finas, repousa sobre um macio travesseiro revestido por uma fronha branca de algodão. Seus cabelos lisos e pretos refletem o brilho reluzente da luz do Sol que os tocam devido a uma janela aberta do outro lado do quarto. Sua face toda iluminada é um deleite visual para o homem, em pé ao lado da cama, que o observa com paixão, admirando a beleza do rapaz que dorme tranquilo como se não houvessem problemas no mundo. O homem, nitidamente mais velho que o moço, põe os joelhos no chão. Ainda de frente para o jovem, começa a acariciar o rosto do amado que se encontra completamente nu sobre a cama. Seus dedos exploram o rosto perfeitamente desenhado do menino, sentindo a respiração quente que sai de suas narinas.

Sentindo os dedos percorrerem o seu rosto, o rapaz lentamente abre os olhos revelando suas íris castanhas, dando um sorriso fingido para o homem de ombros largos em sua frente, com uma enorme quantidade de pelos no peito e uma barba rala no rosto, aparentando ter entre trinta e cinco a quarenta anos de idade. De imediato o homem, com um sorriso sincero, dá um selinho rápido no rapaz, deixando uma de suas mãos sobre o rosto dele e a outra sobre a barriga seca.

— Bom dia! — Fala o mais velho com uma voz grave e mansa. — Você estava dormindo como um anjo.

O rapaz então olha em sua volta, ainda deitado, observando o quarto branco de hotel onde passou a noite com o desconhecido do qual não consegue mais lembrar o nome. Do outro lado, em frente aos seus pés, consegue ver os prédios vizinhos através da janela aberta.

— Eu não queria te acordar — o homem continua —, mas daqui a pouco tenho que sair para trabalhar.

— É, eu também. — O rapaz se prepara para levantar e o homem fica de pé e se afasta um pouco, dando espaço para que o rapaz se levante também. Ele, no entanto, apenas senta na borda da cama, deixando seus pés tocando o chão. — Que horas são?

— Horas insuficientes para brincarmos um pouco mais, infelizmente — o homem lamenta. — Fique a vontade para usar o banheiro. Já fiz o que tinha que fazer lá. — Ele então rodeia a cama, pegando suas roupas no chão, misturadas com as roupas do jovem amante. Ele se veste enquanto o rapaz se levanta para ir ao banheiro.

O jovem fecha a porta e de imediato vai para a frente do espelho, se observando. Ele solta um bocejo e abre a torneira da pia, lavando o seu rosto em seguida. Ele não demora para finalizar suas necessidades fisiológicas, logo saindo do banheiro e encontrando o homem já totalmente vestido com uma camisa social branca, que ainda sorrindo agradece:

— Sei que não fazia parte do seu plano, mas obrigado por dormir comigo essa noite, Kevin. — O homem se aproxima do rapaz com cédulas na mão. — Aqui tem um bônus para você por esse favor, como prometido. Sou um homem de palavra e agora você está sabendo. — Ele põe o dinheiro na mão de Kevin que o pega com certa rapidez, se sentindo recompensado pelo seu trabalho.

O homem dá outro selinho em Kevin, o abraçando com força. O mais novo então veste uma regata preta sem estampa, certificando que o dinheiro e o celular estão bem guardados nos bolsos da calça que veste logo em seguida. Eles saem do quarto e entram no elevador.

— Obrigado por ter oferecido a carona... — Kevin hesita ao tentar lembrar o nome do homem, mas rapidamente desiste e continua a falar sem que o mais velho perceba o esquecimento. — Mas irei pegar o ônibus mesmo.

— Você tem certeza? Não será incômodo algum para mim te dar uma carona. Será um prazer, na verdade.

— Tenho certeza — Kevin rapidamente confirma e fica aliviado quando o elevador chega depressa ao térreo.

Em frente do prédio eles se despedem com um aperto de mão. Com os olhos brilhando e um largo sorriso no rosto, o homem, ainda encantado, se despede de Kevin que retribui com um sorriso contido.