Gotas de saudade

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A saudade do que há

Só doerá quando houver.

Dói agora,

Mas não pela falta do que há,

Que haverá enquanto eu aqui estiver.

Dói porque aqui mora

Tudo que perdi enquanto lá.


A lembrança

Do que quase foi esquecido,

A esperança

Do que poderia ter sido,

Goteja-me agora

No sentido da chuva,

Aquela lá fora

Que já não me alcança.


Desesperançosa,

A chuva não é só pra se molhar;

Faz crescer o que a suga

E escorrer o que a impenetra;

Fez-me esperar

Pelo crescimento que madura

Cada pensamento porvir;

Pelo escorrimento que secreta

A primeira lágrima

Que imerge cada sinal do sorrir.

Mas sem, de mim, cobrar

Uma gota sequer.

A todos molha como eu

E não apenas a quem quiser.


E a chuva, em seu infinitivo,

Trouxe-me a gota saudosa

De quando meu sorriso era conjugado,

Pois chover é impessoal,

É força do intuitivo.


Intuição de força gasosa

Que chove partículas do meu eu ramificado,

Pois meu eu é conjugal:

Ramifico-me no que sou e no que era antes de ser;

Se sorrio é temporal,

Desolada se não chover;

Ramifico-me em risos e secas

E o que serei

Escorre-me, água que sobra.


Se sorri, não sorrio e não sorrirei;

A saudade me goteja;

Minha chuva, hoje, é lágrima,

É a gota que me alcança, a única que, de mim, cobra

E apenas essa.

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⏰ Last updated: Nov 29, 2023 ⏰

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Gotas de saudadeWhere stories live. Discover now